Dólar: moeda fechou a R$ 3,80, menor nível desde 10 de dezembro do ano passado, de olho no cenário político (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2016 às 17h21.
São Paulo - O dólar fechou em queda de mais de 2 por cento e voltou à casa dos 3,80 reais nesta quinta-feira, menor patamar em quase três meses, reagindo à notícia de suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) na operação Lava Jato envolvendo a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dólar recuou 2,20 por cento, a 3,8022 reais na venda, após atingir 3,7767 reais na mínima da sessão.
Trata-se do menor nível de fechamento desde 10 de dezembro, quando a moeda norte-americana ficou em 3,8005 reais. Nas últimas três sessões, a divisa acumulou queda de 5,03 por cento.
"Está crescendo no mercado a aposta de que Dilma não vai terminar seu mandato", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Ele ressaltou, porém, que o quadro é bastante incerto e eventual impeachment pode dificultar o reequilíbrio da economia.
Reportagem da revista IstoÉ diz que o senador Delcídio, ex-líder do governo no Senado, teria feito acordo de delação premiada citando Dilma e Lula, o que poderia aumentar as chances de afastamento da presidente.
Em comunicado, Delcídio disse não confirmar a reportagem e não conhecer a origem ou a autenticidade de documentos apresentados pela revista.
"Se a Lava Jato chegar no Lula, é praticamente certo que o PT não volta ao governo nem em 2018 e isso significa que aumenta a chance de mudança no governo", disse o operador de um banco internacional.
Outro foco importante foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de acatar por unanimidade denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que passa a ser réu em processo ligado à operação Lava Jato.
Operadores ressaltam que o acirramento das tensões com Cunha pode levá-lo a reagir com ataques ao governo. Por outro lado, eventual cassação do mandato do deputado pode arrefecer as tensões entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Alguns analistas ponderaram que as turbulências políticas podem prejudicar ainda mais a situação brasileira e os movimentos do mercado podem estar sendo exagerados.
"(A notícia sobre Delcídio) prejudica ainda mais a atual governabilidade e pode adiar os ajustes fiscais necessários", escreveram analistas do banco JPMorgan em nota a clientes.
A queda do dólar nesta sessão veio também da percepção de que o Banco Central não deve cortar os juros tão cedo, após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic em 14,25 por cento em decisão dividida na noite passada.
A manutenção de juros elevados sustentaria a atratividade de ativos brasileiros, possivelmente atraindo capitais para o país.
Segundo pesquisa da Reuters, a alta recente do dólar frente ao real parece estar perdendo força em meio às promessas de mais estímulo monetário pelos bancos centrais e sinais de estabilização nos mercados de commodities. Analistas esperam que o dólar seja cotado a 4,015 reais em um mês, 4,16 reais em seis meses e 4,25 reais em 12 meses.
Nesta manhã, o BC promoveu mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em abril, vendendo a oferta total de 9,6 mil contratos. Ao todo, a autoridade monetária já rolou 1,402 bilhão de dólares, ou cerca de 14 por cento do lote total, que equivale a 10,092 bilhões de dólares.