Pilha de papéis: entre 2011 e 2013, a participação desses produtos na carteira de tesouraria dos bancos triplicou, passando de 10% para 31% (Divulgação/Imovelweb)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2014 às 09h13.
São Paulo - O mais longo ciclo de alta do juro básico do governo Dilma e a instabilidade no mercado acionário estão atraindo cada vez mais investidores para as letras de crédito. Esses títulos de renda fixa têm o rendimento atrelado ao CDI - taxa das operações interbancárias que fica muito próxima à Selic - e contam com isenção de Imposto de Renda, o seu principal chamariz.
Entre 2011 e 2013, a participação desses produtos na carteira de tesouraria dos bancos triplicou, passando de 10% para 31% do volume aplicado. Os dados fazem parte de levantamento da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
"A volatilidade, tanto na renda fixa como na Bolsa, fez com que os investidores buscassem um porto seguro para as aplicações. E a alta do juro intensificou a procura por produtos atrelados à Selic e DI. No caso das letras, ainda há o atrativo da isenção", afirma o coordenador do subcomitê de dados do varejo da Anbima, Rodrigo Ayub.
Os bancos dependem de um tipo de lastro específico para emitir esses títulos. Como os nomes já dizem, a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) é lastreada por créditos imobiliários garantidos por hipotecas, enquanto a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) é vinculada ao crédito agrícola.
A isenção fiscal concedida pelo governo é uma forma de fomentar esses dois setores da economia. Hoje há no País um estoque de R$ 111,7 bilhões em LCI e de R$ 124,2 bilhões em LCA, segundo dados da Cetip, a central depositária de títulos privados, e da BM&FBovespa.
Mesmo conservadores, esses investimentos são boas alternativas para quem busca superar a rentabilidade da poupança, especialmente em um cenário de alta de juros. Mas o pequeno investidor encontrará uma série de entraves pela frente.
"LCI e LCA exigem uma carência maior. Não é como o CDB, que você compra hoje e amanhã pode vender. É necessário ficar com o título durante um mês, 90 dias ou até dois anos. E o pequeno investidor geralmente tem planos de curto e médio prazos", diz o coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, Michael Viriato.
Entre CDB e letras, o importante é comparar liquidez, rentabilidade e prazos. Para a superintendente de investimentos do Santander, Sinara Polycarpo, LCI e LCA compensam para aplicações por até dois anos. "Depois desse prazo, o CDB fica mais interessante, porque a alíquota do IR é reduzida para 15% e o efeito de juros sobre juros é mais vantajoso", afirma.
Outro obstáculo é o limite mínimo de aplicação - atualmente em torno de R$ 30 mil. Apenas o Banco do Brasil tem opções de letras para quem tem menos dinheiro para investir: a LCI pode ser emitida a partir de R$ 1 mil. "Começamos a operar LCI em meados do ano passado. Saímos de zero para R$ 8 bilhões desde então", diz o diretor de empréstimos e financiamentos do BB, Edmar Casalatina.
A LCA, por outro lado, é ofertada para aplicações a partir de R$ 30 mil. O Banco do Brasil é o maior financiador do agronegócio, com uma carteira de crédito de R$ 144,8 bilhões e 66% do mercado. O lastro permite que o saldo de LCA do BB seja alto, de R$ 87 bilhões.
Segurança
As duas modalidades de letras contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que ajuda a tornar o investimento mais atrativo e seguro. Em caso de falência do emissor, o FGC cobre até R$ 250 mil por investidor. Com essa retaguarda, o poupador pode buscar maior rentabilidade em bancos médios.
Simulação feita pelo CEO da Soma Invest, Marcio Neubauer, mostra que a diferença de ganhos é significativa. Um investimento de R$ 30 mil durante um ano em uma LCI de banco médio rende R$ 3.110,40, contra R$ 2.721,60 em um concorrente maior. Uma diferença de R$ 389.
No caso da LCA, o valor a mais seria de R$ 486. "Se fossem aplicados R$ 200 mil, o ganho adicional no ano saltaria para R$ 2.952 no caso da LCI e para R$ 3.240 na LCA", destaca Neubauer.
No Daycoval, o estoque de LCI e LCA cresceu 70% no ano passado na comparação com 2012. A instituição tem R$ 500 milhões captados com as duas modalidades. "Não avançamos mais pela limitação do lastro", afirma o diretor-executivo do banco, Morris Dayan. Para competir com os grandes, o Daycoval chega a pagar 99% do CDI nas duas letras.
A Caixa Econômica Federal, por exemplo, oferece 84% na LCI. Com mais de dois terços do mercado de financiamento de imóveis, a Caixa é o principal operador desse crédito no País. No ano passado, bateu recorde de R$ 134,9 bilhões em contratações.
Segundo o diretor de Clientes e Estratégia de Varejo da instituição, Édilo Valadares, houve um forte crescimento no número de investidores em letras imobiliárias no último ano: de 117 mil para 172 mil. E o estoque de LCI praticamente dobrou entre 2012 e 2013: de R$ 26 bilhões para R$ 51 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.