(Anderson Souza/Ministério dos Transportes/Divulgação)
Repórter de finanças
Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 11h49.
Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 12h00.
A prévia operacional da Vale (VALE3) veio um pouco abaixo do esperado pelo mercado, num resultado considerado “morno” pela maior parte dos analistas.
Após uma queda de 2% no pregão de ontem já antecipando em parte os números, as ações operam próximas à estabilidade nesta quarta-feira, 29.
Apesar de ter atingido os 327,6 milhões de toneladas de produção de minério de ferro no consolidado de 2024 – um avanço de 2% sobre o volume de 2023 e dentro da meta estabelecida de 328 milhões de toneladas –, a mineradora decepcionou em outros quesitos.
A falta de clareza entre o volume produzido e as vendas foram um dos fatores que chamaram a atenção do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e da XP Investimentos.
As remessas de minério de ferro vieram ligeiramente abaixo do esperado por ambas as casas no quarto trimestre (-2,17% do BTG e 3% da XP), totalizando 81,2 milhões de toneladas, 10,2% menos na comparação anual. A produção total de minério de ferro ficou em 85,3 milhões de toneladas no mesmo período, queda de 4,6% na base anual.
O número acabou reduzindo as estimativas do BTG para o trimestre, que agora mantém a visão de que Vale apresentará resultados pouco animadores, com um Ebitda próximo de US$ 3,9 bilhões.
Leonardo Correa e Marcelo Arazi são quem assinam o relatório e afirmam que 2025 será “um ano de transição operacional” para a empresa. Por conta disso, reiteram a recomendação neutra para a empresa, dado que a companhia carece de catalisadores para reavaliação positiva e oferece um rendimento de dividendos relativamente pouco atrativo.
Outro fator que colabora para a recomendação neutra é a China, que segue com sua economia vulnerável, apesar das recentes discussões sobre estímulos. A fragilidade vinda do gigante asiático, segundo o BTG, adiciona pressão sobre todo o complexo siderúrgico e representa um fator de peso negativo para os preços do minério de ferro.
O banco continua com dificuldades para enxergar um potencial de valorização significativo para a Vale, com as ações sendo negociadas a 4x Ebitda 2025 e oferecendo um dividend yield entre 6% e 8%.
“Também projetamos novas revisões negativas para a empresa ao longo de 2025, à medida que os investidores ajustam suas projeções a um ambiente de preços de minério de ferro estruturalmente mais fraco”, afirmam.
No entanto, o banco reconhece alguns desenvolvimentos positivos recentes na tese de investimentos, como a melhora na trajetória de produção de minério de ferro, o desfecho positivo no acordo da Samarco (com a liquidação final abaixo das nossas expectativas) e a renegociação da concessão ferroviária (com apenas um ajuste modesto nas provisões).
Os analistas também afirmam entender a estratégia comercial da Vale de retirar do mercado toneladas com alto teor de sílica, considerando que o ambiente tem sido claramente punitivo para contaminantes, além de ter realizado “preços razoáveis” para o minério de ferro (1% acima da projeção do banco, embora sem impacto relevante).
“No fim das contas, a empresa toma uma decisão sensata para proteger os preços realizados do minério de ferro e otimizar seu mix de produtos, mas acreditamos que o mercado precisará de mais clareza sobre essa estratégia para entender a magnitude da diferença entre remessas e produção no futuro”, afirmam.
A XP também reitera a recomendação neutra e cita a mesma necessidade de catalisadores de valorização. Porém, traz um tom mais otimista em relação aos números da Vale. Para a casa, os resultados operacionais demonstram a flexibilidade do portfólio da Vale, priorizando produtos de maior valor agregado em vez de volume.
“A combinação de preços realizados mais elevados (com prêmios adicionais) e volumes mais fracos é positiva em nossa avaliação. Embora mantenhamos nossa recomendação neutra, devido à limitação de catalisadores para valorização, vemos uma assimetria positiva nas ações VALE3 nos níveis atuais”, escreve a equipe liderada pelo analista Lucas Laghi.
Em comparação com o BTG, a XP projeta um Ebitda ajustado maior para o quarto trimestre de 2024, em R$ 4,25 bilhões ante os R$ 4,058 bilhões anteriores estimados – um aumento de 5%.
Como destaque, a casa enfatiza que houve um aumento de US$ 3,7 por tonelada na base trimestral nos preços realizados, impulsionado por prêmios mais altos e aumento dos preços de referência do minério de ferro. A produção de cobre também aumentou 19% na base trimestral, impulsionada pelo aumento da produção em Sudbury e pelo ramp-up da VBME.
“Além disso, a Vale cumpriu sua meta de produção para 2024 de minério de ferro e níquel, superou a meta para cobre, enquanto a produção de pelotas ficou ligeiramente abaixo do guidance anual”, escreveram.
Mais otimista do que as outras duas, a Genial Investimentos recomenda compra para Vale com preço-alvo de R$ 65,60 para VALE3 e US$ 11,10 para os ADRs, representando um upside de 24,6% – mas, apesar de estarem com recomendação neutra, o preço-alvo da XP é de R$ 66, enquanto do BTG é de US$ 11 para os ADRs.
A queda de 4,6% da produção de minério de ferro e as remessas abaixo da produção também aparecem como pontos negativos, mas a Genial enfatiza o ajuste comercial para evitar vendas de produtos com alto teor de sílica com um ponto positivo. A decisão, segundo ela, ajudou a elevar os preços realizados, que chegaram a US$ 93 por tonelada, revertendo um prêmio negativo após 12 meses.
“Embora os volumes não tenham sido particularmente impressionantes, vemos o relatório como positivo para os preços realizados. O grande destaque foi a mudança na estratégia comercial da empresa, que prioriza menores volumes de vendas com um mix de maior valor, conforme antecipamos”, diz a equipe liderada por Igor Guedes.
Segundo a Genial, apesar do cenário desafiador, a Vale negocia a um grande desconto em relação a seus pares globais, com um EV/Ebitda para 2025 de 3x versus média histórica de 5x. O mercado precificou cenários pessimistas para o minério de ferro, mas vemos um piso potencial de US$ 90 por tonelada e possível recuperação para US$ 110 por tonelada, dependendo da sazonalidade e das políticas chinesas.
A Genial estima um Ebitda proforma de R$ 4,292 bilhões no quarto trimestre de 2024, e US$ 3,8 bilhões (-14,6% t/t; -38,9% a/a) ajustado, impactado pela provisão de US$ 425 milhões para compensações relacionadas ao acidente de Brumadinho.