Com medidas de Mantega, arbitragem no Brasil vem dando a maior rentabilidade do mundo (Elza Fiúza/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2011 às 08h38.
Nova York - A taxa de juros em dólar no mercado brasileiro chegou perto do maior nível em 28 meses depois que o governo ampliou a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras em captações no exterior. A alta do chamado cupom cambial está reduzindo o espaço para os ganhos com arbitragem.
A taxa do cupom cambial de três meses saltou 167 pontos-base, para 4,4 por cento, desde 29 de março, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, impôs uma alíquota de 6 por cento de IOF sobre novos empréstimos corporativos e sobre a emissão de dívida no exterior por bancos, segundo dados compilados pela Bloomberg. É a maior taxa desde dezembro de 2008.
A tentativa de limitar as captações no exterior foi a mais recente medida dentro do esforço do governo para conter a valorização de 38 por cento do real num período de dois anos. O avanço do cupom cambial diminui a vantagem de rendimento dos contratos futuros no Brasil, reduzindo o incentivo para a compra de reais com dólares levantados em empréstimos mais baratos na moeda americana. O investimento no Brasil com recursos levantados em países que têm juro mais baixo - a chamada arbitragem - deu uma rentabilidade de 60 por cento desde abril de 2009, o maior no mundo todo nos últimos dois anos.
“O cupom cambial simplesmente foi para as alturas”, disse Marjorie Hernandez, estrategista de câmbio do HSBC Holdings Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “Intervenções tendem a gerar distorções nos mercados e esta é uma delas. O rendimento que os estrangeiros estão recebendo é menor, o que é uma consequência das medidas regulatórias.”
O cupom cambial no Brasil está em 414 pontos-base, ou 4,14 pontos percentuais, acima da Libor, que é a taxa do mercado interbancário londrino. No último ano, esta diferença ficou em média em 180 pontos-base.
Financiamento ‘caro’
Os bancos locais têm lucrado ao tomar empréstimos em dólares no exterior e repassar os recursos no mercado doméstico a juros maiores, aumentando o fluxo de capital que ajudou a fortalecer o real, de acordo com o Credit Suisse Group AG.
O imposto “impede os bancos de ter entradas em dólar de curto prazo”, disse Guilherme Figueiredo, que ajuda a supervisionar US$ 1,5 bilhão em ativos como diretor do M. Safra & Co. em São Paulo, em entrevista por telefone. “Isso está tornando o custo em dólares no mercado local bastante caro.”
O real vem se valorizando há dois anos, em parte porque o juro brasileiro mais alto atrai investidores. O Federal Reserve definiu a meta para o juro básico nos Estados Unidos entre zero e 0,25 por cento, enquanto no Brasil, a taxa Selic está em 11,75 por cento.
O Ministério da Fazenda não respondeu a um e-mail e uma ligação solicitando comentários. O Banco Central não quis comentar o assunto.
“As pessoas vão continuar colocando dinheiro nisso”, disse David Beker, estrategista do Bank of America Corp. em Nova York. “Parece que em um ambiente de dólar fraco, mesmo com a redução da arbitragem, o Brasil ainda está em alta. Parece ser uma boa opção de investimento.”