Fios de poste: o setor elétrico está sendo sacrificado para ajudar outros segmentos da economia brasileira, dizem analistas (Fabio Luiz A. Silva/ Flickr Commons)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2012 às 19h11.
São Paulo - Os dividendos e as margens das empresas do setor elétrico serão sacrificadas devido à redução das tarifas de energia e antecipação da renovação das concessões que venceriam a partir de 2015.
Isso porque, embora o governo vá indenizar empresas por ativos não amortizados na renovação das concessões, as incertezas sobre esses valores e a real depreciação dos ativos faz com que o mercado veja riscos para os resultados das elétricas, segundo analistas.
"As condições sobre os valores recebidos para ativos não depreciados será fundamental para determinar o impacto sobre as empresas. Notícias de que as quantias podem ter de ser usadas para novos investimentos no setor, em vez de pagar dividendos aos acionistas, poderiam decepcionar", disseram os analistas Felipe Leal e Diego Moreno, do Bank of America Merrill Lynch, em relatório.
Na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou que a tarifa de energia paga pelo consumidor cairá, em média, 20,2 por cento no início de 2013, com a redução ou extinção de encargos sobre a conta de energia e pela renovação antecipada e condicionada de concessões.
No processo de renovação das concessões, o governo promete indenizar as empresas do setor elétrico por ativos que não foram integralmente amortizados. Mas o cálculo disso ainda está sendo elaborado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
"Ressaltamos que as empresas expostas provavelmente terão maiores perdas devido aos testes de depreciação, já que a maioria dos valores desses ativos excedem substancialmente as quantias sendo sugeridas pelo governo", afirmaram os analistas Vinicius Canheu e Adelia Souza, do Credit Suisse, também em relatório.
"Em nossa visão, essas depreciações são problemas importantes, pois devem limitar a capacidade de distribuição de dividendos das empresas envolvidas nas discussões." Ainda assim, empresas afetadas já começaram a se manifestar, com a Cemig afirmando que não tem intenção de mudar seu plano de pagamento de dividendos.
Sacrifício - Para os analistas Gabriel Salas e Pedro Manfredini, do JPMorgan, o setor elétrico está sendo sacrificado para ajudar outros segmentos da economia brasileira.
"A indústria de energia parece ser parte da política do governo de sustentar outros setores da economia, e parece que as margens das elétricas serão sacrificadas para permitir que outras indústrias ganhem competitividade", disseram.
Para os analistas, os principais pontos negativos do anúncio foram a atencipação da renovação das concessões para 2013 e a inclusão de algumas concessões que, teoricamente, teriam direito a uma renovação livre de custos.
"Acreditamos que o mercado não esperava por essa mudança, que aumenta a profundidade e a amplitude das ações do governo na indústria de energia elétrica", acrescentaram Salas e Manfredini.
Os analistas do Itaú BBA também consideraram a inclusão dessas concessões como um destaque negativo para o setor, principalmente para Cemig e Cesp.
"Embora os contratos dessas concessões permitam uma extensão, eles também definem que a prorrogação estará sujeita às condições que serão definidas pelo poder concedente (o governo federal)", disseram Marcos Severine e Mariana Coelho, do Itaú BBA, em relatório.
"Esse é o caso de três usinas hidrelétricas da Cemig, que representam 44 por cento da energia assegurada da companhia. No caso da Cesp, a quarta maior usina da companhia, Três Irmãos, também está incluída nessas condições." AÇÕES As preocupações com os efeitos das medidas no setor penalizou as ações das empresas do setor elétrico na Bovespa, que apenas nesta quarta-feira perderam mais de 14 bilhões de reais em valor de mercado.
O índice que reúne ações de elétricas na bolsa paulista, o IEE, recuou 8,17 por cento.
Segundo analistas, as medidas anunciadas pelo governo sobre o setor elétrico deverão desencadear uma onda de revisões e de recomendações sobre as empresas.