Imagem de notas de 100 dólares norte-americanos na sede do Korea Exchange Bank, em Seul (Jo Yong hak/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2012 às 09h45.
São Paulo - O alvo do governo para evitar a valorização excessiva do real, desta vez, foram as operações de Pagamento Antecipado (PA), um dos instrumentos pelos quais os exportadores financiam suas atividades. Em janeiro último, esse tipo de operação somou US$ 4,8 bilhões, ante US$ 1,8 bilhão no mesmo mês de 2011, segundo os dados de movimento de câmbio disponíveis no site do Banco Central. Em fevereiro até o dia 24, os PA somavam US$ 3 bilhões ante US$ 2,5 bilhões em todo fevereiro do ano passado. Isso despertou as desconfianças da equipe econômica, que está empenhada em fechar todo o tipo de brecha usada pelos investidores que querem especular, arbitrando as taxas de juros externas baixas com as nacionais, que ainda estão entre as maiores do mundo, a despeito das últimas quedas da Selic.
Com a mudança anunciada ontem à noite, horas depois da ampliação da abrangência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para operações de empréstimo externo de prazos até três anos, a partir de agora, o PA passa a ter prazo máximo de 360 dias e a origem dos recursos deverá ser o importador. Contratos com mais de 360 dias ou que tenham origem em instituições financeiras ou outras empresas serão considerados empréstimos comuns e, por isso, pagarão IOF se tiverem prazo de até 3 anos.
"O governo está tentando fechar brechas e evitar a entrada de recursos que não são para exportação. O mercado sempre acha caminhos e o governo está de olho para impedir", diz o economista Sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano.
O operador da Interbolsa Brasil, Ovidio Pinho Soares, avalia que a equipe econômica está acompanhando cada dado que tem disponível antes de tomar as medidas e acredita que esse empenho vai continuar. "Não tenho dúvida de que o BC tem todos os dados e que o governo está fazendo contas para tomar as medidas. Ele não estendeu a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para três anos à toa e também não é à toa essa medida de ontem à noite para os Pagamentos Antecipados. Uma é a continuidade uma da outra", afirmou.
Ainda assim, os dois especialistas estimam que o impacto da medida é limitado, assim como foi a ampliação do IOF ontem. Eles ressaltam que a tendência do dólar é de queda, determinada por uma associação de questões domésticas e internacionais. Enquanto lá fora sobra dinheiro e faltam opções de investimento rentável e promissor, no Brasil as taxas de juro são altas e as oportunidades de ganho são diversas e potencialmente mais rentáveis. Ou seja, além do diferencial de juros que impele entradas de recursos estrangeiros no País, há a expectativa de crescimento econômico maior do que a média mundial.
"O que se está fazendo é tentar reduzir o dinheiro especulativo, mas a maioria dos recursos não é especulativa e o dólar vai continuar caindo. Os investidores não estão vindo só por causa da arbitragem. O País está sendo uma vitrine e vêm investimentos porque os estrangeiros querem vir para cá. O que o governo faz é tentar controlar a antecipação dessas entradas que decorrem das expectativas positivas e que geram bolas de neve com pressão forte de queda no dólar", afirma Soares.
Serrano concorda e acrescenta que "as medidas só amenizam a queda do dólar porque há motivos que são globais". "O movimento é muito forte e é como tapar o sol com a peneira. As ações do governo e do BC controlam um pouco, mas não mudam o movimento do câmbio. Se o investidor ainda está pensando que aqui há vantagens em relação ao resto do mundo ele vem e coloca o dinheiro", disse.