Instalação da BRK Ambiental em Limeira, São Paulo: montante irá financiar pagamento de outorgas e dívidas da companhia na concessão de Maceió (BRK Ambiental/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 18h20.
Última atualização em 20 de setembro de 2022 às 14h13.
A empresa de saneamento BRK Ambiental vai emitir debêntures para captar um total de R$ 1,95 bilhão e financiar a sua concessão de serviços de água, esgosto e gestão comercial da Região Metropolitana Maceió e 12 municípios vizinhos.
Os recursos serão usados para pagar o empréstimo ponte obtido e honrar a outorga no leilão, que custou R$ 2 bilhões. As debêntures incentivadas, isentas de Imposto de Renda para os investidores, serão emitidas em série única, com valor unitário de R$ 1 mil e prazo de vencimento de 19 anos e oito meses. Os papéis serão vendidos por meio de oferta pública.
O leilão de Maceió já ocorreu no novo ambiente do setor, após a sanção do Novo Marco do Saneamento, em julho de 2020. Além de trazer maior segurança jurídica para os investidores, a nova legislação estipula métricas mais claras de qualidade e expansão dos serviços para os próximos anos.
O montante de 390 mil debêntures, que corresponde a 20% do valor total da emissão, será destinado, prioritariamente ao varejo. A remuneração máxima do papel poderá ser NTNB-2035 mais 195 bps ou 7,65% ao ano, o que for maior — a ser definido no processo de bookbuilding. A oferta pode ser reservada por investidores até o dia 18 de outubro.
Os coordenadores da emissão são o BTG Pactual, Itaú BBA, Bradesco BBI, Banco Safra. Santander, UBS e XP. Todos deram uma garantia firme à operação.
A concessão em Maceió foi constituída a partir da conquista do leilão promovido pelo Estado de Alagoas e o contrato de concessão é de 35 anos, com investimentos previstos de R$ 2,6 bilhões.
Os serviços atenderão uma população total de 1,5 milhão: são 86 estações de tratamento, 213 poços de água, 9 estações de tratamento de água e 8 estações de tratamento de esgoto.
A concessão tem obrigação contratual de universalizar os serviços de água (100%) até 2027, o esgotamento sanitário (90%), até 2037 e a redução do índice de perdas, dos atuais 59% para, no máximo, 25% até 2041.
A BRK Ambiental oferece serviços de saneamento para 16 milhões de pessoas em mais de 100 municípios do país. Distribuídas por todas as regiões, suas unidades atuam na gestão de serviços de água e esgoto por meio de parcerias com companhias estaduais e privadas, Estados e municípios.
Em abril de 2017, o fundo canadense Brookfield assumiu o controle acionário da BRK, com participação de 70% no capital social. O FI-FGTS mantém participação de 30% na companhia.
No segundo trimestre de 2022 a companhia teve receita líquida de serviços de R$ 698 milhões, um
crescimento de 39% em comparação ao mesmo período do ano passado. Já o Ebitda foi de R$ 348 milhões, um crescimento de 63% em relação ao mesmo trimestre de 2021, com margem de 51%.
A companhia terminou junho com R$ 8,2 bilhões em dívida líquida, equivalente a 7 vezes o Ebitda acumulado em 12 meses. Segundo a empresa, a alavancagem salgada é reflexo do momento dos projetos, que estão em fase de investimentos intensivos.
Em 2023, a BRK enfrentará um pico de vencimentos, no valor de R$ 2,5 bilhões. Mas, desse montante, R$ 1,8 bilhão — ou 72% — refere-se justamente à amortização do empréstimo ponte para a outorga de Maceió.
Os últimos dados reportados pelo Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS) mostram que houve um avanço significativo no setor. No entanto, os números ainda estão muito longe de serem ideais. Em 2020, aproximadamente 84% da população possuía acesso às redes hidráulicas de distribuição, enquanto apenas 55% detinha acesso à coleta de esgoto.
Os níveis atuais do Brasil são similares aos de países como o Peru (53% de serviço de esgoto) e inferiores aos reportados por outros países emergentes. O serviço de esgoto no México, Rússia, Chile e China, por exemplo, já contempla pelo menos 60% da população.
O contexto fiscal mais desafiador e a grande necessidade de investimentos no setor criaram um ecossistema favorável para ampliação das concessões. O atendimento à população é realizado principalmente por empresas pertencentes aos governos estaduais e municipais, que equivalem a 91% dos serviços.
Ou seja, apesar da participação de players do setor privado ter crescido nos últimos anos, ainda é pequena e bastante pulverizada. Atualmente as principais companhias privadas do setor são a Aegea, Iguá, BRK Ambiental e Águas do Brasil.
Desde a sanção do Novo Marco do Saneamento, o investimento previsto somente para os seis principais leilões é equivalente a R$ 44 bilhões, sem considerar o custo das outorgas. Até 2023 são esperados mais seis leilões importantes (de um total de 18), e a soma dos investimentos somente nesses destaques deve acumular mais de R$ 63 bilhões. Os leilões recentes ou no pipeline têm um impacto direto em cerca de 16% da população e 9% dos municípios do Brasil.
Considerando todos os leilões realizados e ainda para acontecer, desde o marco legal, num total de 44, os investimentos deverão superar R$ 68 bilhões — volume apenas do capex, sem contar os mais de R$ 29 bilhões envolvidos no pagamento das outorgas.