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Cresce temor sobre nova diretoria do BC e mercado já especula alta de juro em 2025

Roberto Campos Neto deixa o comando da autarquia no fim deste ano, quando membros indicados pelo atual governo passam a ser maioria

Gabriel Galípolo e Ailton Aquino: diretores do BC indicados pelo atual governo votaram por corte de juros mais forte  (Banco Central/Exame)

Gabriel Galípolo e Ailton Aquino: diretores do BC indicados pelo atual governo votaram por corte de juros mais forte (Banco Central/Exame)

Publicado em 14 de maio de 2024 às 17h27.

Última atualização em 14 de maio de 2024 às 18h22.

Têm crescido as preocupações no mercado sobre os rumos do Banco Central após os diretores indicados pelo atual governo se tornarem maioria no Comitê de Política Monetária (Copom). Entre investidores, inclusive, já se discute a possibilidade de o BC ter de voltar a subir juros no ano que vem, diante da piora do cenário e de uma queda da credibilidade da autarquia.

Os temores aumentaram a partir da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcado pela divisão de votos entre seus membros. Dos 11 diretores, cinco votaram por um corte de 0,25 ponto percentual e quatro, pela manutenção dos cortes de 0,5 ponto percentual (p.p.). Os cinco que optaram por um corte mais brando foram indicados pelo governo anterior e os outros quatro pelo atual.

Na decisão anterior, o BC havia sinalizado unanimidade para a manutenção do ritmo de cortes. Mas, diante da percepção de aumento dos riscos para a inflação, alguns dos diretores (incluindo o presidente Roberto Campos Neto) já vinha sinalizando a possibilidade de o BC ter de descumprir a indicação e reduzir o ritmo de cortes.

Em ata divulgada nesta terça, o Copom justificou a redução do ritmo de cortes pelo aumento das internas e externas, com dúvidas sobre o início da queda de juros nos Estados Unidos e aumento da percepção de risco fiscal, após a recente mudança da meta de resultado primário. A ata ainda afirmou que o principal argumento entre os que defenderam um corte mais forte, era o custo de não seguir a orientação de um corte de mesma magnitude sinalizada na decisão passada, embora concordassem com a percepção de aumento de riscos.

Safra e Itaú falam em possível alta de juro em 2025

"A ata é extremamente hawkish [contracionista]. Está tudo piorando, pensando na inflação prospectiva. Mas quando chega a parte dos votos para 0,50 p.p., indica que a sinalização de mais um corte de 0,50 p.p. era suficiente para tolerar essa piora de cenário. Vai ter uma diferença de condução de política monetária quando a nova leva de diretores forem maioria", afirma Daniel Weeks, economista-chefe do Safra Asset em evento realizado nesta terça.

Bruno Serra, que deixou a diretoria do BC no ano passado, endossou as preocupações sobre os rumos da entidade. "O ciclo de corte de juros está limitado porque o mercado está questionando a credibilidade dessa transição no Banco Central. É natural que isso fosse acontecer", disse Serra em participação no mesmo evento.

Segundo o ex-diretor do BC, quanto mais o Banco Central transparecer a vontade de reduzir os juros, maior é a necessidade de ter de manter mais alto por mais tempo, ou mesmo ter de subir. "É isso que estamos vivendo agora. Podemos ser salvos pelo cenário externo. Mas, se não ajudar, provavelmente vamos ver um ciclo de alta de juros antes de vermos a Selic em um dígito de novo. O grupo novo que assumir o BC precisará conquistar uma credibilidade."

Weeks acredita que os diretores que optaram por um corte mais brando passem a defender o fim dos cortes de juros, enquanto a ala dos novos diretores vote por mais um corte de 0,25 p.p. na próxima reunião. O economista do Safra, no entanto, não vê espaço para novas quedas em 2025, mesmo com os membros indicados pelo atual governo passando a formar maioria no Copom.

"Quem for o novo presidente provavelmente vai assumir com uma taxa Selic de 10,5% ou 10,25%. A questão é que o mercado vai estar pedindo para subir, se a inflação estiver acima da meta. Acredito que esse novo BC será mais lento em reagir [à alta de juro]. Se reagir, será insuficiente e gradual ao longo do ano que vem."

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