A participação dos estrangeiros bateu recorde no mercado à vista, com uma fatia de 50,42%, desbancando os investidores locais, que correspondem a aproximadamente 30% (Hulton Archive/Getty Images)
Karla Mamona
Publicado em 28 de março de 2014 às 11h19.
São Paulo – Os estrangeiros estão cada vez mais ditando o ritmo dos negócios na bolsa brasileira. O número de investidores internacionais na Bovespa representava mais da metade no mês passado.
Segundo um relatório da BM&FBovespa, a participação dos estrangeiros bateu recorde no mercado à vista, com uma fatia de 50,42%, desbancando os investidores locais.
A diferença pode ficar ainda maior neste mês. Em março, a participação dos estrangeiros no volume negociado na Bolsa aumentou para 51,56%. Ou seja, de cada 100 reais negociados, 51,56 reais eram dos investidores internacionais.
Por aqui, a participação dos chamados investidores institucionais, incluindo fundos de pensão e seguradoras, ficou em 29,21%. Em seguida aparecem pessoas físicas (13,68%), instituições financeiras (4,6%), empresas públicas e privadas (0,87%) e outros (0,08%).
O economista e sócio da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, afirma que o desempenho da Bolsa nos últimos anos tem afastado cada vez mais os investidores locais. Em 2013, a Bovespa teve queda de 15,5% - neste ano, a queda chegou a passar dos 10%. As perdas também afetam os investidores internacionais, mas com menor intensidade. “O estrangeiro compra o mercado à vista e vende futuro. Eles operam travados.”
Comparando a Bovespa com as bolsas de outros países, nota-se que não existe um equilíbrio entre o número de investidores estrangeiros, pessoas físicas locais, instituições, etc. Em outros países, o número de investidores estrangeiros e de pessoas físicas praticamente o mesmo.
No Brasil, em março, os investidores internacionais respondiam por 25,51%, enquanto as pessoas físicas somam 6,58%. “Esta falta de equilíbrio faz com que o número de estrangeiros seja sempre maior”, diz Bandeira.
Fragilidade
Com a participação em peso dos estrangeiros, a Bovespa se torna mais suscetível aos acontecimentos externos. Se o cenário internacional está ruim, os investidores tendem a vender seus papéis. Isso ocorre porque o mercado acionário brasileiro tem uma maior liquidez comparada com outros países emergentes.
“Na hora de rearranjar a carteira internacional, a opção dos estrangeiros é sempre pelo Brasil”, conclui Álvaro Bandeira.
O real não ajuda
Entre os motivos para o aumento da participação dos estrangeiros na Bolsa estão o real desvalorizado e os papéis baratos. É o que afirma o consultor de investimentos da Compliance Comunicação, Clodoir Vieira.
Para ter uma ideia da desvalorização do real, ele exemplifica citando os papéis da Petrobras. Na caso da estatal, as ações acumulam queda de 29,63% na análise em dólar, enquanto em real, o percentual é de 19,19%, ou seja, uma diferença de mais de 10%.
No caso da Vale, as ações da companhia caíram 22% em dólar. Em real, a baixa é de 10,5%. “Com a nossa moeda está desvalorizada frente ao dólar, o estrangeiro em vez de comprar uma determinada quantidade de ações, compra o dobro”, explica.
Pessoas físicas
Vale lembrar que, em 2010, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, projetava atrair para a bolsa 5 milhões de pessoas físicas em cinco anos – depois mudou o prazo para 2018, mas a meta ainda está muito distante: a Bovespa encerrou o ano de 2013 com 589.276 participantes.
O número considera cada CPF cadastrado em cada agente de custódia, ou seja, o mesmo investidor pode ser contabilizado mais de uma vez caso possua conta em mais de uma corretora.
O total é 0,36% superior ao de 2012 – e 3,54% inferior ao de 2010, quando a Bovespa teve seu maior número de participantes nos últimos anos: 610.915.