Sócios e executivos da Exes, uma gestora especializada em crédito privado (da esq. para a direita): Fernando Ohara, Paula Jorge, Artur Carneiro, Bruno Licarião, Eric Monma (Leandro Fonseca/Exame)
Marcelo Sakate
Publicado em 9 de março de 2021 às 10h13.
Última atualização em 9 de março de 2021 às 14h49.
A era de juros baixos na economia veio para ficar, apesar do cenário adverso das últimas semanas. Com esse diagnóstico consensual entre analistas, uma das consequências é o aumento da oferta e a sofisticação dos produtos financeiros à disposição para o investidor, algo que vem junto com o processo de amadurecimento da própria demanda.
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Um dos produtos que ganham aderência entre investidores institucionais mas também qualificados e de varejo é o crédito privado, como fundos de renda fixa estruturados a partir da emissão de empresas no mercado. É nisso que aposta a Exes, uma gestora especializada em ativos alternativos no segmento de crédito privado.
Os sócios da gestora, Bruno Licarião e Artur Carneiro, possuem mais de 20 anos de experiência no mercado, com participação direta em mais de 200 operações cujo valor somado supera a casa de 125 bilhões de reais. São operações como projetos de infraestrutura, debêntures e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários).
A Exes tem atualmente mais de 200 milhões de reais em ativos sob gestão e se prepara para levar um fundo estruturado com papéis de dívida privada para plataformas de distribuição.
"Queremos dar a exposição para os clientes qualificados a operações bastante semelhantes às que os investidores profissionais têm acesso. É um produto com liquidez diferente, mas com uma rentabilidade ainda muito diferenciada em relação à dos fundos high grade (com grau de investimento, por exemplo) no mercado", diz Bruno Licarião.
Family offices e fundos de pensão também começam a estudar essa classe de ativos para compor o portfólio em busca de rendimento e diversificação, contam os sócios da Exes a partir de conversas com os gestores de tais segmento.
“É um mercado novo e absolutamente dominado pelos bancos, que fazem isso há muitas décadas. As pessoas não têm a dimensão de que se você tiver um produto bem estruturado, com uma boa composição do portfolio, terá uma volatilidade mais baixa”, afirma o gestor.
Ele completa o raciocício e a visão que compartilha com Carneiro: "Se o investidor tem uma exposição pequena ao nome final, de forma conjugada – vamos supor, 200 operações pequenas na composição da sua carteira pessoal, que pode ser algo sintetizado por meio de um fundo ou de outras formas --, o risco é mitigado".
Artur Carneiro diz que acreditar que a compreensão das características de produtos de crédito privado é um processo necessário no ambiente de juros baixos. "Na nossa leitura, existe pouco conhecimento por parte dos investidores no que eles estão alocando. Você pergunta para um investidor pessoa física o que comprou e ele responde: ‘CRI e CRA.’ Daí você pergunta CRI e CRA do quê? E ele não sabe responder”, exemplifica.
“A pessoa acha que o produto é o ativo final e não entende o risco, que pode estar investindo em um CRI de uma empresa na bolsa como a brMalls ou de uma empresa da qual nunca ouviu falar", completa. Ele se mostra otimista, no entanto, com esse processo.
"Eu acho que o aprendizado do investidor e do mercado tem surpreendido positivamente. Os juros tão baixos fizeram acender uma luz vermelha em quase todo tipo de investidor, que começa a buscar alternativas", afirma.
Licarião e Carneiro dizem que o mercado começa a ser explorado fora dos bancos diante das oportunidades de oferta para um público mais abrangente. "Estão surgindo algumas gestoras com profissionais qualificados que vêm já com a cultura de carteira proprietária de banco", diz Carneiro. Ele explica que as operações em geral ficaram muito concentradas em emissões de grandes empresas, que funcionam com outra dinâmica.
"Um investidor que compra o ‘risco Vale’ não vai ter problema: o fluxo de caixa dela é gigantesco, a capacidade de acesso a mercado é monstruosa, há boa governança e milhares de pessoas no mundo inteiro cobrindo a empresa e buscando alguma coisa que possa acontecer com ela e mexer com as ações e os papeis", exemplifica Carneiro.
"Na hora em que vamos para o crédito tradicional que os bancos fazem, foge-se um pouco dessa capilaridade, dessa transparência e desse acesso tão amplo a informação. É preciso que o mercado desenvolva uma cultura e um desenho voltado para fazer essa análise. E que aprenda a saber como agir em caso de estresse", afirma Licarião.
A partir da experiência no mercado, os sócios da Exes dizem que um ponto fundamental do processo de aprendizado é entender como funciona a liquidez dos ativos de crédito privado. No auge da crise provocada pela pandemia, no ano passado, investidores correram para resgatar recursos em fundos de crédito privado com liquidez diária, o que obrigou gestores a vender papeis em carteira a qualquer preço, realizando perdas no pior momento.
"Foi um processo de amadurecimento do mercado local. Investidores e gestores tiveram que entender que o mercado não é líquido. Não houve casas perdendo rentabilidade por causa de default", diz Carneiro. "Foi um episódio com gestores que tinham carteiras mal dimensionadas em termos de prazos de resgate ou com obrigação de liquidez muito rápida em um momento em que ninguém tinha interesse em comprar."
"Havia uma expectativa errada sobre a liquidez dos ativos. Acho que o mercado amadureceu e os investidores vão aceitar um pouco menos de liquidez, prazos de resgate mais longos, para que o cenário não os obrigue a aceitar perdas", completa.