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Com rota internacional, Randon faz segunda aquisição nos EUA

Três anos depois depois da compra da Hercules, de carretas; aquisição saiu a valuation atrativo e ações subiram

Randon: AXN foi adquirida com um múltiplo de 4,0x EV/EBITDA (Germano Lüders/Exame)

Randon: AXN foi adquirida com um múltiplo de 4,0x EV/EBITDA (Germano Lüders/Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 16h33.

A Randon intensificou seu ritmo de internacionalização. Na última sexta-feira, 17, o conglomerado especializado em soluções para transporte e mobilidade, anunciou a compra da AXN Heavy Duty, empresa norte-americana focada na fabricação de eixos e suspensões para reboques.

"A transação reflete o movimento da companhia para aumentar sua exposição nos mercados externos e explorar novas oportunidades de sinergias e eficiências”, diz relatório do Santander. Em junho passado, já tinho ido às compras com a Frasle, uma de suas subordinadas, ao incorporar a mexicana Kuo Refacciones.

As ações da Randon reagiram positivamente ao anúncio, com alta de 2,09%, cotadas a R$ 8,29 perto das 15h30. Durante a manhã, os papéis chegaram a atingir R$ 8,51, refletindo o otimismo dos investidores em relação ao potencial de criação de valor da transação.

O acordo prevê o pagamento de US$ 12,3 milhões (R$ 74 milhões) pelos ativos da AXN, a ser liquidado até o fim de janeiro. Além disso, contempla a aquisição de inventário avaliado em US$ 37 milhões (R$ 223 milhões), cujos valores serão pagos conforme o consumo de materiais em um período de 18 meses após o fechamento do negócio.

A empresa foi adquirida com um múltiplo de 4,0x EV/EBITDA, inferior ao da própria Randon, estimado em 5,92x para 2024, o que, segundo o Santander, “reforça a atratividade do preço”. Olhando para a frente, a companhia projeta reduzir esse múltiplo para 0,8x até 2029, apoiada em sinergias estimadas em R$ 60 milhões nos próximos cinco anos.

A AXN opera desde 2009 e gera cerca de 90% de sua receita no mercado norte-americano, atendendo fabricantes (OEMs) e o mercado de reposição (aftermarket). Com forte expertise no segmento, a companhia adota um modelo de co-manufatura, com produção terceirizada nos EUA e na China.

Em 2024, a AXN deve registrar uma receita de R$ 390 milhões, com margem EBITDA ajustada de 5%, abaixo das médias consolidadas da Randon (15,7% em autopeças e 13,6% globalmente). Contudo, a expectativa é que o negócio gere R$ 60 milhões em sinergias acumuladas nos próximos cinco anos, permitindo a compressão do múltiplo EV/EBITDA para 0,8x até 2029.

Segundo informações da própria Randon, essas sinergias incluem ganhos de market share, crescimento no aftermarket e eficiências operacionais como integração de supply chain e redução de custos logísticos.

As sinergias são divididas em dois principais grupos: 70% vêm de oportunidades de receita, incluindo ganho de market share, crescimento no aftermarket e oferta de soluções completas como eixos, suspensões e molas; enquanto 30% são oriundos de redução de custos, como integração de cadeia de suprimentos, eficiência logística e diluição de custos fixos.

Na estratégia do 'America great again'

Essa é a segunda aquisição da Randon nos Estados Unidos — a primeira no segmento de autopeças. Há três anos, a empresa havia comprado a Hercules, fabricante de carretas.

O movimento também ocorre em um momento de retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, com sua agenda “Make America Great Again” (fazer a América grande novamente), que busca proteger os fabricantes locais frente ao avanço da indústria chinesa no mercado global.

O relatório do Safra destacou que os riscos de tarifas mais altas sob a nova administração Trump foram considerados na avaliação da AXN, e que medidas contingenciais foram planejadas para mitigar impactos potenciais nos custos. Ainda segundo a gestão, tarifas significativas poderiam levar a ajustes de preços no mercado doméstico americano, como observado em ciclos anteriores, parcialmente compensando pressões de custo.

Além disso, é um momento oportuno, segundo os analistas, dado que o mercado de caminhões nos EUA está atravessando um período de baixa — queda de 25% nos volumes em 2024 —, mas com previsão de recuperação em 2025. Essa retomada deve impulsionar volumes, diluir custos fixos e, conforme o Safra, “potencialmente aumentar a margem EBITDA da AXN para 10% nos próximos anos”.

Ainda assim, há desafios a serem superados, como a concretização das sinergias projetadas e a melhoria do mercado norte-americano.

Outro ponto de atenção é o impacto no endividamento, apontam os analistas. O índice de dívida líquida sobre EBITDA deve aumentar ligeiramente para 2,62x em 2025, mas a gestão confia em reduzir esse número para 2,0x até o final do mesmo ano, com base no crescimento de volumes e disciplina na alocação de capital.

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