Criptomoedas: Ripple, Bitcoin, Etherum e Litecoin estão entre as moedas negociadas pela Huobi (Dado Ruvic/Illustration/ File Photo/Reuters)
Naiara Bertão
Publicado em 20 de agosto de 2018 às 12h14.
Última atualização em 20 de agosto de 2018 às 13h17.
A corretora chinesa de criptomoedas Huobi acaba de desembarcar no Brasil e tem carta – e cheque – brancos da matriz para crescer no mercado local. Fundada em 2013 pelo engenheiro da computação chinês Leon Li, a Huobi é hoje a terceira maior corretora de criptomoedas do mundo, com um volume diário de negociações pela plataforma de 1 bilhão de dólares. Tem milhões de clientes em mais de 130 países.
Por aqui, diferentemente das corretoras locais, como Foxbit e Mercado Bitcoin, a Huobi não quer focar, pelo menos neste primeiro momento, em atrair diretamente investidores pessoa física. “Nós entramos no Brasil para ser o principal parceiro de comercialização de criptomoedas das corretoras de investimento tradicionais e bancos de investimentos”, diz Frank Tao, atual presidente da Huobi no Brasil e ex-diretor no país da empresa de tecnologia para smartphone Cheetah Mobile e da fabricante chinesa de celulares Huawei. A divisão B2B é chamada de Huobi Global.
A Huobi chega num momento de inflexão do mercado. Oito meses após a febre de bitcoin no Brasil, a moeda virtual deixou de ser sexy. Mas isso pode ser um reflexo de amadurecimento do mercado nacional, já que as pesquisas continuam indicando as criptomoedas como uma tendência que veio para ficar.
Em dezembro do ano passado, ápice da euforia pela moeda, um bitcoin chegou a valer 19.000 dólares. Hoje, está na casa dos 6.000 dólares. A queda para um terço do valor veio em paralelo com a saída de investidores entusiastas, mas que só entraram no investimento seguindo a onda. No fim do ano passado, diversas corretoras tradicionais de investimentos chegaram a contratar profissionais do setor para abrir suas próprias corretoras de criptomoedas, mas nenhum negócio do tipo foi lançado até agora. O volume de negociação também caiu pela metade.
Com o mercado mais assentado, as corretoras investem em disseminação de informações ao mesmo tempo que precisaram melhorar a qualidade do serviço. No ápice da procura, algumas corretoras brasileiras tiveram, por exemplo, problemas de processamento pelo excesso de pedidos. Agora o mercado está mais racional, o que, para a Huobi, é uma boa notícia.
Sua chegada deve ajudar a profissionalizar ainda mais o setor de criptomoedas. As corretoras locais, trabalham com poucas opções de moedas, a mas Huobi já chega com uma carteira de 150 tipos, desde as mais conhecidas – bitcoin, ethereum e litecoin – até as pouco populares iota, decred e tron. Outros dois diferenciais da Huobi para as corretoras locais são o preço e a alta liquidez. A chinesa cobra uma taxa de transação de 0,2%, abaixo das corretoras Foxbit (0,25% a 0,50%) e Mercado Bitcoin (0,3% a 0,7%). Por ser uma plataforma globais de grandes volumes negociados, a liquidez também é maior e a discrepância de preços negociados não é tão grande como nas demais. Todo o atendimento é em português.
Tao explica que a Huobi possui uma espécie de fundo de proteção ao investidor que ressarce os investidores em caso de ataque de hackers, um problema recorrente neste setor. Em junho, a bolsa de moedas digitais sulcoreana Coinrail sofreu um ataque hacker que lhe causou uma perda de 30% das moedas negociadas. O preço do bitcoin chegou a cair mais de 10% após a notícia. No fim do ano passado, também na Coreia do Sul, hackers roubaram a corretora Youbit e a empresa decretou falência.
O foco em clientes corporativos – pelo menos neste primeiro momento – tem um motivo: a plataforma da Huobi ainda não consegue converter reais em criptomoedas e vice-versa, o que as corretoras nacionais já fazem. Mas quem tem bitcoins ou outros investimentos desta classe de ativos pode se cadastrar diretamente na plataforma, transferir sua carteira e operar na Huobi. Além disso, a Huobi também quer desenvolver aqui seu braço de soluções na plataforma blockchain. “Órgãos públicos e instituições financeiras privadas, como bancos, além de educacionais, como universidades, que queiram aplicar a tecnologia de blockchain em suas operações também são potenciais clientes”, diz Tao. Por enquanto, querem se associar a universidades e fomentar pesquisas na área.
Cheque em branco
Não há metas nem valores fixos para investimentos no país. O tamanho do cheque da matriz dependerá dos acordos. “Capital não nos preocupa. Caso fechemos com grandes parceiros, temos recursos suficientes para desenvolver o negócio”, diz Tao.
Dinheiro não é um problema para a Huobi mundial. No início, a startup recebeu investimentos dos fundos americano Sequoia Capital e chinês Zhen Fund, mas hoje já se mantém com caixa próprio. A corretora de moedas digitais ainda é a principal fonte de receita – 80% aproximadamente da receita, apesar de a Huobi global ter também outras divisões de negócios como consultoria para aplicação de blockchain e pesquisa e informações financeiras.
A empresa não divulga faturamento. Além da China, a Huobi já tem operações em Singapura (hoje sua sede), Brasil, Canadá, Austrália, Coréia do Sul, Japão, Reino Unido, Tailândia e os Estados Unidos por meio de uma operação conjunta com um parceiro estratégico local, o HBUS.