No acumulado de outubro até o dia 21, houve uma saída de 11,11 bilhões de recursos estrangeiros no mercado secundário da B3. (Germano Lüders/Exame)
Tais Laporta
Publicado em 24 de outubro de 2019 às 06h50.
Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 06h50.
A aprovação definitiva da reforma da Previdência no Congresso ajuda, mas não é o que vai trazer de volta o investidor estrangeiro que saiu da bolsa brasileira. Para agentes do mercado, uma entrada maciça de recursos externos está mais condicionada ao que vem a seguir: novas medidas de ajuste fiscal e uma recuperação concreta da economia.
Até se espera um fluxo pontual do dinheiro gringo na terça-feira (os dados ainda não foram divulgados), dia em que o Ibovespa voltou a quebrar recordes de pontuação e o dólar teve uma queda acentuada. Este movimento atípico (já que quando um sobe, o outro costuma cair) pode indicar a entrada de dinheiro estrangeiro, segundo analistas da Rico. Hoje, estes recursos representam 45% do total aplicado na B3.
No dia em que isso aconteceu, o Senado aprovou o texto-base da reforma da Previdência por 60 votos a 19, preservando uma economia prevista de 800 bilhões de reais nos próximos 10 anos. Foi o que fez o principal índice da B3 fechar acima dos 107 mil pontos pela primeira vez na história, enquanto o dólar caiu 1,32%, a 4,07 reais.
No acumulado de outubro até o dia 21, houve uma saída de 11,11 bilhões de recursos estrangeiros no mercado secundário da B3, que exclui as ofertas iniciais de ações. No ano, o fluxo gringo na bolsa paulista está negativo em 5,93 bilhões de reais, somando os mercados primário (ofertas de novas ações) e secundário.
O que se dizia até então era que o gringo estava apenas aguardando a aprovação definitiva da Previdência para voltar à bolsa. Agora que isso aconteceu, o consenso é que o retorno será mais lento do que se imaginava a princípio.
A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, defende que a conclusão da reforma, por si só, não é capaz de desencadear uma entrada imediata de recursos estrangeiros, mas a agenda de novas medidas que se abre pavimenta o caminho para isso.
“O que vai fazer a entrada acontecer serão dados mais concretos de crescimento da economia, e já vemos sinais de que isso está acontecendo”, diz. Solange acrescenta que o novo cenário abre espaço, inclusive, para revisar as projeções para o PIB brasileiro para cima.
Para o presidente e sócio da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa, só haverá uma entrada mais sólida de recursos externos quando os sinais de crescimento da economia forem retomados. “É isso o que puxa o lucro das empresas e atrai investimento estrangeiro”, diz.
Ele acrescenta que a desaceleração de grandes potências pode acabar beneficiando o Brasil. Isto porque o receio de uma recessão tem levado Bancos Centrais a reduzirem as taxas de juros lá fora a um ritmo mais acelerado, que já se encontram em níveis historicamente baixos.
Este movimento incentiva o fluxo de estrangeiros para praças emergentes como o Brasil. “Não acredito em uma grande entrada de recursos no curto prazo, mas este processo virá cedo ou tarde”, diz.