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Chineses desconfiam da alta do minério de ferro e abrem investigação

Notícia derrubou os preços das ações da Vale e da CSN mais cedo

Minério de ferro: alta de mais de 50% no ano. (Dado Galdieri/Bloomberg)

Minério de ferro: alta de mais de 50% no ano. (Dado Galdieri/Bloomberg)

TL

Tais Laporta

Publicado em 5 de julho de 2019 às 14h27.

Última atualização em 5 de julho de 2019 às 14h35.

O preço do minério de ferro no porto chinês de Qingdao, o principal do país, caiu 5,92% hoje, para US$ 114,91, mas ainda acumula alta de mais de 50% no ano. A disparada dos preços, provocada em parte pelos problemas da Vale após a tragédia de Brumadinho e pela alta do frete após o conflito entre EUA e Irâ, levou oito das principais siderúrgicas chinesas a formarem um grupo para investigar se “fatores não relacionados ao mercado” estão impulsionando os preços do minério de ferro e pediram ao governo que mantenha a estabilidade do mercado, segundo a agência Reuters.

A notícia derrubou os preços das ações da Vale, que recuam 3,60% hoje, e da CSN, que tem grande parte de sua receita vinda da mina Casa de Pedra, e cuja ação cai 3%. Bradespar PN, holding do Bradesco que tem grande parte de seu capital investido em ações da Vale, cai 3,2%.

Os executivos dessas oito siderúrgicas, que juntas representam 30% da produção de aço da China, se reuniram dia 27 de junho, para discutir estratégias para lidar com um aumento nos preços do minério importado, que acumula alta de 69% no ano. As empresas anunciaram que criarão um grupo de investigação para analisar a metodologia de preços da commodity, coordenar com as bolsas de futuros para estabilizar o mercado e pedir aos departamentos governamentais para que “sustentem a ordem no mercado”;

Segundo a XP Investimentos, metodologias mal projetadas por agências de preços, especuladores no mercado futuro e mecanismos de negociação ruins no mercado à vista foram os principais pontos mencionados na nota da reunião como responsáveis por impulsionar a alta da commodity.

Mas a alta dos preços não pode ser atribuída apenas à especulação, como acreditam as siderúrgicas chinesas. Em relatório sobre o setor, o BB Investimentos observa que, em junho, as exportações de minério de ferro F caíram 1.4% sobre o mês anterior depois de dispararem 63% em maio. No que tange preço médio (US$/t), entretanto, houve um movimento de alta contínuo, mesmo nos meses com menores volumes exportados, devido aos altos preços nos mercados internacionais.

Em junho, o preço da commodity ficou em média em US$ 110,6 a tonelada ante US$ 92,5/t em maio. Os efeitos de fechamento de capacidades no Brasil devido a Brumadinho e a queda de produção na Austrália em razão de condições climáticas foram catalizadores importantes para a alta nos preços do minério observada nos últimos meses, diz o BB. “Adicionalmente, vimos a produção de aço na China em níveis recordes em maio, um fator adicional que ajudou a impulsionar os preços de minério”, diz o relatório.

Com isso, os estoques de minério de ferro nos portos chineses caíram para 105,4Mt, com a demanda subindo e a oferta encolhendo. Recentemente, a mineradora australiana, Rio Tinto, revisou seu guidance 2019 de produção para baixo, aumentando as pressões nos preços.

“Estamos observando o movimento de consumo de estoques, como mencionamos nos relatórios anteriores, devido aos menores embarques chegando aos portos chineses”, diz o BB. “Em relação ao frete, de Tubarão (BZ) a Qingdao (CH) os valores aumentaram, uma vez mais, agora em US$ 18,4/t (aproximadamente 12%) com os conflitos entre EUA e Irã ganhando um tom mais sério”, observa o banco. Já para metais básicos, os preços de alumínio, níquel e cobre subiram no mês.

O BB acredita que, neste mês, há espaço para correção de preços de minério de ferro, dado o retorno de da mina de Brucutu da Vale e investigações das autoridades chinesas sobre manipulação dos preços da commodity. Nas siderúrgicas, a demanda deve continuar tímida no curto prazo, seguindo as projeções atuais para a economia doméstica. Dada a temporada de resultados, as ações das empresas deverão ser influenciadas pelos números apresentados, caso eles venham abaixo ou acima do consenso. O banco indica compra para Vale, CSN e Gerdau, e manter para Usiminas.

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