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Com efeito Agrogalaxy, mercado vê menor espaço para emissão de CRAs

Com mais de R$ 3,7 bilhões em dívida, empresa do agronegócio pediu recuperação judicial, provocando perdas no mercado

Plantação de soja: queda do preço da commodity prejudica desempenho do setor neste ano (Alexis Prappas/Exame)

Plantação de soja: queda do preço da commodity prejudica desempenho do setor neste ano (Alexis Prappas/Exame)

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 07h30.

O impacto da recuperação judicial da Agrogalaxy colocou o mercado de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em alerta. Gestores de crédito, analistas e estruturadores de dívida apontam para uma retração nas emissões, especialmente no segmento de high yield.

"O que aconteceu com a Agrogalaxy foi lamentável, pois acaba manchando a imagem de um setor que já enfrenta desafios naturais", afirma uma fonte ligada ao mercado de estruturação de produtos de renda fixa.

Ele acredita que a situação pode gerar um período breve de "ausência de novas emissões" até que o mercado tenha uma visão mais clara das consequências do caso. A exceção são os CRAs de grandes empresas, como São Martinho, BRF ou Klabin, para os quais ainda há uma grande demanda no mercado. Mas, para casos menores, o apetite é outro.

Com mais de R$ 3,7 bilhões em dívidas, a lista de credores da Agrogalaxy é extensa. Entre as maiores dívidas estão aquelas com securitizadoras de seus CRAs. Somente com a Vert e a Opea, os valores a serem pagos pela Agrogalaxy são de R$ 516 milhões e R$ 149 milhões, respectivamente.

Fiagros que possuíam posições relevantes nos CRAs da Agrogalaxy sofreram perdas significativas desde o pedido de recuperação judicial. O mais afetado foi o Fiagro da gestora JGP, que registrou uma desvalorização próxima de 20% em pouco mais de uma semana.

Um grande gestor de renda fixa destacou que havia uma "competição" entre gestores de Fiagros para oferecer taxas mais altas aos investidores, o que levou à tomada de riscos excessivos em alguns casos. "Os CRAs da Agrogalaxy estavam pagando CDI + 6% isentos de imposto, o que representava um risco muito elevado."

Devido à crescente desconfiança no mercado, o gestor pontua que, atualmente, o mercado de Fiagros está praticamente fechado para novas emissões.

"Quem tenta lançar uma emissão enfrenta grandes dificuldades. Muitos investidores preferem não arriscar, devido aos recentes eventos de inadimplência e recuperação judicial no setor."

Após um ano de 2023 espetacular, o agronegócio enfrenta mais desafios em 2024, com quebras de safra, queda nos preços da soja e o aumento de queimadas em zonas rurais. A preocupação é que esse conjunto de fatores crie novas dificuldades no setor, aumentando o risco de inadimplência.

Empresas na ponta da cadeia agrícola, mais expostas a variações de preço e produção, estão em uma posição mais sensível, segundo fontes do mercado.

Pessoa física

Apesar da percepção de maior risco de crédito, a demanda por CRAs entre pessoas físicas segue aquecida, impulsionada pelas altas taxas de retorno — isentas de imposto de renda.

O crescimento entre pessoas físicas tem sido puxado por investidores de menor porte. Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que o varejo mais que triplicou seus investimentos em CRAs, alcançando R$ 72,6 bilhões nos últimos dois anos e meio. Já o private banking, que costuma ser melhor assessorado, aumentou em apenas 34% seus investimentos no mesmo período.

"Há o risco de um investidor que colocou R$ 10 mil em um CRA perder tudo. CRA é um ativo arriscado, não conta com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para salvaguardar o investidor", alerta um analista. "Muitas vezes, eles nem sabem o que estão comprando, apenas se concentram na rentabilidade esperada."

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