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Rali da bolsa continua em abril? Veja como investir no mês que começa

Cenário ainda turbulento no exterior favorece mercado brasileiro em ações e câmbio; renda fixa segue atrativa. Veja as recomendações de analistas

Primeiro trimestre de 2022 foi marcado por ganhos em ativos tanto de renda variável como de renda fixa no mercado doméstico (Witthaya Prasongsin/Getty Images)

Primeiro trimestre de 2022 foi marcado por ganhos em ativos tanto de renda variável como de renda fixa no mercado doméstico (Witthaya Prasongsin/Getty Images)

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Beatriz Quesada

Publicado em 4 de abril de 2022 às 06h45.

A bolsa brasileira tem surfado na onda do capital estrangeiro desde o início do ano – já são mais de R$ 60 bilhões de investimento externo na B3 em 2022. Porém os bons ventos devem continuar soprando por aqui? Para analistas, a resposta é sim. Mesmo com um cenário incerto no exterior – que conta com os efeitos da guerra da Rússia e o início do aperto monetária nos Estados Unidos e na Europa –, o Brasil ainda tem boas chances de sair ganhando.

Tanto a guerra quanto a inflação global aumentam de forma indireta o interesse dos investidores por ações de empresas de commodities, que são o carro-chefe da bolsa brasileira, em meio a um movimento global de rotação de papeis de crescimento -- como as de tecnologia -- pelos de valor. O conflito iniciado pela Rússia também reforça o protagonismo da bolsa brasileira entre os emergentes, atraindo ainda mais dólares para os papéis locais.

“O movimento de alta deve continuar. É possível, no entanto, que a inflação nos Estados Unidos leve a alguma desaceleração econômica, impactando negativamente os mercados. Mas isso não deve acontecer em abril", avaliou Bruno Musa, economista e sócio da Acqua Vero Investimentos.

Segundo ele, como a bolsa brasileira vem de uma grande desvalorização no último ano, de 11,92%, isso deve abrir espaço para o Ibovespa subir mesmo com um cenário de recessão no exterior. 

Outro ponto que favorece o mercado brasileiro é o fato de que o Banco Central saiu à frente de seus pares no aperto monetário. Desde março de 2021, o BC vem elevando a Selic em ritmo acelerado: a taxa subiu de 2% para 11,75% ao ano. Com a sinalização de que o ciclo de alta está perto do fim e deve terminar já em maio, as ações de empresas mais dependentes da atividade doméstica encontram espaço para se recuperar em parte.

Os impactos do aperto monetário adiantado no Brasil, contudo, vão além da bolsa. No câmbio, o real é a moeda com melhor desempenho frente ao dólar no ano e alguns analistas enxergam espaço para novas quedas da divisa americana. E, na renda fixa, as taxas continuam atrativas mesmo com a Selic perto de encerrar sua trajetória de alta.

Veja abaixo onde investir para aproveitar o cenário:

Oportunidades na bolsa

Até o momento, as ações que mais se beneficiaram em 2022 foram as blue chips, companhias tradicionais com capitalização de mercado mais elevada e forte capacidade de geração de caixa. As maiores representantes brasileiras são as ações de bancos, além dos papéis de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3/PETR4).

Segundo cálculos do BTG Pactual (BPAC11), os setores financeiro, de metais e mineração e de petróleo e gás foram responsáveis por 80% da alta acumulada do Ibovespa no ano de 2022. No período, o índice subiu quase 16%.

A expectativa de analistas é que os segmentos continuem registrando novos ganhos. “Ainda existe muito fluxo estrangeiro que pode vir ao Brasil, favorecendo ações mais líquidas como as de bancos e papéis relacionados a commodities”, avaliou Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos.

A mineradora Vale, a propósito, lidera as recomendações de investimentos para abril segundo levantamento da EXAME Invest, seguida por Petrobras (PETR4), Itaú Unibanco (ITUB4), Suzano (SUZB3) e Weg (WEGE3).

