As taxas dos títulos em dólar com vencimento em 2020 do Cruzeiro do Sul subiram pela terceira semana seguida para 14,33% em 18 de novembro (SXC.hu)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2011 às 08h54.
Rio de Janeiro/São Paulo - A queda de 47 por cento no lucro do Banco Cruzeiro do Sul SA no terceiro trimestre levou a Moody’s Investor Services a cortar a nota de crédito da instituição. Há receio de que a capacidade de captação dos bancos menores seja comprometida com os mercados globais mais contidos.
As taxas dos títulos em dólar com vencimento em 2020 do Cruzeiro do Sul subiram pela terceira semana seguida para 14,33 por cento em 18 de novembro, com o corte na nota de risco do banco pela Moody’s em um nível para Ba3, três abaixo do grau de investimento. As taxas subiram 165 pontos-base, ou 1,65 ponto percentual, desde o fim de setembro, enquanto houve uma queda de 52 pontos-base dos títulos de bancos brasileiros em geral, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Lucros menores e a desaceleração do crescimento do crédito ao consumidor exarcebaram o crescente custo de captação para os bancos brasileiros com capital próprio abaixo de R$ 3 bilhões. O Itaú Unibanco Holding SA e o Banco Bradesco SA, primeiro e segundo maiores bancos privados brasileiros, estão expandindo o crédito consignado, principal negócio do Cruzeiro do Sul, aumentando a concorrência, disse Ceres Lisboa, analista de bancos da Moody’s em São Paulo.
O Cruzeiro do Sul está “num segmento extremamente competitivo e essa concorrência força o banco, que é um banco médio, a se ajustar a algumas condições no mercado que ele não tem capacidade de ajustar”, disse Lisboa em entrevista no dia 18 de novembro em São Paulo. “A mudança nos ratings se deve à questão da sustentabilidade das receitas recorrentes que o banco precisa para se capitalizar e sustentar o crescimento.”
Provisões
O lucro líquido da instituição caiu para R$ 24 milhões no terceiro trimestre, de R$ 40,5 milhões um ano antes, devido a “custos de financiamento” relativos à desvalorização do real, de acordo com um comunicado ao mercado de 14 de novembro. O Cruzeiro do Sul informou que vai contabilizar mais R$ 197 milhões em provisões para cobrir empréstimos não pagos no quarto trimestre à medida que consolida a carteira de crédito.
O real caiu 16,8 por cento no terceiro trimestre em relação ao real, tendo a segunda maior queda entre as 25 principais moedas de mercados emergentes acompanhadas pela Bloomberg.
O lucro do Cruzeiro do Sul pode ter sido ainda pior do que o apresentado porque o banco deveria ter feito provisões para calotes no terceiro trimestre, segundo a divisão brasileira da KPMG Holding AG, que revisou as demonstrações financeiras, em nota em 16 de novembro. O adiamento das provisões aumentou o lucro líquido do Cruzeiro do Sul em R$ 118 milhões nos primeiros nove meses de 2011, de acordo com a KPMG.
Direito creditório
O presidente do banco, Luis Octavio Indio da Costa, disse durante teleconferência com analistas em 17 de novembro que vai transferir o comando de metade dos ativos dos fundos de investimento em direito creditório para o Bradesco, na tentativa de atrair mais financiamento. A decisão vai permitir que o Cruzeiro do Sul levante mais recursos no mercado doméstico, ao aumentar a transparência para os investidores, disse Indio da Costa.
A assessoria de imprensa do Cruzeiro do Sul disse que os executivos do banco não estavam disponíveis para fazer comentários para esta reportagem.
Lisboa, da Moody’s, disse que a agência de classificação de risco está analisando outros bancos que estão divulgando balanço e estão em situação similar à do Cruzeiro do Sul.
Mercados internacionais
Instituições menores estão sendo mais prejudicadas do que bancos grandes pelo desaquecimento da expansão do crédito no País porque dependem de lucros e capital de giro para expandir os negócios. Os bancos maiores ainda têm acesso aos mercados internacionais de crédito, disse José Pereira da Silva, especialista em crédito e professor de finanças da Fundação Getulio Vargas em São Paulo.
O Cruzeiro do Sul depende de emissões internacionais de títulos para 30 por cento de seu financiamento, disse Lisboa. Nenhum banco brasileiro de médio porte emitiu dívida no mercado externo desde 3 de agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg.