Dólar: cenário externo com disputa comercial e cena local predominaram sobre os negócios (Gary Cameron/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de dezembro de 2018 às 17h20.
Última atualização em 5 de dezembro de 2018 às 17h39.
São Paulo - O dólar terminou mais um pregão em alta ante o real, o segundo seguido, com a cautela com o cenário externo em meio à disputa comercial e a cena local predominando sobre os negócios.
O dólar avançou 0,23 por cento, a 3,8682 reais na venda. Na mínima, pela manhã, quando passava por leve correção, marcou 3,8354 reais e, na máxima, foi a 3,8848 reais. O dólar futuro tinha alta de cerca de 0,50 por cento.
"Como tinha feito um movimento muito forte no final do dia (terça-feira), o dólar abriu para baixo. Agora, está voltando a ter cautela. Lá fora a questão EUA-China está indefinida. Há ainda receios locais", explicou o operador de câmbio da corretora Spinelli José Carlos Amado quando o mercado mudou de rota, citando a reforma da Previdência.
A frágil trégua entre Estados Unidos e China mantinha as preocupações sobre o desaquecimento econômico global, sobretudo depois de o presidente Donald Trump ter deixado claro na véspera que é o "homem das tarifas" e que, se não chegar a um acordo com a China durante os 90 dias de trégua, ele não hesitará em elevar os impostos sobre os produtos chineses.
Nesta quarta-feira, no entanto, ele suavizou o discurso ao declarar ter acreditado nas palavras do presidente chinês Xi Jinping durante encontro no final de semana e que o país está trabalhando firme para chegar a um acordo.
Entretanto, outra retórica dos EUA acabou trazendo um problema geopolítico que se soma à lista de preocupações dos investidores. Nesta quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que seu país terá que responder se os EUA saírem do Tratado de Controle de Forças Nucleares de Alcance Intermediário.
A lista inclui ainda os temores de recessão, surgidos depois que a curva de juros norte-americana se achatou na véspera e gerou uma onda generalizada de vendas nos mercados, hoje aliviada pelo fechamento de Wall Street em luto pelo falecimento do ex-presidente George H.W.Bush.
"É um movimento natural de esgotamento do ciclo de aperto monetário, já que a política demora a ser repassada para a economia", avaliou o economista-chefe da gestora Infinity, Jason Vieira.
No mercado internacional, o dólar rondava a estabilidade ante a cesta de moedas e operava misto ante as divisas emergentes, em alta ante o peso chileno e queda ante a lira turca.
Internamente, os investidores acompanharam as negociações políticas, um dia depois de novo adiamento da votação do projeto de lei da cessão onerosa. O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, indicou nesta manhã que a votação só deve ocorrer em 2019, já que é uma discussão "muito difícil de ser feita em 2 ou 3 semanas".
O fatiamento da reforma da Previdência admitido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro também gerava desconfiança dos investidores. Na véspera, ele disse que pode dividir o envio de uma proposta de reforma ao Congresso Nacional, que inicialmente deve contemplar mudanças nas regras para o setor público e também que preveja a adoção de uma idade mínima para o recebimento de benefícios, com diferentes idades para a aposentadoria de homens e mulheres.
Nesta quarta-feira, ele declarou que a prioridade do governo será aprovar a idade mínima para a aposentadoria, com a possibilidade de aproveitar a atual proposta que já tramita no Congresso nesse sentido, e acrescentou que pretende que o restante da reforma da Previdência comece a ser votado em até seis meses.
"Acho que, por ora, está tendo muito ruído. O mercado está sendo precipitado. Na hora que o novo governo se sentar na cadeira, vamos ver o que tem para fazer", concluiu Vieira.
O BC vendeu nesta sessão 13,83 mil contratos de swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares. Desta forma, rolou 2,074 bilhões de dólares do total de 10,373 bilhões de dólares que vence em janeiro. Se repetir e vender diariamente esta oferta até 21 de dezembro, o BC terá feito a rolagem integral.