A sede do Banco ABC, na Avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 07h52.
São Paulo – Que os conflitos na Líbia estão prejudicando o desempenho das principais bolsas acionárias do mundo, isso já está claro para qualquer investidor. Por outro lado, são poucos os que imaginam o quanto o conflito no norte da África está afetando diretamente uma empresa que tem capital aberto no Brasil.
Trata-se do banco ABC Brasil, especializado em crédito para o chamado “middle market” (médias empresas). A perda acumulada nos papéis preferenciais (ABCB4) da instituição financeira nos últimos quatro dias já totaliza 10,94%. O mercado está receoso com os efeitos da crise sobre o banco por conta da participação do Banco Central da Líbia na instituição.
A autoridade monetária possui 59% do Arab Bank Corporation, principal acionista do ABC Brasil, que detém, por sua vez, 57,3% do capital do banco. Os outros principais acionistas são executivos da empresa com 7,3%, e cerca de 34% dos papéis estão em circulação no mercado. O Arab Banking Corporation ainda tem como acionista o Kuwait Investiment Authority (KIA) com 30% e outros 11% são negociados em bolsa de valores.
Os investidores temem cada vez mais que as tensões na Líbia possam afetar a captação do Arab Bank Corporation no exterior, colocando em cheque os negócios e as ações do ABC Brasil. O nervosismo no norte da África se intensificou nesta semama após o líder líbio Muammar Kadafi afirmar que lutará até “a última gota de sangue” e que não irá abandonar o poder.
As ações preferenciais do ABC Brasil fecharam a segunda-feira (21) com queda de 0,99%, a 13,94 reais. Na sequência, tombaram 4,95% na terça-feira (22), para 13,25, e perderam 2,64% na quarta-feira (23), ficando em 12,90 reais. Para piorar, os papéis terminaram o pregão desta quinta-feira (24) com recuo de 2,79%, negociados a 12,54 reais cada. Na semana, a baixa acumulada é de 10,94%.
“Mantemos o nosso preço-alvo e projeções, embora estamos monitorando mais de perto o movimento do papel do banco diante da crise”, afirma Nataniel Cezimbra, analista do BB Investimentos. Ele acredita que ainda é prematuro promover alterações nas perspectivas da instituição financeira “diante de fatos que ainda devem ter desdobramentos”.
Para ele, a “maior preocupação neste momento é o aumento do custo de funding (captação), decorrente de investidores pedirem prêmio de risco maior, fato este que ainda não ocorreu, mas que impactaria de imediato o resultado do banco”. A recomendação do analista é de compra e o preço-alvo de 19,50 reais, segundo consta no site do ABC Brasil.
Fundamentos
Em resposta solicitada pela reportagem de EXAME.com, a assessoria de imprensa do ABC Brasil inicia seu comunicado (leia o documento na íntegra) afirmando que as “operações (do banco) não estão sendo afetadas pela crise na Líbia”. Segundo Cezimbra, o ABC Brasil manterá em 2011 uma evolução consistente de sua carteira de crédito, estabilidade de sua margem financeira, rentabilidade atraente e melhora do seu desempenho operacional”, explica.
No intuito de afastar os rumores do mercado de que o banco possa ser afetado pelo seu acionista controlador, o ABC Brasil sinaliza que “tem uma posição de liquidez absolutamente confortável, ótima qualidade de carteira de crédito – com 97,9% de suas operações classificadas em AA e C – e que continua desenvolvendo suas atividades normalmente” no País. Sobre as linhas de crédito internacionais, o ABC Brasil esclarece que “a crise no Oriente Médio não afeta” este segmento.
Apesar de controlado pelo BC da Líbia, o ABC Brasil defende-se ao afirmar que “possui acordo de acionistas com o KIA para a gestão do banco, sendo que cada um dos países indica 4 membros no Conselho de Administração. O Arab Banking Corp é totalmente gerido por profissionais contratados no mercado”.
Em relação a possibilidade do Arab Bank Corporation ser afetado pelo BC da Líbia, o ABC Brasil informa que seu acionista controlador “é uma instituição muito líquida”, e cita como exemplo o índice de Basiléia de 23%, além do fato de que o banco mantém ativos líquidos (títulos e mercado interbancário) em aproximadamente 70% dos depósitos totais”.
“A Líbia, apesar das incertezas políticas, é um país extremamente rico e líquido, com aproximadamente 140 bilhões de dólares em reservas e virtualmente nenhuma dívida. Qualquer que seja o desfecho desta crise política, não é razoável supor que tal riqueza possa ser destruída”, finaliza o comunicado do ABC Brasil.
Leia o comunicado do ABC Brasil na íntegra:
O BANCO ABC BRASIL E A CRISE NO ORIENTE MÉDIO
• O Banco ABC Brasil e a Crise na Libia
Nossas operações não estão sendo afetadas pela crise na Líbia. O Banco ABC Brasil é uma companhia aberta, com ações em bolsa, e alto grau de governança corporativa (Nivel 2 de Governaça Corporativa da BMF Bovespa). Desenvolve negócios exclusivamente com
companhias brasileiras. Tem uma posição de liquidez absolutamente confortável, ótima qualidade da carteira de crédito (com 97,9% das suas operações de crédito classificadas entre AA e C). E continua desenvolvendo suas atividades normalmente
• Banco ABC – Crescimento em 2011
A expectativa do Banco é continuar crescendo, conquistando mercado, como tem feito ao longo dos últimos anos. Esperamos para esse ano entre 21% a 25% (guidance) de crescimento da carteira de crédito. Não há mudança de planos. Nosso negócio vai muito bem, com carteira de crédito crescente e de alta qualidade, alta liquidez e bons níveis de retorno ao acionista. O mercado brasileiro continua apresentando ótimas oportunidades de crescimento para bancos como o ABC Brasil, e pretendemos aproveitá-las.
• Linhas de Crédito Internacionais
A crise no Oriente Médio não afeta as linhas de crédito internacionais do Banco ABC Brasil. O Banco desenvolve os relacionamentos internacionais há muitos anos, conseqüentemente suas contrapartes conhecem bem sua atividade (inteiramente voltada à empresas brasileiras), solidez e boa performance.
• Composição Acionária do Banco ABC Brasil
O Banco ABC Brasil é controlado pelo Arab Banking Corporation que detém 58% do total das ações do Banco. Executivos locais do Banco ABC Brasil detém 8% do total das ações, enquanto 34% do total de ações estão em Bolsa. O Arab Banking Corporation é controlado 59% pelo Banco Central da Libia (BCL), 30% pelo Kuwait Investiment Authority (KIA) e 11% ações em bolsa. Apesar de controlado pelo BCL, possui acordo de acionistas com o KIA para gestão do banco, sendo que cada um dos países indica 4 membros no Conselho de Administração. O Arab Banking Corp é totalmente gerido por profissionais contratados no mercado.
• A Líbia e o Arab Banking Corporation
O Arab Banking Corporation é uma instituição muito líquida. Apenas como exemplo, possui um índice de Basiléia de 23%, e mantém em ativos líquidos (títulos e mercado interbancário) aproximadamente 70% dos depósitos totais. A Líbia, apesar das incertezas políticas, é um país extremamente rico e líquido, com aproximadamente US$140 bilhões em reservas e virtualmente nenhuma dívida. Qualquer que seja o desfecho desta crise política, não é razoável supor que tal riqueza possa ser destruída.