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Decisão do Fed sobre taxa de juro pode surpreender, diz André Esteves

Num cenário de crescente volatilidade e juros mais altos, o sócio sênior do BTG Pactual destacou a importância dos agentes de investimento

Esteves: "temos uma geração de analistas e traders que nunca viram juro positivo, pressão inflacionária e política apertada" (BTG Pactual/Divulgação/Divulgação)

Esteves: "temos uma geração de analistas e traders que nunca viram juro positivo, pressão inflacionária e política apertada" (BTG Pactual/Divulgação/Divulgação)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 17h42.

O futuro incerto da taxa de juros americana pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, durante o ano de 2022 será o principal driver do mercado brasileiro. Foi o que afirmou André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) durante a abertura do Summit 2022. O evento, voltado a profissionais do mercado financeiro, foi realizado nesta segunda-feira 21, em São Paulo.

Para Esteves, as decisões do FED no decorrer do ano podem surpreender os mercados e trazer ainda mais volatidade. A perspectiva atual é que o banco central deve subir os juros sete vezes. Há seis meses, os analistas acreditam que a alta no juro seria apenas em 2024.

“Hoje, são esperadas entre seis e sete altas. Muito diferente do Fed ‘dovish’ que vimos na última década. Temos uma geração de analistas e traders que nunca viram juro positivo, pressão inflacionária e política apertada.”

Ele disse que está preocupado com a postura do mercado em relação ao Fed. Segundo ele, os analistas se mostram lenientes diante da possibilidade do aumento de juro.  “O principal debate não é para onde vai a taxa de juros americana, mas em que que velocidade ela subirá. Há um potencial alto de nos surpreender”, acrescentou.

Além da política monetária americana, ele destacou ainda que o mercado será pressionado no curto prazo por dois outros fatores: as eleições presidenciais no Brasil e a tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia.

Sobre as eleições, Esteves afirmou que é esperado uma volatilidade, já que os candidatos têm visões diferentes da política econômica, que trará implicações diferentes para os preços dos ativos. Entretanto, afirmou que a independência do Banco Central brasileiro é fundamental para reduzir a pressão causada pela decisão das urnas. “Nós não sabemos quem será nosso novo presidente, mas sabemos que nos próximos dois anos, o presidente do Banco Central, será Roberto Campos Neto. Isso nos dá uma previsibilidade para o horizonte da política monetária.”

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Sobre a tensão entre a Rússia e Ucrânia, Esteves destacou que traz uma preocupação adicional aos mercados principalmente no médio prazo e que é esperada uma fuga de capital para os Estados Unidos, historicamente um refúgio dos investidores para o risco, o que diretamente, acaba impactando na taxa de juro. “Isso é cortina de fumaça. Não tem nada a ver com os fundamentos.”

Esteves destacou também sobre o cenário inflacionário do Brasil, Estados Unidos e alguns países da Europa. Apesar de a inflação brasileira voltar aos dois dígitos, de 10,5%, ela está dentro do esperado devido ao cenário de pandemia, que atingiu toda a economia em todo mundo. “Nos Estados Unidos, a inflação é 7% ao ano. Na Alemanha, 3%. No Brasil, a taxa em 10,5% é um horror, mas esperado dentro do contexto global.”

Somado a isso, as economias estão enfrentando a chamada ‘inflação verde’, que está relacionada às medidas para descarbonizar a economia, por meio da transição da energia em carbono para renováveis. Segundo ele, isso impacta no preço do petróleo e em outras commodities. “Raramente vimos as commodities no preço máximo ao mesmo tempo. No hight histórico. No médio prazo, isso é positivo para o Brasil: 2022 será um ano recorde de balança comercial.”

Diante desse cenário, Esteves destacou ainda a importância dos agentes de investimentos, que será fundamental para ajudar os clientes, seja pessoa física ou investidor institucional, a rentabilizar o capital ou protegê-lo diante do cenário inflacionário.

“Temos vivido um ciclo razoavelmente reformista que criou uma transformação e uma sofisticação maior na alocação do investimento. Antigamente, não tinha muita dúvida. A receita era aplicar o dinheiro na renda fixa proteger da inflação. Era o mínimo de risco possível. Na hora que os juros se transformam e começa ter uma nova demanda de uma discussão mais sofisticada de como alocar o capital, surge o papel do assessor de investimento. A demanda segue enorme e crescente.”

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