Homem rezando com um terço árabe na Bolsa de Valores de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (Duncan Chard/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2014 às 10h39.
São Paulo/Dubai - O Banco do Brasil, o maior banco da América Latina em recursos, está cortejando investidores no Oriente Médio e na Ásia enquanto se prepara para lançar o primeiro fundo de ações de empresas brasileiras adequado às finanças islâmicas, seguindo a Sharia.
O fundo enfocará as ações de empresas em indústrias como a de commodities, energia, mineração e varejo, segundo Carlos Takahashi, presidente do BB DTVM, a divisão de gestão de recursos do credor.
Representantes do banco se reuniram no mês passado com investidores nos Emirados Árabes Unidos, em Cingapura e em Hong Kong, disse ele, sem informar o tamanho do fundo ou o retorno esperado.
“Estivemos estudando e considerando este fundo nos últimos três anos e percebemos que estamos prontos para lançá-lo”, disse Takahashi em entrevista por telefone de São Paulo, no dia 23 de maio.
“Levou um tempo para entendermos todas as particularidades das finanças islâmicas e é importante para nós acessarmos esses investidores e nos tornarmos próximos deles”.
O BB DTVM, o maior gerente de fundos do Brasil, é o último em uma série de gestores de recursos que tenta assegurar uma fatia da crescente indústria que cumpre as exigências da Sharia.
Os bancos que aderirem à proibição do lucro com juros terão um universo de 70 milhões de clientes em 2018, de 38 milhões em 2013, levando os depósitos islâmicos a dobrarem de tamanho, para US$ 3,4 trilhões no período, segundo a Ernst Young LLP.
Melhor desempenho
O fundo de ações que cumpre as exigências da Sharia e que obteve o melhor desempenho nos últimos 12 meses foi o MENA Growth Fund, do Banco Nacional de Abu Dhabi PJSC, com um retorno de 69 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O índice de referência de ações Ibovespa, com sede em São Paulo, perdeu 5 por cento no mesmo período, mostram os dados.
“Em termos de perfil de risco, essas classes de ativos são novas para a indústria e portanto, da perspectiva da diversificação, deve haver interesse”, disse Abdul Kadir Hussain, que supervisiona cerca de US$ 700 milhões como CEO da Mashreq Capital DIFC, em entrevista telefônica de Dubai, ontem.
Outros fundos estão surgindo para explorar o crescimento da indústria que cumpre as regras da Sharia. A gestora de recursos Threadneedle Investments obteve uma licença para oferecer produtos islâmicos a investidores institucionais na Malásia, em janeiro.
A RHB Asset Management, desse país asiático, começou um novo fundo de ações e renda fixa que visa a região Ásia-Pacífico, sua décima oferta de acordo com a Sharia.
Em Londres e em Dubai, a RiverCrossing Capital Partners, uma empresa islâmica de investimento alternativo, foi constituída em abril com um fundo de US$ 125 milhões investindo no mercado imobiliário dos EUA.
“Não se sabe qual será a dimensão do mercado para eles fora dos bancos islâmicos”, disse Hussain. “Os depositantes terão que retirar dinheiro e colocá-lo nesses ativos. Tendemos a pensar que isso vai acontecer, mas ainda é muito cedo”.
Vacas gordas
O Brasil tinha uma população muçulmana de aproximadamente 35.000 pessoas no final de 2010, de acordo com os dados mais recentes do IBGE.
A maioria dos muçulmanos que mora na maior economia da América Latina se concentra nas regiões sul e sudeste do país, segundo o IBGE.
O novo fundo do Banco do Brasil será gerenciado no Brasil e comercializado por corretoras parceiras no Oriente Médio e na Ásia, disse Takahashi.
Até o fim de abril, o BB DTVM gerenciava R$ 512 bilhões (US$ 228 bilhões) em ativos, incluindo títulos e ações, de acordo com dados da Anbima (Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Se o fundo tiver sucesso, não será a primeira vez que o dinheiro islâmico do Oriente Médio chega ao Brasil.
A Abu Dhabi Equity Partners, butique de investimento registrada nas Ilhas Cayman, começou um programa de financiamento de US$ 25 milhões para engordar o gado dos fazendeiros de Goiás e São Paulo, disse o banco em janeiro.