O BMG é o maior entre os bancos de médio porte especializados em crédito consignado (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2012 às 09h55.
São Paulo - A captação internacional do BMG SA nesta semana, a primeira do banco em quase um ano, mostra que os investidores estão exigindo um prêmio para comprar dívida de bancos de porte médio do Brasil afetados por restrições em fontes de financiamento e cortes de notas de crédito.
O banco, sediado em Belo Horizonte, emitiu títulos de cinco anos, em dólares, que pagaram taxa de 9,75 por cento, ou 866 pontos-base a mais que os papéis do Tesouro americano com vencimento similar, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Quando o banco emitiu títulos de 10 anos em julho de 2010, a taxa foi de 586,5 pontos-base acima dos Treasuries americanos. A taxa dos títulos do BMG também foi 448 pontos-base a mais que a média dos títulos de bancos da América Latina, mostram dados do Credit Suisse Group AG.
Bancos de médio porte com menos de R$ 2,2 bilhões patrimônio buscam o mercado internacional de dívida para obter financiamentos de longo prazo que são escassos no Brasil. O aumento da concorrência com instituições de maior porte está afetando os lucros dos médios e forçando-os a fazer empréstimos de maior prazo para proteger sua participação de mercado, disse Celina Vansetti, chefe de pesquisas da América Latina na Moody’s Investors Service, em Nova York. Oito bancos de médio porte tiveram sua nota de crédito rebaixada nos últimos 12 meses.
“Eles tiveram uma exposição ao mercado que talvez tenha sido boa demais para ser verdade”, disse Vansetti em entrevista por telefone. “O que poderemos ver daqui para frente é que o mercado vai continuar a penalizar o segmento como um negócio que tem desafios.”
Os títulos do BMG rendem 784 pontos-base acima dos papéis do governo brasileiro com tempo de maturação similar, de acordo com dados da Bloomberg.
Crédito consignado
Bancos brasileiros de médio porte emitiram US$ 7,7 bilhões em títulos denominados em dólar entre 2010 e 2011, ou cerca de 10 por cento de todas as emissões do setor financeiro brasileiro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Financiamentos de longo prazo são limitados no País devido à maior taxa de juros real do Grupo dos 20 após o da Rússia e também por resquícios da hiperinflação, que chegou a 6.000 por cento em abril de 1990 e alimentou uma cultura de aversão ao risco de longa duração.
O BMG é a primeira instituição focada em crédito consignado a fazer uma captação em dólar no exterior desde a colocação do Banco Cruzeiro do Sul SA em abril de 2011. No crédito consignado, o banco tem permissão para deduzir as prestações diretamente do salário ou aposentadoria do cliente.
O BMG, o maior entre os bancos de médio porte especializados em crédito consignado, teve forte demanda por seus títulos, e as taxas maiores foram reflexo do aumento de custos para todos os bancos por causa das crises financeiras nos Estados Unidos e na Europa, disse Ricardo Gelbaum, diretor financeiro do BMG em São Paulo.
‘Bons nomes’
“O mercado não está comprando dívida de qualquer banco”, disse Gelbaum em entrevista por telefone de São Paulo. “O mercado está aberto para bons nomes.”
Os custos de captação para bancos médios no segmento de crédito consignado dispararam após a abertura da investigação criminal no Banco Panamericano SA em novembro de 2010, que sugou a liquidez do mercado onde os bancos vendiam carteiras de crédito. O travamento dos mercados internacionais de crédito diante da crise de dívida soberana na Europa também limitou o acesso a recursos, de acordo com a Moody’s.
A Moody’s rebaixou a nota de crédito do BMG em um nível para Ba3 em 7 de março, três níveis abaixo do grau de investimento, citando o acesso “volátil” a fundos e a crescente concorrência com bancos grandes no negócio de empréstimo consignado. A agência colocou a nota do Banco Cruzeiro do Sul, de São Paulo, em revisão para um possível rebaixamento em 4 de janeiro.
A assessoria de imprensa do Cruzeiro do Sul em São Paulo não quis fazer comentários para esta reportagem.
‘Estressados’
A Standard & Poor’s rebaixou a classificação de risco do BMG em dois níveis para B, ou cinco níveis abaixo do grau de investimento, em 12 de março.
O prêmio pago pelo BMG sugere que os investidores “estão estressados” em relação ao modelo de negócios de instituições financeiras de médio porte, disse Jason Brady, diretor gerente da Thornburg Investment Management Inc., que supervisiona cerca de US$ 81 bilhões em Santa Fé, no Estado americano do Novo México. O crédito consignado “é bom no sentido de que não há muitas perdas, mas é difícil no sentido de que a instituição tem de fazer acrobacias com o balanço patrimonial para financiar essas operações”, ele disse.
Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities, disse que existe demanda por papéis de bancos médios porque eles se beneficiam dos esforços do governo para expandir o acesso a recursos.
Venda de carteiras
Em 22 de dezembro, autoridades anunciaram um pacote de incentivos para os bancos grandes investirem R$ 30 bilhões do depósito compulsório nas carteiras de empréstimos de instituições médias, a fim de aliviar restrições de fundos.
O BMG levantou R$ 1 bilhão com a venda de carteiras de empréstimos e outras dívidas desde o anúncio em dezembro, de acordo com o Gelbaum.
“Não acho que eles terão qualquer problema para obter dinheiro no longo prazo por causa de toda a ajuda e proteção que o Banco Central está oferecendo para o segmento middle market”, Pasquarelli afirmou em entrevista por telefone de Nova York.
A captação do BMG não abre necessariamente as portas para que outros bancos de médio porte acessem o mercado internacional, disse Brady, da Thornburg.
“Essa captação foi na verdade tão desafiadora que não deve levar a uma onda de novas emissões”, disse Brady. “Parece que bancos médios têm um nicho mais difícil de se defender, menos interessante e, por isso, estão sendo menos respeitados pelo mercado do que os Itaús do mundo.”