Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3: Cielo (CIEL3) liderou as altas do índice no ano (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 30 de dezembro de 2022 às 09h30.
Última atualização em 25 de janeiro de 2023 às 15h28.
Depois de amargar queda de 12% no ano passado, o Ibovespa encerrou 2022 no positivo, com alta de 4,7%. Apesar do fechamento no azul, menos da metade das ações do Ibovespa terminaram o ano em alta – 53 dos 91 papéis do índice caíram ao longo de 2022.
A resposta para o desempenho está na volatilidade. “Este ano, o Ibovespa teve meses com quedas de dois dígitos. Então, realmente não foi fácil ser investidor de renda variável. A volatilidade foi muito grande e, ainda que tenha fechado no positivo, o índice não conseguiu bater sua principal concorrente, a Selic, que está em 13,75% ao ano”, avalia Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos.
O descompasso entre o desempenho geral do índice e o que aconteceu com grande parte das ações também pode ser explicado pelo peso de cada papel no Ibovespa. As ações com maior participação no índice, que são Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3/PETR4), tiveram altas expressivas neste ano. A mineradora saltou 25%, enquanto a petroleira registrou ganhos de 35% e 30%, respectivamente. Os papéis acompanharam os ganhos das commodities no ano, que subiram de preço com a guerra na Ucrânia.
No caso da Petrobras, vale destacar os dividendos. A empresa chegou a ser a maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre, atraindo investimentos mesmo em um conturbado, com eleições e possibilidade de mudança na estratégia da companhia sob a nova gestão Lula.
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Neste ano de altos e baixos, os maiores ganhos foram liderados pela Cielo (CIEL3), que subiu mais de 100%. Na sequência, a Prio (PRIO3), ex-PetroRio, que foi o maior destaque de alta nos quatro anos de governo Bolsonaro, e BB Seguridade (BBSE3).
Na ponta oposta, a lanterna do índice ficou com IRB (IRBR3), Americanas (AMER3) e CVC (CVCB3). Veja abaixo os comentários dos analistas sobre as maiores altas e baixas das ações do Ibovespa em 2022:
“A ação estava bastante descontada e a empresa demonstrou algumas mudanças importantes no início do ano, como a aposta e expansão de produtos com maior potencial de rentabilidade, foco em contenção de custos e em seu negócio principal, que é o de pagamentos, além da priorização de clientes mais rentáveis. Esse movimento de reestruturação gerou forte recuperação para os preços da companhia”, avaliou Bruna Sene, analista da da Nova Futura Investimentos.
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“A alta da Prio esteve muito relacionada com a sua execução, que se mostra extremamente bem feita: superando o guidance, conseguindo extrair mais barris por dia do que o esperado, conseguindo diminuir o custo de extração de petróleo. E, claro, sendo favorecida ainda pela guerra na Ucrânia, que aumentou bastante o preço do petróleo durante o primeiro semestre e alavancou ainda mais a receita da companhia”, afirmou Cruz.
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“A alta da BB Seguridade está mais relacionada à elevação da Selic. No começo do ano, não se esperava que a taxa fosse chegar a 13,75% ao ano e muitos economistas renomados falavam em cortes já no último trimestre. Depois, a expectativa era de corte no primeiro semestre de 2023, e mais uma vez a curva de juros pesou para cima. As seguradoras se beneficiam desse movimento, com o resultado delas saindo bem melhor que o esperado”, diz Cruz.
“A queda forte nas ações do IRB iniciou com fraudes descobertas nos balanços da empresa no início de 2020. Desde então a empresa vem sofrendo para recuperar a credibilidade. Além disso, após as correções nos resultados, a empresa vem reportando prejuízos trimestrais seguidos e tem dificuldade para reverter esse cenário. Este ano ainda sofreu com o aumento da sinistralidade no segmento agro”, afirmou Sene.
“A empresa faz parte do setor de consumo cíclico, que foi muito afetado pelo cenário macroeconômico bastante desafiador, com alta na inflação e nos juros. Esse cenário gerou impacto negativo nos resultados da companhia, que sofreu com queda nas vendas físicas e teve sua rentabilidade pressionada pelas despesas financeiras”, avaliou Sene.
“A empresa sofreu bastante com a desvalorização cambial ou pelo menos a volatilidade cambial ao longo do ano, que também impactou as aéreas. E, por mais que 2022 tenha sido sim um ano de grande crescimento para o turismo, a empresa ainda tem muito prejuízo para reverter de 2020 a 2021. Então, é possível ver um ano de melhora, mas não de normalização. Talvez uma recuperação a níveis pré-pandemia venha apenas em 2024”, concluiu Cruz.