As apostas contra as ações da BRF atingiram o maior nível em um mês (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2011 às 18h13.
São Paulo – Esta semana lembrou os investidores da Brasil Foods (BRFS3) que, sim, vale a pena considerar todos os riscos de avaliação de uma empresa antes de comprar as ações. O aviso estava lá, na maioria dos relatórios dos analistas de mercado após a publicação do resultado do primeiro trimestre, que veio acima do esperado.
- “O resultado deve ser positivo no curto prazo para empresa, mas o mercado ainda espera a decisão final do CADE com relação à fusão, o que poderia restringir as demais sinergias que trariam resultados benéficos para a companhia”, Ativa Corretora, 19 de maio.
- “Os riscos incluem: uma decisão mais restritiva ou de longo prazo do Cade; intensificação das exportações; restrições de negócios; e riscos sanitários”, Banco Santander, 16 de maio.
- “Resultados fortes, mas todos olhos estão sobre o Cade”, Itaú BBA, 15 de maio.
O fato é que o risco Cade se materializou e o relator do processo que analisa a fusão entre a Sadia e a Perdigão, Carlos Ragazzo, se mostrou contra a operação apontando diversos fatores negativos da união das duas companhias. Entre eles, o aumento dos preços dos produtos e a concentração excessiva em alguns segmentos, como o de margarina e carne In natura.
A reação no mercado foi instantânea os papéis recuaram 6,27% na quarta-feira (8). O sangramento da BRF na bolsa continuou na quinta-feira (9). As ações recuaram mais 3,21%. Nesta sexta-feira (10), os papéis até ensaiaram uma recuperação e chegaram a subir 3,1%, mas terminaram o dia em baixa de 0,24%, aos 25,25 reais. Foi o oitavo pregão consecutivo de baixa. Na semana, a queda foi de 10,2%.
Segundo dados compilados pela Bloomberg com números da CBLC, as apostas contra as ações da BRF atingiram o maior nível em um mês. O valor das ações da companhia em aluguel na bolsa aumentou para R$ 318,99 milhões ontem, o maior desde 28 de abril, quando a Rússia anunciou a proibição da importação de carnes do Brasil. A quantidade de papéis em aluguel mostra que os operadores aumentaram as apostas de que o preço vai cair
O que fazer?
Os analistas agora pedem cautela para os investidores que possuem os papéis da BRF. “Ainda é hora de pressão porque é um fogo cruzado até o dia 15, com muitos ruídos atuando sobre o papel e, por isso, não é a hora de entrar porque pode cair um pouco mais”, afirma Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research.
O analista da SLW Corretora, Cauê Pinheiro, acredita que o teor das declarações do relator do caso foi bastante negativo, o que indica a possibilidade de uma reprovação total do negócio. “Caso isso ocorra, a Cia deve recorrer à justiça e as ações podem mudar de patamar de negociação. Portanto, estamos recomendando ficar de fora do papel enquanto não conhecermos a decisão final do Cade”, diz.
Apesar disso, há quem veja uma oportunidade na recente queda dos papéis. Para o analista da Fator, Renato Prado, o atual patamar das ações da Brasil Foods sugere que o mercado já considera a pior das hipóteses para a empresa, “com a venda dos ativos de Sadia e ainda avalia os ativos remanescentes de forma muito conservadora, além de não considerar qualquer tipo de sinergia”, explica. “Acho que a ação está até barata porque precisa dar tudo errado. Já vale entrar no papel”, disse em entrevista para EXAME.com.
A estratégia da BRF
Os executivos da Brasil Foods agora tentam montar uma estratégia de negociação com o Cade para tentar evitar um desfecho que leve à exigência da venda das operações da Sadia ou da Perdigão. Segundo entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo, nesta sexta-feira, José Antônio do Prado Fay, presidente da Brasil Foods (BRF), afirmou que vai trabalhar para mudar a imagem inflexível que pode ter deixado no Cade.
“Não estou afirmando que descarto ou não descarto (vender as marcas). Estou dizendo é: eu não quero”, disse Fay ao jornal. Uma fonte disse hoje à Reuters que a administração do frigorífico tentará convencer o órgão que, além de a empresa não concentrar tanto o mercado quanto o relator indicou, evitou um social maior, que seria a quebra da Sadia.
Em 2008, operações com derivativos cambiais exóticos quase levaram a empresa à falência. A Sadia registrou um prejuízo de 2,5 bilhões de reais no ano, o maior da sua história e iniciou conversas com a Perdigão. A fusão foi anunciada em maio de 2009.