Rober Iger, CEO da Disney (DISB34) (Disney/Exame)
As ações da Disney (DISB34) estão subindo quase 8% nas negociações pré-mercado da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) desta segunda-feira, 21, após a surpreendente notícia da volta do ex-CEO, Robert Iger, na liderança da empresa.
A inesperada decisão do Conselho de Administração da Disney de substituir o atual CEO, Bob Chapek, ocorreu após um resultado trimestral decepcionante, com pesadas perdas no setor de streaming.
“Concluímos que, à medida que a Disney embarca em um período de transformação cada vez mais complexo da indústria, Bob Iger está qualificado de maneira única para liderar a empresa em um momento crucial”, informou a presidente do Conselho, Susan Arnold, em um comunicado onde salientou como Iger "tem o mais profundo respeito" de toda a diretoria.
Iger, 71 anos, aceitou imediatamente o convite para voltar em grande estilo no comando da gigante. "Estou extremamente otimista sobre o futuro desta grande empresa e emocionado com o fato de o conselho ter me pedido para retornar como CEO", salientou o executivo, que liderou a Disney entre 2005 e 2020, uma temporada que se tornou lendária em termos de crescimento e aquisições bem-sucedidas, como as da Pixar e da Marvel, entre outras.
Iger tinha deixado a gestão executiva nas mãos de seu sucessor, Chapek, permanecendo no cargo de Presidente da Disney antes de sair definitivamente da empresa em janeiro deste ano. No entanto, as relações entre os dois executivos se deterioraram no último período.
Vários altos executivos da Disney souberam da notícia de que Iger estava voltando recebendo um email na noite de domingo, enquanto alguns deles estavam assistindo a um show de Elton John no Dodger Stadium em Los Angeles, que foi transmitido ao vivo no principal serviço de streaming da Disney, o Disney+.
As negociações entre Iger e o Conselho para retornar como CEO ocorreram nos últimos dias. O executivo tinha declarado publicamente em pelo menos duas ocasiões no ano passado que não está interessado em voltar para a Disney. Nos últimos meses, ele se concentrou em investir e assessorar startups, principalmente na indústria de tecnologia.
Chapek, que havia começado a trabalhar na Disney na divisão de parques temáticos, foi vítima da multiplicação de crises e dúvidas sobre sua capacidade de gerenciá-las com eficácia. Algumas foram controvérsias mais políticas do que de gestão. Por exemplo o caso das leis do estado da Flórida contra a ideologia de gênero. No começo, o executivo não quis tomar partido nessa questão, provocando uma revolta entre parte dos funcionários. Em seguida, Chapek decidiu criticar duramente as leis, provocando a reação do governador local, Ron DeSantis, que cancelou os benefícios fiscais dos parques temáticos da Disney no estado, além de receber críticas e até boicotes em parte do público.
Essa falta de decisão deixou todas as partes insatisfeitas e trouxe à tona as dúvidas sobre a capacidade de Chapek de liderar uma marca do calibre da Disney.
Apesar dessas preocupações, no final de junho a Disney tinha renovado o contrato de Chapek como CEO por mais três anos. A própria Arnold, naquela ocasião, tinha chamado o executivo de "líder certo na hora certa", lhe garantindo "total confiança do conselho". Aparentemente, algo deve ter mudado profundamente nos últimos meses, que trouxeram à tona desafios não resolvidos sobre o desempenho da empresa.
Chapek também esteve no centro de outras desavenças sobre o futuro da Disney. Nos últimos meses, o investidor ativista Daniel Loeb, com seu fundo Third Point, assumiu uma participação no grupo e pressionou a diretoria por reformas e uma separação de sua subsidiária esportiva ESPN. Seu pedido foi rejeitado e isso alimentou ainda mais tensões.
A própria divisão de parques temáticos, a primeira liderada por Chapek, acabou no centro da polêmica sobre aumentos excessivos de preços dos ingressos e mau funcionamento das instalações.
A última gota veio com os resultados do terceiro trimestre do ano, com as contas do grupo que perderam força, reportando receitas e lucros inferiores as previsões e marcando um prejuízo de quase US$ 1,5 bilhão no streaming. Um passivo que dobrou em relação aos trimestres anteriores por causa da disparada dos custos e com as dificuldades da nova fronteira midiática após a enorme expansão da época do novo Coronavírus (Covid-19).
Com isso, ações da Disney caíram 41% no acumulado do ano e, no primeiro pregão após a decepção trimestral, chegaram a despencar 12%.
Questionado sobre o futuro, Chapek chegou a prever que o Disney+ será rentável em 2024. Mas essa meta está parecendo muito mais difícil de ser alcançada por causa da piora das condições macroeconômicas nos Estados Unidos e no resto do mundo. Durante a teleconferência com analistas, Chapek pareceu insensível aos problemas apresentado pelos críticos e à necessidade de encontrar respostas. O que foi suficiente para removê-lo do seu cargo.