Mester reiterou sua visão de que o ritmo de aumento dos juros dependerá do que acontece com a inflação (Brendan McDermid/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 15h11.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 16h04.
A batalha do Federal Reserve contra a inflação, já complicada pelo impacto imprevisível da pandemia, agora enfrenta um provável choque nos preços de energia e outra camada de incerteza após o ataque militar da Rússia à Ucrânia.
Os preços do petróleo dispararam, com os futuros do petróleo bruto dos Estados Unidos chegando a US$ 100 o barril pela primeira vez desde 2014, enquanto os preços das ações caíam com força no pregão americano.
Investidores praticamente descartaram um aumento de 0,5 ponto percentual — maior que o normal — da taxa de juro na reunião de março do banco central americano.
A ferramenta FedWatch do CME Group, amplamente acompanhada, chegou a sinalizar a probabilidade de uma elevação de tal magnitude sendo reduzida para menos de 10%. Uma alta de 0,25 ponto ainda é esperada, com o Fed devendo começar a elevar sua taxa de juro ante o atual nível próximo de zero, estabelecido no início da pandemia.
O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse nesta quinta-feira que a taxa de juro dos EUA deve subir porque "a demanda implícita é forte. O mercado de trabalho está apertado. A inflação está alta e se ampliando".
Apesar dos eventos na Ucrânia, "não acho que você verá muitas mudanças na lógica implícita... Mas este é um território inexplorado, então teremos que ver para onde o mundo vai."
Autoridades do banco central dos EUA começaram a pensar nas consequências antes mesmo do ataque russo. O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que sua equipe tinha começado a analisar possíveis impactos, particularmente qualquer golpe potencial para o investimento empresarial, se as condições globais piorassem.
Poucas horas antes de a invasão ser noticiada, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que, com a inflação dos EUA tão alta e o mercado de trabalho forte, o banco central deveria seguir com as elevações dos juros mesmo com a incerteza de um conflito entre Ucrânia e Rússia.
"Eu realmente não vejo, a menos que as coisas piorem materialmente... que isso terá um efeito" na decisão do Fed de começar a subir os juros em março, disse ela em um evento na quarta-feira em Los Angeles.
Mas as autoridades podem agora ter um pouco mais de cuidado até que a amplitude das ações da Rússia e como elas afetam os preços do petróleo, os mercados financeiros e a economia em geral se tornem mais claras.
A forma como os EUA e a Europa responderão às ações da Rússia também terá consequências, que se somariam ao que poderia causar aos bancos centrais o pior dos dois mundos: inflação ainda mais alta e desaceleração do crescimento.
De fato, o risco econômico imediato parece maior para a Europa do que para os EUA. Formuladores de política monetária do Banco Central Europeu têm nesta quinta-feira um encontro "informal" previamente agendado que pode se tornar uma reunião de gestão de crise.
Ainda assim, a crise ameaça atrasar a resolução de fatores proeminentes que aumentaram a inflação nos EUA, como gargalos na oferta global, que podem manter as pressões de preços altas ao mesmo tempo que prejudicam as perspectivas de crescimento.