Cielo: ações acumulam mais de 100% de alta (SOPA IMAGES/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 17 de agosto de 2022 às 10h59.
As ações da Cielo caíram de forma desenfreada nos últimos quatro anos, com recomendações de venda acumuladas entre os analistas e apostas do mercado de que a gigante de pagamentos brasileira não seria capaz de acompanhar o rápido crescimento dos novos entrantes no setor. Agora, a Cielo esboça uma recuperação inesperada.
Os papeis da companhia com sede em Barueri, São Paulo, mais do que dobraram no acumulado do ano, liderando ganhos percentuais no Ibovespa, à medida que a alta de juros encareceu o custo de captação para as rivais Stone e PagSeguro, permitindo que a Cielo recuperasse participação de mercado e atingisse um novo patamar de rentabilidade.
A Cielo, controlada por Banco do Brasil e Bradesco, apresentou um lucro bem acima do esperado no segundo trimestre -- mesmo excluindo itens não recorrentes -- e fez com que analistas incluindo Henrique Navarro, do Santander, ficassem otimistas com a empresa pela primeira vez em anos.
“Há um ciclo virtuoso para a Cielo”, disse Navarro, o primeiro analista a rebaixar o papel para venda após as ações atingirem um pico em 2015. Desde então, a empresa perdeu cerca de R$ 81 bilhões em valor de mercado e fechou na mínima histórica em dezembro do ano passado.
A empresa chegou a ser uma das “queridinhas” dos investidores no setor financeiro da bolsa, oferecendo tecnologia de pagamentos a comerciantes ao redor do Brasil e também permitindo o adiantamento do recebimento de valores futuros. Isso foi colocado em xeque após uma série de empresas entrarem no setor com preços menores aos consumidores -- fazendo com que a Cielo perdesse espaço.
Agora, após a taxa básica de juros subir de 2% para perto de 14% em menos de dois anos, os novatos estão tendo dificuldade em acessar capital barato para oferecer crédito, enquanto a Cielo -- graças aos grandes bancos controladores que ajudam a diminuir custos de captação -- leva vantagem, segundo Navarro.
“O papel estava na bacia das almas”, disse Marcos Peixoto, gestor da XP Asset Management. “Mas, nesse cenário de juros altos, a Cielo tem uma vantagem pelo aspecto do funding. O ambiente competitivo está bem melhor, enquanto os pares sofreram com problemas operacionais”, disse Peixoto.
Mesmo após a recuperação recente, as ações negociam a cerca de 8 vezes o lucro esperado para 2023, um múltiplo atrativo, disse Peixoto.
XP Asset, BW Gestão de Investimentos, Ibiuna Investimentos e Norte Asset Management estão entre as casas que aumentaram a posição em Cielo ao longo dos primeiros quatro meses do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Apesar do espaço para ganhos adicionais no curto prazo, a Cielo precisará lidar com desafios como expectativas para um crescimento econômico fraco da maior economia da América Latina em 2023 e uma reversão do ciclo de juros no Brasil em algum ponto -- o que pode levar a um novo cenário competitivo mais agressivo, disse Navarro.
Outro ponto de atenção é o que os controladores podem decidir fazer com a companhia. Ao longo dos últimos anos, a mídia local reportou que Banco do Brasil e Bradesco estavam considerando fechar o capital da empresa.
Porém, antes disso, a empresa pode colher ganhos até mesmo do sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central. Originalmente visto como uma ameaça para o setor -- pois diminuiria a necessidade de empresas que intermediassem pagamentos para lojistas --, o Pix acabou não sendo um “vilão” e pode estar até ajudando os volumes de negociações com cartões, segundo Pedro Leduc, analista do Itaú BBA.
“O Pix gerou muito ruído e os investidores falavam que a maquininha e o cartão morrerriam”, disse Leduc. “Só que não foi o que aconteceu.”