Dólar: pressão externa e interna (iStock/Getty Images)
Rita Azevedo
Publicado em 10 de maio de 2018 às 15h56.
Última atualização em 10 de maio de 2018 às 15h58.
A alta do dólar, que testou R$ 3,60 nesta semana, supera as estimativas do mercado, que previa moeda perto de R$ 3,40 nesta época do ano. A pressão cambial reflete a materialização precoce de riscos externos, como a alta dos juros dos títulos americanos, e domésticos, como o efeito das incertezas eleitorais.
O quadro põe na berlinda os cenários mais otimistas para 2018, leva parte do mercado a questionar o corte dos juros e a sugerir atuação mais incisiva do Banco Central no câmbio.
O mercado achava que o cenário benigno de liquidez abundante no exterior iria durar mais tempo e está sendo surpreendido pelo fortalecimento global do dólar, diz Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e economista do UBS. Volpon vê um quadro similar a 2013, quando o Fed começou a reduzir os estímulos e gerou pressão global no dólar, tendo como resposta no Brasil a introdução da ”ração diária” de swaps cambiais pelo BC.
Fatores domésticos também não estão convergindo para a narrativa do mercado, que embalou as apostas otimistas após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. As previsões eram de que as reformas iam passar, a economia poderia crescer mais de 3% com um câmbio estável e favorecer a eleição de um presidente de centro, reformista. No entanto, a principal reforma, a da Previdência, fracassou e as pesquisas mostram que os pré-candidatos comprometidos com as reformas estão comendo poeira.
Se a pressão cambial externa é consensual, a magnitude do impacto eleitoral é motivo de debate. “Cerca de 90% do impacto vem de fora. O efeito eleitoral ainda é pequeno”, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria. Se a eleição se aproximar sem perspectiva de continuidade das reformas e mantido o estresse externo, o dólar volta para R$ 4,00, diz o consultor. Para Blanche, a forte alta dos preços no atacado registrada pelo IGP-M já reflete o efeito do dólar na inflação e deveria levar o BC a desistir do corte dos juros.
A pressão cambial nesta semana foi impulsionada pelos comentários do presidente Banco Central, Ilan Goldfajn, sugerindo que, como a alta do dólar é um fenômeno global, a inflação corrente baixa no Brasil permite mais um corte de juros pelo Copom da semana que vem. O atual nível da Selic, na mínima histórica de 6,5%, reduziu a atratividade dos ativos brasileiros para os investidores, um dos fatores que também motivam a desvalorização cambial.
O ideal seria o BC não cortar mais, porém, se cortar, “tem de dar o recado de que o balanço de riscos mudou e que esta seria a última queda”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.
O BC “está numa sinuca”, disse Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management. Como sinalizou o corte da Selic, se colocou numa posição que fica difícil voltar atrás. Se não tivesse se comprometido, poderia não cortar. “Agora, não sei o que é pior, voltar atrás ou cortar mesmo”, diz Giufrida. Para ele, a alta do dólar, que começou com a desistência da reforma da Previdência, contamina a economia real.
Para Volpon, mesmo que a razão da alta do dólar seja primordialmente externa, o BC tem de agir aumentando a oferta de swaps e interromper o corte de juros após a redução já sinalizada na semana que vem. “Não importa se a alta do dólar é global, nós temos de cuidar da nossa parte.”
Ainda que a inflação não preocupe, o câmbio pode prejudicar as empresas endividadas, tornar os bancos mais restritivos no crédito e, por fim, prejudicar o crescimento. E baixo crescimento acaba influenciando duas variáveis cruciais: as eleições e os resultados fiscais. “O BC precisa atuar como gerenciador de risco”, diz Volpon.