Simultaneamente, é esperada uma recuperação de empresas com foco no mercado local. São companhias que estão sofrendo com o aumento dos juros nos últimos meses – que prejudicam o consumo –, mas cujas ações podem voltar a subir com o encerramento do ciclo de alta da Selic. Foi possível observar o início desse movimento no mês de março, quando as maiores altas foram de ações como CVC (CVCB3), Cogna (COGN3) e JHSF (JHSF3).

“O setor doméstico ficou muito barato em comparação à capacidade das empresas de gerar valor. Não é tudo que vale a pena, é preciso olhar caso a caso. Mas, obviamente, os preços estão descontados”, afirmou Ciro Aliperti Neto, fundador e diretor de investimentos da gestora SFA. A casa tem como principais posições os papéis de Sinqia (SQIA3) e Porto Seguro (PSSA3), além de bancos e varejistas de moda.

Dólar a R$ 4,50?

O forte ingresso de capital estrangeiro no mercado doméstico tem impactado também o câmbio. O dólar comercial já caiu 16,29% contra o real em 2022 e foi negociado na última sexta-feira, dia 4, a R$ 4,66, seu menor valor em mais de dois anos.

Para João Maurício Rosal, economista-chefe da corretora Terra Investimentos, a apreciação do real é impulsionada pela alta nos preços das commodities e também pelo fato de o Brasil estar bem adiantado no ciclo de aperto monetário em comparação com economias desenvolvidas.

Apesar da alta já expressiva da moeda brasileira, Rosal acredita que o dólar tem potencial para recuar ainda mais, para a casa de R$ 4,50. “Em termos históricos, o real ainda está extremamente desvalorizado. Esse é um fator estrutural que vai continuar favorecendo a moeda no longo prazo”, disse.

Existe, porém, a possibilidade de "acomodação" dos dois vetores que estão derrubando as cotações do dólar: a alta tanto das commodities como da Selic.

“No caso das commodities, uma eventual diminuição do conflito no Leste Europeu [a guerra da Rússia contra a Ucrânia] pode distensionar os materiais básicos, e, no caso dos juros locais, podemos ver o fim do ciclo de aperto já em maio”, afirmou André Perfeito, economista da corretora Necton Investimentos. Isso fez com que a casa mantenha a projeção de dólar a 5,00 reais ao fim de 2022, mesmo com a moeda perto de romper a marca de 4,50 reais.

Renda fixa segue atrativa

Na renda fixa, o próximo passo aguardado por investidores acontecerá no começo de maio, quando acontece a reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Segundo sinalização recente de Roberto Campos Neto, presidente do BC, o encontro deve marcar a última alta da Selic no atual ciclo de aperto monetário, fazendo com que a taxa atinja seu pico em 12,75% ao ano.

Parte dos analistas e dos economistas de mercado, no entanto, acredita que a inflação ainda em trajetória ascendente obrigará o Banco Central a subir a taxa um pouco mais. Segundo a mediana das projeções de economistas compilada pelo boletim Focus, a Selic estará em 13% ao ano ao fim de 2022, caindo para 9% ao ano no fim de 2023.

“É uma taxa estruturalmente alta, em que a renda fixa se mantém muito atrativa. Nossa recomendação é apostar em títulos pré-fixados indexados ao CDI em todos os tipos de prazo, especialmente nos títulos de duração mais curta”, apontou Odilon Costa, diretor de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual. 

Outra recomendação do banco são os títulos indexados à inflação, com duração de até cinco anos. “Estruturalmente ainda faz sentido buscar inflação. São títulos com volatilidade no curto prazo, mas, para quem quer carregar papel com uma taxa atrativa, faz sentido buscar prazos curtos ou intermediários”, disse. Já os pré-fixados devem ser comprados apenas para posições táticas em títulos de duração curta.

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