Gustavo Araújo, CEO do Banco Mercantil, destaca resiliência da instituição frente ao desempenho do geral do setor (Banco Mercantil/Divulgação)
Repórter de Invest
Publicado em 10 de maio de 2023 às 08h32.
Última atualização em 10 de maio de 2023 às 14h58.
No ano em que completa 80 anos, o Banco Mercantil (BMEB3) teve um resultado recorde no primeiro trimestre. A instituição registrou lucro líquido de R$ 68,1 milhões nos primeiros três meses de 2023, alta de 45% na comparação anual e crescimento de 4,7% frente ao trimestre passado. E a rentabilidade do banco alcançou – e superou – o patamar dos gigantes do setor: o Mercantil teve um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) 21,1%, resultado acima dos 20,7% registrados pelo Itaú (ITUB4).
Em entrevista exclusiva à EXAME, o CEO do Banco Mercantil, Gustavo Araújo, destacou a resiliência da instituição entre os pares mesmo em um momento desafiador para o setor bancário. “O Mercantil acertou quando se posicionou em carteiras mais seguras nesse período instável. E com a estabilização da expectativa de dívida pública e consequente queda de juros, podemos crescer ainda mais”, afirmou.
O banco não fornece projeção de resultados para o resto do ano, mas a expectativa é continuar com a rentabilidade acima do patamar dos 20%. Para manter a marca, o Banco Mercantil aposta em uma carteira defensiva, que tem 56,5% de concentração em empréstimos consignados para pessoa física.
A carteira de crédito da instituição alcançou a marca de R$ 12,2 bilhões no primeiro trimestre, alta de 25%. Do montante, R$ 6,9 bilhões são referentes apenas ao consignado e outros R$ 2 bilhões à modalidade saque aniversário do FGTS – totalizando 73% do montante. O conservadorismo trouxe resultado também na inadimplência, que caminhou na contramão da indústria e caiu no primeiro trimestre, para 2,8%.
O movimento também faz parte da estratégia de direcionar os produtos e serviços do banco para um público que o Mercantil considera negligenciado: aqueles com mais de 50 anos. Na visão do banco, o segmento não recebe atenção particular dos bancões nem dos bancos digitais. “É nessa oportunidade estratégica que vamos surfar”, disse o CEO.
Vale lembrar que, em seus 80 anos de história, o Mercantil sempre foi um banco comercial múltiplo com diversas linhas de atuação. Há menos de 10 anos, a carteira do banco ainda era composta, majoritariamente, por pessoas jurídicas. De lá para cá a proporção começou a se inverter, e o foco no público 50+ ganhou mais força, especialmente nos últimos três anos. Atualmente, mais de 90% da carteira de crédito do banco é voltada para pessoas físicas.
“O objetivo é ser o melhor ecossistema financeiro para o público com mais de 50 anos. Até 2030 chegaremos a 70 milhões de brasileiros nessa faixa de idade. É uma faixa de mais de um terço da população e que irá representar mais de 50% do consumo das famílias e 50% do comércio digital”, avaliou o CEO. Com a concorrência focada em outras linhas de atuação, o Banco Mercantil vê neste nicho a oportunidade para continuar crescendo. A base de clientes da instituição alcançou 6,7 milhões, número 35% ao apurado no mesmo período do ano anterior.
Para consolidar a estratégia já em operação, o Banco Mercantil atualizou a marca, que deve vir acompanhada de uma nova sede com inauguração no segundo semestre. Mudança também no nome: o Mercantil do Brasil passa a ser Banco Mercantil. O foco na palavra “banco” não é por acaso – o objetivo é reforçar a solidez e segurança que o público (especialmente o mais maduro) busca em uma instituição bancária.
O reforço da tradição, no entanto, não é um passe livre para uma postura antiquada. Araújo reforça que a posição é justamente a contrária. “Existe uma percepção errada de que o público 50+ não é digital, mas eles são muito digitalizados. É papel do banco pensar em soluções simples e digitais para atender os clientes”, disse.
O principal exemplo da estratégia é o foco que o Mercantil tem dado ao WhatsApp. Toda a jornada de abertura de conta hoje pode ser feita por intermédio do aplicativo de mensagens. Cerca de 20% dos empréstimos do banco já são feitos pelo app, com cerca de 100 mil operações mensais. Em atendimentos, são 2 milhões realizados por mês via WhatsApp.
“Em pesquisas com nossos clientes, entendemos que eles gostavam do aplicativo, mas muitas vezes tinham mais de um, esqueciam a senha e prefeririam a praticidade de um único app. O aplicativo que mais gostam e usam é o WhatsApp, então porque não fazer uma jornada completa de banco lá?”, defendeu o CEO.
Simultaneamente, o Mercantil buscou facilitar o acesso ao próprio aplicativo, que tem um índice de reuso mensal superior a 90% segundo o banco. As agências físicas também continuam em operação.
No campo dos serviços, a finalidade é garantir segurança e a inovação. Um exemplo destacado por Araújo é o "seguro pix". Para estimular a adoção do pix entre alguns clientes receosos com golpes, o banco lançou um seguro específico para a modalidade. Com o B.O. em mãos, o cliente consegue ser ressarcido caso sofra um golpe de transferência.
"São produtos e serviços pensados para engajar o cliente no meio físico e digital. E tem o destaque importante ao WhatsApp, que é um canal favorito do brasileiro e do público 50+", disse.
Veja também