Carajás: dificuldade com licenças e excesso de chuvas atrapalham a produção da Vale no local (Lunae Parracho/Reuters)
Bianca Alvarenga
Publicado em 28 de julho de 2022 às 06h02.
Se tudo correr como o mercado espera – e como o relatório de produção indicou – a Vale (VALE3) terá um segundo trimestre abaixo do esperado. A mineradora divulgará resultado nesta quinta-feira, 28, no início da noite, após o fechamento do mercado brasileiro.
A principal pedra no sapato da Vale tem sido a capacidade de aumentar o volume de produção. Desde os incidentes nas barragens de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, a mineradora teve que desativar minas cujos reservatórios poderiam apresentar algum tipo de risco.
O volume de produção de minério no período de abril a junho deve ficar perto de 75 milhões de toneladas, uma alta de quase 30% em relação ao primeiro trimestre de 2022, mas praticamente a mesma coisa do segundo trimestre de 2021. Já a produção de cobre e níquel deve cair 32% e 17%, respectivamente, em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com isso, a receita líquida deve aumentar 3% em relação ao período de janeiro a março, mas deve cair 33% em relação ao segundo trimestre de 2021.
A empresa tem enfrentado problemas de produção em Carajás, no Pará, a maior mina de minério de ferro a céu aberto, em razão de problemas com licenças ambientais e pelo excesso de chuvas na região Norte.
No relatório de produção, divulgado semanas atrás, a Vale revisou para baixo as projeções de produção de 2022. Antes, a mineradora esperava produzir até 335 milhões de toneladas ao longo do ano, mas agora ajustou esse alvo para uma extração de até 320 milhões de toneladas,
Outro ponto que preocupa é o aumento dos custos de produção para a moneradora, em um momento de queda no preço do minério de ferro. O preço da commodity no mercado futuro está perto dos 100 dólares, frente a um recorde de 212 dólares em maio do ano passado. A combinação deve causar uma queda de 14 pontos percentuais na margem Ebitda da empresa.
"A estagnação na produção é decepcionante, e possivelmente vai alimentar as preocupações dos investidores sobre a capacidade da companhia de recuperar o volume de produção 'pré-Brumadinho', de 385 milhões de toneladas", observaram analistas do Goldman Sachs, em relatório.
A equipe de análise do banco pondera que uma reversão no cenário de inflação (principalmente no preço dos combustíveis) e/ou uma demanda maior da China, em razão de um crescimento econômico maior do país, podem ajudar a Vale a virar a mesa.
Com margens e vendas menores, o dividend yield (indicador que mostra quanto um ativo pagou de proventos aos seus acionistas nos últimos 12 meses) também será reduzido no trimestre.
O Bank of America calcula que o dividend yield vai cair de 21% no final de 2021 para 11% no final deste ano. Já o BTG Pactual tem uma visão um pouco mais otimista: nos cálculos do banco, o indicador ficará em 15% em dezembro de 2022.
Embora a distribuição de lucros aos acionistas seja menor, o BofA acredita que tanto os dividendos como o programa de recompra serão um ponto de equilíbrio para o cenário mais desafiador que a Vale enfrenta.
Com obstáculos à vista e um bom grau de incerteza, tanto o Goldman Sachs quanto o BofA têm uma recomendação neutra para o papel da Vale, embora apontem uma valorização potencial de até 40% em relação à cotação da segunda-feira passada, 18 de julho.
Já o BTG tem uma visão mais otimista, mirando uma possível surpresa positiva vinda da China. Os analistas do banco projetam que a ação da Vale pode alcançar os 125 reais por papel, valor superior à cotação recorde de maio de 2021, quando o preço bateu 115 reais por ação.
"À medida que a China tenta colocar a economia de volta nos trilhos por meio de estímulos monetários e fiscais maciços, acreditamos que a demanda por commodities pode ser beneficiada na margem", observaram os analistas do BTG, em relatório.