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Da Redação
Publicado em 29 de setembro de 2011 às 09h07.
São Paulo - A BM&FBovespa SA vai começar a operar uma plataforma de negociação de títulos de renda fixa em meados do ano que vem, disseram executivos da companhia, incluindo o presidente, Edemir Pinto, em entrevista em Nova York.
“A gente está trabalhando pra criar ferramentas de negociação, registro, garantias”, disse Marcelo Maziero, diretor executivo de produtos e clientes. “Estamos acelerando o lado de crédito e renda fixa para fazer com que fique no mesmo nível que é hoje o de ações para a bolsa.”
O Brasil deixou de ser visto como um “porto seguro” pelos investidores estrangeiros depois das intervenções do governo na economia durante o último ano, disse Pinto.
O Banco Central elevou os juros cinco vezes seguidas antes de surpreender os analistas, cortando a taxa em meio ponto para 12 por cento em 31 de agosto, citando uma “substancial deterioração” da economia global.
Em 27 de julho, o governo impôs a cobrança de 1 por cento de Imposto sobre Operações Financeiras em algumas operações de derivativos de câmbio, depois que o real atingiu seu patamar mais elevado em 12 anos em relação ao dólar. A medida somou-se à decisão tomada no fim do ano passado de triplicar para 6 por cento o IOF cobrado sobre investimentos em renda fixa por estrangeiros. O real perdeu 16 por cento do seu valor em relação ao dólar desde 27 de julho até ontem.
“A intervenção do governo é muito ruim para os mercados,” disse Pinto. “No passado, você tinha o Brasil como o único porto seguro para os investidores estrangeiros, agora você não tem mais”.
Operações de alta frequência
A BM&FBovespa também pretende acelerar a sua capacidade de processamento de ordens, para promover operações de alta frequência para derivativos e ações. A velocidade deve passar de 15 milisegundos agora para 1,1 milisegundo em meados do ano que vem, disse Cícero Vieira, director executivo da companhia.
Operações de alta frequência referem-se a qualquer estratégia que envolva executar ordens em frações de segundos.
“A chegada da alta frequência no Brasil vai ser uma questão natural,” disse Pinto. “Temos de estruturar todo o sistema de controle dele com as regras daquela bolsa, as condições daquele mercado.”
As ações da BM&FBovespa tiveram queda de 2,5 por cento ontem, para R$ 8,87. Os papéis acumulam baixa de 32 por cento este ano em meio a receios sobre o impacto da maior regulação dos mercados sobre os seus negócios, disse Pinto.
Aberturas de capital
As aberturas de capital não retomarão força total até que a crise de dívida soberana da Grécia seja resolvida e diminua a volatilidade dos mercados, disse o diretor financeiro da BM&FBovespa, Eduardo Guardia, na mesma entrevista.
“As perspectivas no Brasil continuam sendo positivas mas nós somos muito dependentes do fluxo externo para viabilizar os IPOs e para formação de precos”, disse Guardia. “Na medida em que você tem uma situação de instabilidade nos mercados desenvolvidos, Europa e Estados Unidos, saque de fundos e não tem um apetite do investidor por risco, o cenário para o IPO é muito mais difícil e a empresa, se pode adiar, adia o plano de ir a mercado.”
Guardia reiterou a previsão da bolsa de ter mais 200 empresas de capital aberto no Brasil até o final de 2014.
A BM&FBovespa está conversando com a Mila, plataforma que combina as operações com ações da Colômbia, Chile e Peru, para ajudá-las a desenvolver-se e, eventualmente, unir-se à primeira bolsa integrada da América Latina, disse Pinto.
“A gente está falando com eles há algum tempo,” disse Pinto. “A ideia é ajudá-los a desenvolver os mercados locais levando tecnologia e expertise.”
A BM&FBovespa e a chinesa Shenzen Stock Exchange assinaram um acordo no mês passado para o intercâmbio de informações, pessoal e treinamento, como parte das iniciativas da bolsa brasileira para trazer mais empresas de pequeno e médio porte para o mercado de capitais.