Títulos da emissão de US$ 400 milhões com vencimento em 2017 pagam uma taxa 9 pontos-base acima do rendimento médio de papéis com nota de crédito dois níveis superior (Divulgação/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2012 às 06h58.
Nova York - Investidores do mercado de renda fixa concordam com o diretor financeiro da Cosan SA Indústria & Comércio, Marcelo Martins, que a empresa merece um aumento em sua nota de crédito para grau de investimento.
Os títulos da emissão de US$ 400 milhões da Cosan com vencimento em 2017 pagam uma taxa 9 pontos-base acima do rendimento médio de papéis com nota de crédito dois níveis superior, em BBB-, que é o menor nível da escala de grau de investimento, segundo dados compilados pela Bloomberg e pelo Bank of America Corp. Há três meses, essa diferença era de 65 pontos-base. O rendimento dos títulos da Cosan, que controla a maior processadora mundial de cana-de-açúcar junto com a Royal Dutch Shell Plc, caiu 93 pontos-base, ou 0,93 ponto percentual, durante o mesmo período, para 5 por cento.
Martins trabalha para elevar a Cosan a grau de investimento, depois que a parceria com a Shell ajudou a aumentar as vendas e a reduzir a dívida da companhia. A Cosan, que tem classificação dois níveis inferior ao grau de investimento tanto pela Standard & Poor’s quanto pela Moody’s Investors Service, também se beneficia da disparada de 91 por cento na cotação do açúcar nos últimos três anos.
“É um bom caso de crédito e vem apresentando bom desempenho graças aos preços mais altos do açúcar no mercado mundial”, disse Cedric Rimaud, analista da Spread Research, em Lyon, na França. “Há potencial para uma nota em grau de investimento.”
Os bônus da Cosan pagam 269 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro denominada em dólares com vencimento em 2017. Há três meses, a diferença era de 318, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Reduzindo a dívida
A proporção entre a dívida total e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Ebitda, caiu para 1,9 vez nos 12 meses até setembro, comparado a 3,6 vezes um ano antes, de acordo com a Spread Research.
A Cosan, sediada em São Paulo, afirmou em 9 de novembro que as vendas deram um salto de 44 por cento para R$ 6,8 bilhões no segundo trimestre fiscal, que terminou em 30 de setembro. O litro do etanol anidro, que é misturado à gasolina, custava R$ 1,34 no mercado à vista em 13 de janeiro, ou 48 por cento a mais do que na mesma época em 2009, segundo dados da Bloomberg.
Martins disse em uma reunião com investidores em 7 de dezembro que esperava que a Cosan recebesse grau de investimento até o terceiro trimestre.
A Cosan não quis fazer comentários para esta reportagem, segundo sua assessoria de imprensa externa.
“Uma nota em grau de investimento é realista”, disse em entrevista por telefone Leonardo Kestelman, que administra US$ 800 milhões em dívida de mercados emergentes como diretor- gerente da Dinosaur Securities Inc. “É por causa da parceria com a Shell. Todo mundo pensa que a Shell nunca vai deixar a Cosan quebrar porque eles têm interesse mútuo em outra empresa.”
‘Muito mais forte’
A Fitch Rating elevou a dívida da Cosan em um nível para BB+, um nível abaixo do grau de investimento, em 14 de outubro, citando os benefícios da parceria.
“A Cosan se beneficia porque a joint venture é um dos principais ativos da companhia”, disse Daniel Kastholm, diretor-gerente da Fitch em Chicago. “Ela se beneficia de um negócio muito mais forte do que tinha antes. Não apenas em termos de tamanho, mas em termos de menor risco financeiro.”
Apesar de a S&P poder elevar a nota da Cosan baseada na parceria com a Shell, a agência não deve fazer um upgrade para o grau de investimento, disse Reginaldo Takara, analista da S&P em São Paulo. Os títulos da Cosan com vencimento em 2017 são garantidos pela Raízen, como a parceria com a Shell foi chamada. Mesmo recebendo dividendos da Raízen, a Cosan não tem “acesso total” ao fluxo de caixa da unidade, disse ele.
“O fato de a Raízen poder ter uma nota mais alta não implica necessariamente em a Cosan ter uma nota mais alta também”, disse Takara em entrevista por telefone.
‘Desalavancador’
A Shell e a Cosan fecharam um acordo em fevereiro de 2010 para unir seus ativos de etanol, açúcar e distribuição de combustíveis no Brasil. A Cosan, que entrou com 23 usinas, 1.730 postos de combustíveis e outros ativos, transferiu cerca de R$ 5,24 bilhões em dívida líquida para a nova empresa. A Shell investiu um valor estimado em US$ 1,6 bilhão em dinheiro e outros ativos.
“Quando se analisa a joint venture, é realmente desalavancador para os detentores de títulos”, disse Kastholm, da Fitch. “Os ativos restantes da Cosan estão bem desalavancados, e o que a Cosan tem de sobra são os 50-50 no negócio de etanol, açúcar e distribuição de combustíveis, do qual ela vai receber fluxo de dividendos. O negócio está significativamente mais forte.”