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Discurso de Powell em Jackson Hole derruba bolsas e joga pressão sobre economia americana

Presidente do Federal Reserve sinaliza que irá controlar a inflação, mesmo que ao custo de maior desemprego

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Mark Wilson/Getty Images)

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Mark Wilson/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 26 de agosto de 2022 às 12h11.

Última atualização em 26 de agosto de 2022 às 13h00.

O discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em participação no Simpósio de Jackson Hole nesta sexta-feira, 26, provocou dura reação nas bolsas de valores, que firmaram movimento de queda.

Índices de Wall Street, que operavam próximos da estabilidade antes da fala do chairman, chegaram mais de 1%, com destaque para o Nasdaq, que foi a 2% de baixa. O Ibovespa, que no Brasil flertava com uma leve alta antes da fala de Powell, seguiu o movimento de Nova York, passando a cair mais de 1%.

Jerome Powell confirmou as expectativas de um tom mais contracionista, traçando paralelo com o ex-presidente do Fed, Paul Volcker, que contornou a alta de preços do fim da década de 1970 ao custo de um duro aperto econômico.

"A bem-sucedida desinflação Volcker do início dos anos 1980 seguiu-se a várias tentativas fracassadas de reduzir a inflação nos 15 anos anteriores", afirmou. "Foi necessário um longo período de política monetária muito restritiva para conter a alta inflação. Nosso objetivo é evitar esse resultado agindo com determinação agora."

Jerome Powell ainda sinalizou que fará o que for para trazer a inflação à meta, mesmo que enfraqueça o "particularmente forte" mercado de trabalho. Segundo ele, "a demanda está excedendo substancialmente a oferta de trabalhadores disponíveis", o que pode aumentar ainda mais a pressão sobre a inflação de salários.

"Sem estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem todos", disse. 

Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, as falas sobre o mercado de trabalho foram um claro indicativo de que o controle da inflação americana passará pelo aumento do desemprego no país, além de ser uma sinalização de que a economia americana segue pujante, apesar do PIB negativo nos dois últimos trimestres.

"Ele quer enterrar a discussão de que a economia está em recessão e já está desacelerando. É impossível estar numa recessão em que o mercado de trabalho está em níveis historicamente apertados", afirmou Kautz à Exame Invest

Kautz também reforçou que a citação de Paul Volcker em seu discurso é um indicativo de que Powell "não quer entrar para a história como um presidente do Fed leniente, que permitiu inflação alta por muito tempo".

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Próximos passos do Federal Reserve

Sobre a reunião de setembro, Powell comentou que a decisão "dependerá da totalidade dos dados recebidos". Sem descartar a possibilidade de mais uma alta de juros de 0,75 ponto percentual, considerada por economistas como altamente agressiva para os parâmetros do Fed, Powell afirmou que "em algum momento, provavelmente será apropriado desacelerar o ritmo dos aumentos". 

A sinalização de que a magnitude da próxima alta de juros ainda dependerá dos próximos números da economia americana, disse Kautz, deve aumentar ainda mais a tensão do mercado para dados como o payroll da semana que vem e o Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) do próximo dia 13.

"O mercado vai ficar agora com uma lupa em cima desses dados. Qualquer número um pouco abaixo ou um pouco acima tem potencial de volatilidade gigante para o mercado daqui para frente", comentou. 

Powell também sinalizou que os juros devem permanecer elevados por mais tempo, contrariando parte das apostas do mercado a taxa poderia cair pouco tempo após atingir o pico. "O registro histórico adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política monetária" disse o presidente do Fed em Jackson Hole.

Apostas ainda dividas para decisão de setembro

Apesar do discurso mais duro em relação ao do fim de julho e das quedas do mercado acionário, as expectativas para a próxima decisão se mantiveram dividas entre mais uma elevação de 0,75 p.p. e uma de 0,50 p.p., que representaria a redução do ritmo do aperto. Nos Estados Unidos, as taxas de juros futuras se mantiveram praticamente estáveis, com 56,5% de chance para uma alta de 0,75 p.p. contra 43,5% para o ajuste mais brando, segundo monitor do CME Group.

Para Kautz, o movimento é explicado pela "desconexão entre o que que cada mercado vinha precificando". " Para o mercado de juros, hoje, foi sem surpresa. Mas para a bolsa Powell pode ter soado mais contracionista em seu discurso."

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