C&A: perdas com inadimplência chegaram ao teto, segundo CEO (Deco Rodrigues/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de maio de 2023 às 18h35.
Última atualização em 12 de maio de 2023 às 19h07.
A C&A mostrou, no primeiro trimestre de 2023, o impacto das melhorias operacionais conduzidas ao longo do último ano. A receita líquida cresceu 3,6% no primeiro trimestre, para R$ 1,2 bilhão, mas o Ebitda teve um salto comparativamente maior: passou de R$ 10 milhões em 2022 para R$ 76,9 milhões. Mesmo com uma operação mais enxuta, com despesas operacionais e com investimento menores, o aumento dos juros pesou no resultado da companhia — tanto em serviço da dívida quanto no aumento da inadimplência. Com isso, a varejista teve prejuízo de R$ 126,3 milhões, 17% menor do que o registrado no período equivalente de 2022.
Neste início de ano, as compras de vestuário subiram 6,1%, enquanto as de itens eletrônicos e beleza, somados (as informações não são apresentadas separadamente), tiveram queda de 10,7% em faturamento. Apesar da queda, Paulo Correa, CEO da C&A, explica que a vertical de beleza, reforçada no ano passado com a criação da linha própria de cosméticos, teve um bom desempenho no início de 2023. “Estamos crescendo dois dígitos nesse segmento e aumentando a margem mais do que a média da companhia. É uma divisão que está colaborando positivamente para a companhia, apesar do tamanho ainda reduzido”, diz, à EXAME.
Enquanto a vertical de produtos para a pele ainda tem um porte pequeno na companhia, o que realmente fez a diferença para o ganho de rentabilidade neste trimestre (a margem Ebitda subiu 9,5 pontos percentuais e, a bruta, 3,1 pontos percentuais) tem a ver com uma série de mudanças direcionadas à parte de vestuário desde o início de 2022. Além da revisão da despesa operacional e de custos, investimento em tecnologia direcionado são os principais fatores responsáveis por esse resultado no início do ano.
Detalhando um pouco mais, dois fatores se destacam: distribuição mais assertiva, com o push and pull. Uma estratégia que consiste, resumidamente, em uma maior inteligência logística — em vez de a C&A, por exemplo, distribuir igualmente 5 mil unidades de um mesmo SKU, a companhia manda mil unidades para diferentes lojas e, nas que o produto performa melhor, mais estoque é enviado. O outro ponto é o algoritmo de precificação dinâmica, em que a companhia ganhou mais inteligência para aumentar ou diminuir preços.
Nas compras por canal, a C&A teve forte desaceleração das vendas mesmas lojas ante o ano passado, enquanto a receita digital cresceu 57,7%, para R$ 328,6 milhões. “O poder de consumo está diminuindo e isso acaba causando um volume menor de visitas às lojas. A origem, o fluxo nas lojas está menor como um todo comparado com o ano anterior, isso tem a ver com cenário macro e nível de endividamento das famílias”, diz Correa.
A afirmação fica ainda mais clara ao olhar para a vertical de crédito da companhia. A varejista tem uma oferta própria, o C&A Pay, desde 2021, que se combina com o ‘fade out’ da parceria com a Bradescard. No agregado, esse conjunto teve um resultado pior do que o do ano passado, negativo em R$ 23,4 milhões (ante R$ 17,1 milhões positivos em 2022).
Pesaram no resultado o aumento da provisão para a inadimplência — que saiu de R$ 1,2 milhão negativo em 2022 para R$ 44 milhões negativos — e o aumento da despesa total de serviços financeiros, resultado da estruturação do C&A Pay. O ganho na receita da oferta própria de crédito da varejista não foi suficiente para compensar ambos os impactos.
Para Correa, o resultado neste início de ano dentro da vertical financeira é o pior que a companhia deve apresentar em 2023. “Estamos em um período de dois a três anos de construção de portfólio novo. Existe uma aceleração do nível total de perdas. Apesar do resultado deste início de ano, estamos abaixo do limite estabelecido internamente para inadimplência e acreditamos que já batemos no ‘teto’. Daqui para a frente, estimamos ver uma redução na inadimplência”, diz.
As perspectivas do CEO, se confirmadas (de uma potencial queda de juros) também devem beneficiar o resultado financeiro da companhia. No primeiro trimestre, a C&A teve uma despesa financeira de R$ 101 milhões, refletindo tanto o aumento da dívida quanto do CDI. Além disso, a companhia também "reconheceu uma correção monetária de valor devido ao Bradesco e o ajuste a valor presente das compras de fornecedores, dado o aumento na Selic", segundo o balanço.