Hoje, os chamados “outliers” são retirados do cálculo para evitar distorções, mas eles passarão a ser considerados depois de ter seu peso ajustado por um sistema de distribuição de probabilidades (Marcos Santos/usp imagens)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 17h43.
A Cetip deverá adotar uma nova forma de calcular o juro do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), taxa média das operações diárias feitas entre bancos com garantia em papéis privados.
O CDI é um importante indexador de aplicações como CDBs pós-fixados. O cálculo atual tem sido alvo de críticas por levar em consideração poucas operações no mercado e por ter se descolado muito da sua correspondente em títulos públicos, a taxa diária Selic.
No ano passado, o CDI acumulado ficou em 8,37%, para 8,49% da Selic. No ano, o acumulado até dia 20 de março do CDI é de 1,45%, para 1,51% da Selic. Na média, o juro do CDI neste ano tem ficado entre 6,95% e 6,99% ao ano, enquanto a Selic efetiva está entre 7,11% e 7,16% ao ano.
Já o número de operações no mercado interbancário que servem de base para o cálculo da taxa segue abaixo de 20 por dia, variando entre 14 e 19 negócios diários este ano. Como comparação, em 2010, antes dos problemas com o Banco Panamericano, os negócios diários no interbancário superavam 50 por dia.
Depois, caíram para 40 e, no ano passado, em meio aos problemas envolvendo outros bancos como Cruzeiro Sul e do BVA, os negócios caíram para menos de 20. A queda reflete a menor disposição de grandes bancos emprestarem recursos para bancos menores no mercado.
Baixo quórum
De acordo com Carlos Ratto, diretor-executivo comercial da Cetip, no fim de abril ou no começo de maio, a empresa passará a usar o critério de “fall back”, no qual caso o número de negócios caia abaixo de um determinado limite, o sistema passaria a usar automaticamente a média histórica da taxa do CDI em relação à Selic.
Inclusão dos extremos
Outra mudança é que o cálculo passará a considerar as taxas muito altas ou muito baixas registradas ao longo do dia para o cálculo da média.
Hoje, os chamados “outliers” são retirados do cálculo para evitar distorções, mas eles passarão a ser considerados depois de ter seu peso ajustado por um sistema de distribuição de probabilidades.
Com isso, seu impacto na formação da taxa será menor, mas já influenciará o percentual final. “Vamos ter pesos menores ponderados de acordo com as características das amostras de taxas dos negócios feitos entre os bancos”, explica Ratto. “Se a taxa estiver muito fora da média, seu peso no cálculo final será quase zero”, diz.
Excesso de liquidez
O executivo considera, porém, que o principal problema do descolamento da taxa do CDI em relação à Selic não é o baixo número de operações que servem de referencial para o juro privado, mas o excesso de liquidez no mercado.
Esse excesso é reduzido no caso dos papéis públicos pela atuação do Banco Central, que todo dia faz leilões para enxugar o mercado, o que não acontece nos papéis privados.
Diferente da libor
Ratto nega que haja uma manipulação da taxa Selic a favor dos bancos, que pagariam menos aos clientes nas aplicações feitas em CDBs corrigidos pelo CDI.
Ele lembra que grande parte das operações de crédito também são corrigidas pelo referencial, o que reduziria também a receita dos bancos.
Ele também rejeita as comparações com o escândalo da manipulação da taxa básica do mercado londrino (libor). “A libor era calculada a partir de uma pesquisa com os bancos, que diziam qual era a taxa média que estavam cobrando no dia, o que abria espaço para desvios”, diz. “No Brasil, usamos os negócios efetivamente fechados”, explica.