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Contradições nas políticas de Trump podem impedir preços de energia mais baixos, diz Gavekal

Para a Gavekal, as políticas energéticas de Trump têm contradições que podem inviabilizar seus objetivos

Trump: intenção é impulsionar um novo boom do petróleo e incentivar a produção doméstica (Jim Watson/AFP)

Trump: intenção é impulsionar um novo boom do petróleo e incentivar a produção doméstica (Jim Watson/AFP)

Karla Mamona
Karla Mamona

Editora de Finanças

Publicado em 26 de janeiro de 2025 às 07h44.

O discurso de posse de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, trouxe um apelo direto: “Perfurar, perfurar e perfurar”. A intenção é impulsionar um novo boom do petróleo e incentivar a produção doméstica, mas as análises mostram que a meta de preços mais baixos de energia prometidos pode estar longe da realidade. Segundo Tom Holland, analista da Gavekal Research, as políticas energéticas de Trump têm contradições que podem inviabilizar seus objetivos.

Como destacou Holland, Trump está ciente de que os preços da energia influenciam diretamente a inflação interna nos EUA, o que pode impactar sua popularidade. Para tentar manter a inflação sob controle, ele pretende incentivar os produtores a aumentar a oferta de energia. De acordo com o novo secretário do Tesouro, Scott Bessent, a meta da administração seria expandir a produção de petróleo em até 3 milhões de barris por dia e estabilizar os preços em US$ 50 por barril e US$ 2 por galão para a gasolina.

Produção recorde e metas ambiciosas

Atualmente, a produção de petróleo bruto dos Estados Unidos já está próxima de 13,5 milhões de barris por dia, um número que beira o recorde histórico. A meta de um aumento adicional de 3 milhões de barris diários parece ambiciosa, mas, segundo a Gavekal, é viável quando consideradas outras fontes de energia, como gás natural líquido e seco. No total, a produção de petróleo e gás dos EUA equivale hoje a 38 milhões de barris diários.

Para a Gavekal, é possível que, nos próximos dois ou três anos, os EUA alcancem o crescimento pretendido. Contudo, Holland destaca que esse aumento não necessariamente resultará em preços mais baixos para os consumidores, sobretudo se Trump continuar perseguindo seu objetivo de dominação energética global.

Dominação energética e contradições econômicas

O plano de Trump para a dominação energética inclui expandir as exportações para reduzir os déficits comerciais com parceiros como China e União Europeia. O governo busca firmar contratos de longo prazo com esses países, aumentando as exportações de petróleo e gás natural. Porém, para reduzir os déficits em 20%, os EUA precisariam exportar cerca de 2 milhões de barris diários adicionais para a China e 1,6 milhão de barris para a Europa.

Esse aumento significativo nas exportações exigiria uma aceleração ainda maior na produção doméstica de energia, mas, segundo o Federal Reserve de Kansas City, os preços atuais do petróleo e do gás não incentivam os produtores a investir em novos poços. A pesquisa indica que perfurar novos poços só seria rentável com o petróleo a US$ 84 por barril e o gás natural a US$ 4,66/MMBtu — valores que os produtores não esperam atingir nos próximos cinco anos.

Produção x preços: um dilema persistente

Atualmente, os produtores estão focados em aumentar a eficiência das operações existentes em vez de ampliar a perfuração. Mesmo com o preço do petróleo a US$ 76 por barril, perfurar novos poços é apenas marginalmente lucrativo. Já o gás natural, a US$ 3,75/MMBtu, está praticamente no ponto de equilíbrio.

Essas condições mostram que, enquanto Trump busca equilibrar interesses comerciais e políticos, a redução de preços para os consumidores americanos pode não ser compatível com seus objetivos de exportação e dominação energética global. A economia do setor energético, portanto, segue como um dos maiores desafios para a administração e para os produtores norte-americanos.

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