Wall Street reagiu bem à inflação (Shutterstock/Shutterstock)
Karla Mamona
Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 10h03.
(Bloomberg) -- A repentina exigência do presidente dos EUA, Donald Trump, de mudanças no projeto de lei de estímulo de US$ 900 bilhões aumenta a lista crescente de incertezas para investidores e pode levar alguns a realizarem lucro, disseram estrategistas.
Os mercados reagiram com cautela depois de Trump sinalizar que pode não assinar o pacote de ajuda ao exigir pagamentos de benefícios maiores e a remoção de alguns itens do projeto de lei.
A ameaça de atraso do estímulo traz outro risco para os mercados após as bolsas globais atingirem recorde na semana passada. Investidores já debatiam as implicações da nova cepa do coronavírus que parece ser mais contagiosa, bem como as delicadas negociações comerciais do Brexit.
Trump exigiu que o Congresso aumente os cheques de estímulo a serem enviados para a maioria dos americanos de US$ 600 para US$ 2 mil. Além dos US$ 900 bilhões em medidas relacionadas à pandemia, o pacote de gastos dos EUA inclui US$ 1,4 trilhão para financiar as operações do governo até setembro de 2021. Se o presidente não assinar o projeto de lei até 28 de dezembro, o financiamento vai expirar após a meia-noite daquele dia e causar um fechamento parcial do governo.
“Qualquer atraso neste ponto provavelmente terá implicações de aversão ao risco”, disse Ilya Spivak, estrategista-chefe para Ásia-Pacífico da DailyFX. “Uma constelação negativa de narrativas começa a se sobrepor.”
“O crescimento está desacelerando, então o mercado já estava preparado para uma correção antirrisco. A iliquidez piora tudo. Faz os preços subirem ainda mais, porque há menos liquidez em todos os níveis de preços; portanto, quando alguém tenta liquidar, isso move mais os mercados e a ação dos preços é mais instável. Esse é outro catalisador para inspirar as pessoas a realizarem lucro.”
“Ainda não sabemos se isso levará a um atraso real no pacote de ajuda, então nossa postura básica seria esperar para ver”, disse Shogo Maekawa, estrategista de mercado da JPMorgan Asset Management, em Tóquio. Um atraso exigiria uma reavaliação da postura atual do mercado de deixar para trás dados negativos anteriores e focar no esperado estímulo econômico, devido à confiança do consumidor pior do que o esperado, disse.
Gary Dugan, diretor-presidente da gestora de ativos Global CIO Office, em Cingapura, acredita que a exigência de Trump deixa o mercado vulnerável no final do ano. “O presidente Trump não tem nada a perder sendo beligerante e segurando as coisas. Se os cheques atrasarem algumas semanas, os mercados temerão uma perda acentuada de momentum na economia dos EUA.”