ETFs (Epiximages/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 29 de maio de 2022 às 10h39.
Última atualização em 29 de maio de 2022 às 13h51.
Após a safra histórica de IPOs, uma nova onda de listagem tem tomado a B3: a de ETFs. Foram 10 lançamentos nesses cinco primeiros meses do ano, sendo que desde março do ano passado o número total já cresceu 145% para 76. Considerando os ETFs importados por meio de BDRs, que em um ano passaram de 74 para 125, já são 201 disponíveis na bolsa.
O salto foi possibilitado por mudanças regulatórias nos últimos anos, como a redução de exigências para a emissão de BDRs de ETFs e a permissão para compra por investidores de varejo.
Apesar do crescimento na bolsa brasileiro, é nos Estados Unidos onde os ETFs alcançaram maturidade. São 2.890 listados no país, que juntos fazem a gestão de US$ 7,142 trilhões, segundo dados da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).
Tem ETF para tudo no mercado americano, de causas ambientais aos formados por empresas de setores não tão puritanos, como de bebidas alcóolicas e jogatinas. Mas cada vez mais ETFs temáticos e setoriais têm chegado ao investidor brasileiro.
Um dos ETFs lançados neste ano foi o NFTS11, que replica o desempenho do índice americano MVIS Crypto Media & Entertainment Leaders. A maior posição do ETF é na ApeCoin, criptomoeda associada à famosa coleção de NFTs The Bored Ape Yacht Club, da qual o jogador Neymar adquiriu “peças” recentemente.
O ETF foi criado pela Investo, primeira gestora brasileira totalmente focada nesse mercado. A Investo lançou outros seis ETFs desde o ano passado, com foco em diferentes temas, como o de empresas de 5G (5GTK11) e de videogames e e-sports (JOGO11).
“A ascensão dos ETFs representa um amadurecimento do investidor brasileiro. Ele quer poder escolher em qual tendência da sociedade investir. O ETF é uma forma de fazer isso sem precisar comprar uma ação específica. O ETF já aloca em uma cesta diversificada de empresas ”, disse Cauê Mançanares, CEO da Investo.
Mançanares contou que no centro das propostas de ETFs da Investo está o investidor pessoa física, cada vez mais adepto desse tipo de investimento. Já são mais de 530.000 investidores nesse tipo de produto, mais que o dobro dos 242.000 do fim de 2020.
Mas o crescimento tem sido ainda maior entre os que investem em BDRs de ETFs, os ETFs “importados” do exterior. Eram apenas 245 investidores (contando fundos) com BDRs de ETFs na carteira no fim de 2020. Com a liberação do ativo para pequenos investidores em 2021 e a chegada de novos produtos, esse número multiplicou por 60 para 14.794 - sendo 14.589 pessoas físicas.
BDRs de ETFs permitiram o brasileiro investir de forma diversificada em mercados do mundo inteiro, como o da Índia, Taiwan, Hong Kong, Japão, Europa e em diversos setores dos Estados Unidos. Existe até BDR de ETF que captura o sentimento das mídias sociais sobre determinado ativo, como o BUZZ39.
O ETF BUZZ, criado no ano passado pela gestora internacional VanEck, segue o índice NextGen AI US Sentiment Leaders, responsável por identificar perspectivas positivas sobre determinadas ações nas redes sociais.
Entre os ativos do ETF estão as ações da GameStop, empresa de venda de jogos físicos que se tornou “queridinha” de usuários do Reddit. Mesmo pressionada pela forma cada vez mais digital de comercializar jogos eletrônicos, as ações da companhia acumulam mais de 600% de alta desde 2020.
ETFs temáticos formados por ações de companhias brasileiras também têm ganhado espaço na B3.
Investir em uma seleção de empresas que promovem diversificação de gênero ou nas maiores produtoras de commodities do país, por exemplo, se tornou possível neste ano como os lançamentos dos respectivos ETFs ELAS11 e CMDB11.
Mas isso só foi possível graças aos índices de referência criados pela Teva, primeira provedora independente de índices do mercado local. Até então, a tarefa que nos Estados Unidos é feita por diferentes empresas, como S&P Dow Jones, MSCI e FTSE Russell, era apenas da B3.
“Durante a fundação da Teva, estudamos bastante o mercado americano, onde há muitos ETFs. Mas no Brasil faltavam índices para o lançamento”, disse Gabriel Verea, CEO da Teva.
Para a formação do Índice Mulheres na Liderança, referência para o ETF ELAS11, a Teva utiliza métricas como presença de mulheres nos conselhos e diretoria, com rebalanceamentos trimestrais.
Já com as eleições no horizonte de investidores, a Teva lançou os índices Bolsa Sem Estatais e o Bolsa Com Estatais. Os índices servirão como base dos respectivos ETFs NOGV11 e PUBL11. A previsão é de que sejam lançados no segundo semestre deste ano, aumentando ainda mais a quantidade de ETFs disponíveis e as opções de diversificação para o investidor.