Torcedora da Coreia do Sul durante jogo da Copa do Mundo 2014: "disseram que eu não perderia dinheiro", diz investidora (Chung Sung-Jun/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2015 às 17h55.
Seul - A seleção de futebol da Coreia do Sul foi vaiada e sofreu um bombardeio de doces quando voltou da Copa do Mundo do Brasil em 2014 sem ganhar nem sequer um jogo.
Kwak Hee Soon, uma dona de casa inspirada pelo campeonato a comprar bonds do país latino-americano, também ficou decepcionada.
Kwak gastou 50 milhões de won (US$ 45.230) da sua poupança em bonds soberanos do Brasil em junho de 2013, atraída por yields sem impostos e três vezes maiores do que os de seu país natal e pela especulação de que o país seria impulsionado pelo torneio.
O investimento deu errado, pois o anfitrião não chegou à final, a economia se contraiu durante três trimestres consecutivos e o real afundou mais de 30 por cento frente ao won em meio à depressão dos preços das commodities.
“Foi uma oferta tentadora na época, devido à taxa de juros alta e aos benefícios fiscais”, disse Kwak.
“Estou decepcionada com o resultado. Disseram que eu não perderia dinheiro, a menos que o real caísse. Vou precisar ter mais cuidado da próxima vez que investir em títulos estrangeiros”.
O Banco Central do Brasil elevou sua taxa-alvo em 5,5 pontos porcentuais, do valor mínimo recorde de 7,25 por cento em abril de 2013 para 12,75 por cento, enquanto o país lutava contra uma inflação acelerada.
Esses yields atraíram investidores varejistas sul-coreanos que compraram pelo menos 6,8 trilhões de won em bonds soberanos do Brasil até o fim de 2014, segundo estimativas das sete corretoras da Coreia. A maioria desses investimentos não tinha cobertura contra as flutuações da moeda.
Prejuízos enormes
“Os prejuízos são enormes, embora parte deles possa ser compensada pelo cupom alto”, disse Kim Sang Hoon, analista de renda fixa da Hana Daetoo Securities Co. em Seul.
“Na época, os investidores esperavam lucrar com a taxa de câmbio e com as taxas de juros, já que o real tinha se valorizado frente ao won coreano durante um par de anos, graças ao boom das commodities desde a crise financeira global”.
O real se valorizou cerca de 30 por cento frente ao won nos três anos desde o fim de 2007 até 2010 em meio à alta demanda pelas commodities do país.
Neste ano, sofreu uma desvalorização de 16 por cento frente ao dólar, a maior queda entre 24 moedas de mercados emergentes acompanhadas pela Bloomberg, em meio à preocupação de que o país possa perder o rating de crédito com grau de investimento.
O Brasil tem o grau de investimento mais baixo dado pela Standard Poor’s, que disse em 24 de março que a diminuição do apoio público, a contração econômica e um escândalo de corrupção cada vez maior na Petrobras estão desafiando a presidente Dilma Rousseff.
A S&P estima que a economia do Brasil vai se contrair 1 por cento neste ano antes que o PIB real se expanda 2 por cento em 2016 e 2,3 por cento em 2017.
Salto dos yields
O yield d os bonds soberanos do Brasil com vencimento em dez anos denominados em moeda local aumentou 51 pontos-base neste ano, para 12,875 por cento.
Os bonds soberanos locais da Coreia ganharam 3,6 por cento neste ano, em comparação com um ganho de 1,6 por cento para a dívida local do governo brasileiro, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os bonds soberanos locais da América Latina perderam 4 por cento.
Os investidores da quarta maior economia da Ásia compraram um total de US$ 18,3 bilhões de dívida externa no ano passado, o que elevou as posses para a cifra sem precedentes de US$ 63,3 bilhões.
Os prejuízos sofridos na excursão ao Brasil vão servir de lição, segundo Kim da Hana Daetoo.
“Adotamos uma visão pouco clara das variáveis fundamentais do Brasil”, disse Kim. “Naquela época, existia a expectativa de que a Copa pudesse ajudar a revigorar a economia, mas a Copa prejudicou-a ainda mais. É possível que a economia esteja chegando ao fundo do poço agora, mas em termos de transações, eu recomendaria investir em ações ao invés de comprar bonds brasileiros”.