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'Default ordenado da Grécia levará tensão ao mercado'

Moratória grega refletirá, inclusive, sobre os CDSs - Credit Default Swaps - de países da região

Com default da Grécia, a Europa pode entrar em recessão em 2012, o que pode provocar efeitos colaterais graves à economia mundial (Sean Gallup/Getty Images)

Com default da Grécia, a Europa pode entrar em recessão em 2012, o que pode provocar efeitos colaterais graves à economia mundial (Sean Gallup/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2011 às 09h55.

São Paulo - Um "default ordenado" da Grécia, com corte de 50% a 60% da dívida do país junto a bancos credores, não será um evento trivial e deve provocar ondas de nervosismo no mercado de ativos financeiros na Europa, que inclusive se refletirá sobre os CDSs (Credit Default Swaps) de países da região, afirmou Marcelo Salomon, um dos dois chefes da área de pesquisa para América Latina do Barclays Capital. Para ele, um efeito colateral da crise econômica naquele continente é uma forte retração de crédito no curto prazo.

Se este fato ocorrer, ele destacou que a Europa pode entrar em recessão em 2012, o que pode provocar efeitos colaterais graves à economia mundial, como a desaceleração mais vigorosa da China, com impactos nos preços de commodities e redução dos termos de troca dos países da América Latina. "Nesse contexto, o câmbio no Brasil voltará a atingir entre R$ 2,00 e R$ 2,20, de forma temporária", ressaltou.

Para Salomon, a alta volatilidade nos mercados financeiros internacionais vai durar um bom tempo e não será atenuada logo após a reunião do G-20, que ocorrerá nos dias 3 e 4 de novembro em Cannes, na França.

Segundo ele, desde 21 de julho os líderes europeus tentam, mas não conseguem, encontrar soluções para problemas muito graves do continente, como a reestruturação da dívida da Grécia, a recapitalização de bancos e a proteção de alguns países para que não sejam tomados por uma radical crise soberana, com destaque para a Espanha e a Itália. "Estas questões não serão resolvidas em uma semana", afirmou.

Segundo Marcelo Salomon, somente com a entrada do FMI no aporte de recursos para o auxílio à Europa é que os problemas mais sérios do continente vão ser atacados com velocidade maior. 


A Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) dispõe de 440 bilhões de euros, mas, na avaliação dele, esses recursos não serão suficientes para atender às principais demandas da região: recapitalização de bancos, que pode chegar a 200 bilhões de euros de acordo com o FMI; 200 bilhões de euros que devem ser destinados como garantias para a compra de um trilhão de euros em títulos soberanos da Itália e Espanha, a fim de reduzir seus juros.

Do EFSF, quase um terço já foi gasto com o repasse de recursos para a Grécia (108 bilhões de euros), Portugal (25 bilhões de euros) e Irlanda (16 bilhões de euros). "Ou seja, vai faltar dinheiro. Mas como isso será complementado, se uma eventual ampliação do EFSF precisará passar novamente pela aprovação dos parlamentos dos 17 países membros da zona do euro?", questionou. "A solução mais expressa viria do auxílio do FMI, talvez através da criação de um instrumento de propósito específico", disse o economista do Barclays Capital.

Além da crise na Europa, Marcelo Salomon vê outra frente de potenciais problemas para o mundo no curto prazo com um agravamento das dificuldades na economia dos EUA.

Em novembro, a comissão de assuntos orçamentários vai analisar quais gastos federais poderão ser cortados em 2012. Caso ocorram cortes vigorosos sobre programas sociais importantes, como os relacionados ao seguro desemprego, ele acredita que o PIB do país pode cair 1,5 ponto porcentual no primeiro trimestre do próximo ano.

Hoje, o Barclays Capital estima que a economia norte-americana deve avançar 2,5% entre janeiro e março do ano que vem, mas eventualmente pode diminuir o ritmo e avançar somente 1% no período. "E o Congresso vai lidar com questões importantes de estímulos fiscais num ano que terá eleições presidenciais, tema que já domina o debate político em Washington", disse.

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