A Brasil Foods, maior empresa de alimentos processados do País e maior exportadora mundial de aves, é menos vulnerável às flutuações dos preços das commodities (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2012 às 12h21.
Nova York - O mercado de crédito está recompensando a BRF - Brasil Foods SA e punindo a Marfrig Alimentos SA diante da diferença nas notas de crédito das companhias.
A taxa dos títulos denominados em dólar da Brasil Foods com vencimento em 2020 caiu 26 pontos-base no últmo mês, para a mínima histórica de 5,14 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento dos títulos de vencimento similar da Marfrig disparou 159 pontos-base no mesmo período, para 12,42 por cento em 19 de abril, o mais alto desde janeiro. O custo de captação dos pares da empresa no mercado global teve uma queda média de 23 pontos-base no mês passado para 2,98 por cento, segundo dados do Bank of America Corp.
A Brasil Foods se beneficia da demanda crescente por ativos com ratings melhores diante da crise financeira na Europa e depois que seus esforços para reduzir o endividamento ajudaram-na a obter grau de investimento da Standard & Poor’s e da Moody’s Investors Service. A Marfrig, que iniciou um road show com investidores em 19 de abril, pode ter sua nota junk rebaixada depois que a S&P e a Moody’s revisaram a perspectiva da empresa para negativa, citando aumento do endividamento.
Os ganhos dos títulos da Brasil Foods “ainda têm um certo caminho a percorrer”, disse Autumn Graham, analista de dívida da Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “A Brasil Foods tem tido uma gestão consciente do seu perfil de crédito nos últimos anos.”
Os papéis da Brasil Foods rendem 223 pontos-base a mais que títulos do governo brasileiro de prazo similar, comparado a uma diferença de 251 pontos em março, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
A companhia não retornou pedidos de comentário da reportagem por telefone e e-mail.
Melhora de nota
A Brasil Foods busca limitar a relação entre dívida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização a duas vezes, disse o diretor financeiro Leopoldo Saboya durante teleconferência com analistas para discutir o balanço em 23 de março.
A S&P melhorou a classificação de risco da Brasil Foods em um nível para BBB-, o menor na escala de grau de investimento, em 4 de abril, duas semanas após a Moody’s ter elevado a nota da companhia. A Brasil Foods, maior empresa de alimentos processados do País e maior exportadora mundial de aves, é menos vulnerável às flutuações dos preços das commodities do que o frigorífico Marfrig, disse Flávia Bedran, analista da S&P.
“A companhia tem uma marca muito forte de alimentos processados e isso foi importante devido à sua resistência aos ciclos econômicos”, Flávia disse em entrevista por telefone de São Paulo. “Esperamos que uma empresa com grau de investimento tenha fluxo de caixa mais previsível. Também vimos um bom histórico de desalavancagem desde a fusão.”
Aquisições da Marfrig
A Brasil Foods foi criada quando a Perdigão SA comprou a Sadia SA por US$ 3,8 bilhões em 2009. A aquisição foi aprovada em 13 de julho pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica, sob a condição de a Brasil Foods suspender o uso da marca Perdigão e vender alguns ativos para garantir a concorrência no mercado doméstico.
A Marfrig está pagando R$ 350 milhões por alguns dos ativos que a Brasil Foods precisa vender numa operação de troca. A segunda maior produtora de alimentos processados do País realizou mais de 30 aquisições desde 2007 para diversificar suas atividades e competir com a Brasil Foods por uma fatia maior dos mercados de refeições prontas e aves.
A Marfrig tem nota de crédito B1 atruibuída pela Moody’s e B+ pela S&P, quatro níveis abaixo do grau de investimento. A companhia está se encontrando com investidores em renda fixa de 19 a 23 de abril, disse uma pessoa familiarizada com a operação que pediu para não ser identificada por não estar autorizada a falar publicamente sobre o assunto.
“Entendemos que o ano de 2011 foi desafiador para o mercado e para a Marfrig, mas tivemos um progresso significativo na execução de nossa estratégia de longo prazo,” disse Ricardo Florence, diretor de estratégia corporativa e de relação com investidores da companhia, em teleconferência em 26 de março.
A Marfrig não respondeu solicitações de comentário para esta reportagem.
‘Racionalizando’ o negócio
“As pessoas gostariam de ver a Marfrig absorvendo e racionalizando os negócios que já adquiriu antes de sair atrás de novas oportunidades, considerando que a companhia está bem alavancada e os bônus estão fracos”, Mark Christensen, que ajuda a administrar US$ 1 bilhão em dívida de mercados emergentes na Doubleline Capital LP em Los Angeles, disse em entrevista por telefone. “A Marfrig precisa fazer mais para gerar fluxo de caixa maior e margens melhores, ou se livrar de alguns ativos.”
O rendimento dos títulos da Marfrig com vencimento em 2018 disparou 171 pontos-base no último mês em meio à crise da dívida de Europa, que reduz a demanda por ativos de maior rendimento de mercados emergentes.
Investidores estão rejeitando dívidas da Europa, pressionando o aumento da taxa dos bônus de Espanha e Itália, em meio a receios de que esses países peçam resgate, como ocorreu com Grécia, Irlanda e Portugal.
Para Klaus Spielkamp, operador de renda fixa da Bulltick Capital Markets, os títulos da Marfig vão se recuperar à medida que a empresa diversifica seus negócios.
“Ainda espero que a Marfrig retome a recuperação que mostrava no início do ano”, Spielkamp disse em entrevista por telefone de Miami. “A companhia está caminhando na direção certa. Gosto do fato de eles terem investido em mercados diferentes, não somente em gado. A diversificação dos negócios deles é importante. Agora eles não dependem somente de carne bovina.”