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Brasileiros tomam ruas e traders de Wall Street se preparam

Após protestos contra a corrupção, os impostos e o governo, traders elevaram o custo para garantir a dívida do país para o maior nível em quase seis anos


	Wall Street: swaps de crédito subiram mais rapidamente neste ano do que os da Rússia, da Índia e da China
 (REUTERS/Brendan McDermid)

Wall Street: swaps de crédito subiram mais rapidamente neste ano do que os da Rússia, da Índia e da China (REUTERS/Brendan McDermid)

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Da Redação

Publicado em 18 de março de 2015 às 22h08.

Rio de Janeiro - A tentativa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de restaurar a confiança do investidor no Brasil está sendo minada pela piora da turbulência política e pela insatisfação pública.

Os traders elevaram o custo para garantir a dívida do país para o maior nível em quase seis anos na segunda-feira, um dia depois que mais de um milhão de brasileiros tomaram as ruas para protestar contra a corrupção do governo, os impostos mais altos e a condução da economia da presidente Dilma Rousseff.

Os swaps de crédito subiram mais rapidamente neste ano do que os da Rússia, da Índia e da China, os outros três países que compõem o Bric.

Com a economia à beira de sua recessão mais profunda em um quarto de século, um coro crescente de parlamentares e cidadãos tem se declarado contrário às medidas de austeridade que Levy diz serem necessárias para evitar que o Brasil perca seu grau de investimento.

O Estado de S. Paulo informou na semana passada que o ministro ameaçou deixar o cargo, o que agitou os traders de todo tipo de ativos e aumentou a corrida para venda de dívidas, ações e moeda no Brasil.

“Estamos em um momento de fragilidade”, disse João Júnior, trader de renda fixa da ICAP Brasil, por telefone. A resistência que ele está enfrentando “vai gerar estresse no mercado”.

Em resposta à Bloomberg News, a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda fez referência a um relatório de 13 de março do serviço Valor PRO, no qual Levy disse que ele e sua equipe não têm planos de deixar o governo.

‘Ganhando confiança’

“O primeiro passo para ganhar confiança é colocar as contas públicas em ordem”, disse o economista com doutorado pela Universidade de Chicago.

O índice de aprovação de Dilma caiu para 13 por cento, segundo o Datafolha, nível mais baixo registrado por ela, em um momento em que as medidas defendidas por Levy para reduzir o déficit fiscal estão contribuindo para um desemprego maior e preços mais elevados no varejo.

A pesquisa foi realizada em 16 e 17 de março com 2.842 entrevistados e tem uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A maior economia da América Latina terá em 2015 a maior contração desde 1990 em um momento em que os impostos mais elevados e o real mais fraco estão impulsionando a inflação para acima da meta, segundo a última pesquisa do Banco Central com analistas e dados do Fundo Monetário Internacional.

Os brasileiros protestaram em todos os 26 estados do país no domingo e mais de um quarto dos manifestantes da cidade de São Paulo pediram o impeachment de Dilma, segundo outra pesquisa do Datafolha.

Muitos parlamentares têm tentado bloquear as medidas de austeridade de Dilma. Neste mês, o presidente do Senado, Renan Calheiros, membro da base aliada, rejeitou a medida provisória do governo para reduzir os incentivos fiscais das folhas de pagamento, forçando o Executivo a submeter a proposta novamente na forma de projeto de lei, que levará mais tempo para entrar em vigor.

‘Reconstruir pontes’

O conflito do governo com o Congresso e a reportagem do Estadão provocaram uma especulação, na semana passada, de que Levy deixaria o cargo, contribuindo para uma queda do real frente ao dólar, segundo João Paulo de Gracia Corrêa, gerente da mesa de operações da Correparti Corretora de Câmbio, que negocia US$ 3,9 bilhões por ano.

“O governo precisa tentar reconstruir pontes com o Congresso para ser capaz de aprovar as medidas necessárias”, disse Gracia Corrêa, por telefone, de Curitiba. “Se Levy perceber que não conseguirá, é muito possível que ele desista”.

No ano passado, o Brasil registrou pela primeira vez um déficit primário, que exclui pagamentos de juros.

“Levy está fazendo algum progresso, mas diante de um cenário político muito difícil”, disse Siobhan Morden, chefe de renda fixa para a América Latina da Jefferies Group LLC, por telefone.

“O principal problema, no momento, são a governabilidade e o governo fraco. O desempenho do preço quando você tem essa preocupação principal torna o Brasil vulnerável ao risco do mercado”.

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