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Clima irregular tumultua mercado de soja em MT

Mato Grosso, o maior Estado produtor de grãos do país, sofreu com falta de chuvas no início da safra, prejudicando o calendário de semeadura


	Grãos de soja: contratos firmados ainda no ano passado, com entregas de soja prevista para janeiro e início de fevereiro, podem não ser cumpridos
 (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

Grãos de soja: contratos firmados ainda no ano passado, com entregas de soja prevista para janeiro e início de fevereiro, podem não ser cumpridos (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2016 às 10h19.

Tradings de soja trabalham sob tensão no norte de Mato Grosso com a possibilidade de que alguns contratos de entrega do produto não sejam cumpridos nas próximas semanas dentro do prazo previsto, após problemas climáticos atrasarem a colheita e afetarem as produtividades.

Mato Grosso, maior Estado produtor de grãos do país, sofreu com falta de chuvas no início da safra, prejudicando o calendário de semeadura.

Enfrentou também precipitações muito irregulares no fim de 2015, provocando perdas em diversas lavouras.

Desde a virada do ano, as chuvas voltaram para esta região, mas as preocupações não se dissiparam.

Contratos firmados ainda no ano passado, com entregas de soja prevista para janeiro e início de fevereiro -- as primeiras da temporada --, podem não ser cumpridos por produtores, obrigando grandes compradores a buscar alternativas, como pagar preços mais elevados pela soja disponível no mercado.

Na quinta-feira, no escritório de uma trading internacional em Sinop, o gerente da unidade observava pela janela a chuva forte caindo, mas lembrava-se do aviso que recebeu de muitos dos agricultores com os quais firmou contratos antecipados: "A entrega da soja vai atrasar 15 a 20 dias".

O problema é que os primeiros navios agendados e, principalmente, a fábrica de farelo e óleo da companhia, não podem ficar esperando parados em janeiro.

"Tem que ficar atento. Tenho que ter uma carta na manga", disse ele, sob condição de anonimato, revelando que já busca fornecedores que tenham soja para pronta entrega.

Nas contas desta trading, contratos firmados ainda no ano passado, com entrega prevista em janeiro, giravam na casa de 58 a 60 reais por saca de 60 kg.

Atualmente, são oferecidos 66 reais para o agricultor que tiver o produto para carregamento imediato.

"As multinacionais buscam não perder negócios (de exportação). Estão pagando ágio", relatou o diretor da corretora Confiança, Vanderlei Angonese, também de Sinop.

O prejuízo, no fim das contas, recai principalmente sobre os desafortunados que tinham contratos e os quais o clima não ajudou. Agricultores relataram que os contratos com as tradings, nesses casos, preveem multas e renegociações, com juros.

Levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) na semana passada mostrou que a largada da colheita no Estado foi bem mais lenta do que no ano anterior.

Agentes do mercado esperam que grandes volumes comecem a chegar aos armazéns, reduzindo a disputa pelos primeiros carregamentos, a partir de 10 de fevereiro.

Volumes

Além do atraso, os volumes disponíveis na metade norte do Estado, a mais afetada pela irregularidade das chuvas, também preocupam o mercado.

"É uma safra complicada. A primeira colheita, de soja precoce, está colhendo mal... O receio é não conseguir cumprir os volumes contratados", disse à Reuters o diretor de um grande grupo local, que opera armazéns e atua na comercialização de grãos.

"Tenho conhecimento de alguns produtores que tiveram sérios problemas", acrescentou.

Na região, não se ouve falar em quebra generalizada, mas há consenso entre produtores e compradores de que as chuvas mal distribuídas afetaram fortemente áreas isoladas, com perdas que podem variar de 30 a até 50 por cento, enquanto outros agricultores tiveram chuvas abundantes e nenhuma perda de rendimento.

Neste cenário, cresce o risco para as tradings que financiaram os produtores, dando crédito antecipado para a compra de insumos, com o compromisso de pagamento em sacas de soja, no momento da colheita.

O sistema, conhecido como "barter", voltou a ganhar espaço no Brasil no último ano, após um aperto nas linhas de crédito oficial subsidiado oferecidas pelo governo federal.

Na opinião do diretor regional de outra grande trading internacional, são essas empresas as mais expostas atualmente aos riscos de eventuais problemas com produtores.

"É mais preocupante para as tradings que financiaram (os insumos para os produtores)", disse o executivo, que não está autorizado a falar com a imprensa. "O problema não é fechar negócio, é receber o que já foi comprado."    

Falta de consenso 

Em uma sala do Sindicato Rural de Sinop, em uma reunião informal --e muito acalorada-- entre alguns produtores esta semana, era difícil ouvir uma opinião convergente sobre o tamanho das perdas provocadas pela falta de chuvas, que afetou as lavouras em "manchas" desiguais.

"A soja não vai ter a carga (volume de grãos em cada planta) que a gente achava. Vamos saber, realmente, só na hora da colheita", disse o agricultor Adelmo Zuanazzi.

"As médias estão decepcionando", disse o presidente do sindicato, Antônio Galvan.

Uma curta viagem de carro pelos arredores da cidade já é suficiente para evidenciar as diferenças de produtividade.

Em um trecho de menos de três quilômetros, a mesma variedade de soja, plantada em um intervalo de poucas semanas, apresenta portes completamente diferentes, variando de poucos centímetros de altura e poucas vagens, ao porte habitual das plantas saudáveis, na altura da cintura.

"O uso de diferentes variedades também mostrou resultados muito diversos", contou o produtor Nilson Fortuna.

No início da semana, o Imea reduziu sua estimativa para a safra da oleaginosa no Estado para 27,82 milhões de toneladas, ante 28,03 milhões de toneladas da previsão divulgada em dezembro.

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