Ibovespa: estrangeiros retiram R$ 24,2 bi da bolsa em 2024 (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 3 de janeiro de 2025 às 14h50.
O cenário de investimentos no Brasil segue pressionado e o reflexo dos temores do mercado foi o primeiro saldo negativo de saída de capital estrangeiro em três anos. Os investidores de outros países retiraram R$ 24,2 bilhões em 2024, segundo a consultoria Elos Ayta.
A última saída líquida negativa (compras menos vendas) foi em 2019, quando os estrangeiros retiraram R$ 6,5 bilhões da B3. Essa é a terceira vez que sai mais recursos do que entra em nove anos e o pior desempenho registrado desde 2016.
Segundo o estudo da consultoria, os estrangeiros saíram da B3 em três ocasiões: 2018, 2019 e 2024 nesse período. Em contraste, o ano de 2022 marcou o melhor desempenho, com uma entrada líquida de impressionantes R$ 119,79 bilhões. Entre 2021 e 2023, a B3 atraiu R$ 217,2 bilhões em aportes estrangeiros.
A fuga de capital foi um dos motivos para o salto de 27,3% do dólar em 2024, além da queda de 10,34% do Ibovespa. E o motivo é bastante conhecido: há uma aversão a risco generalizada com o mercado local, tanto por parte dos investidores brasileiros, quanto os estrangeiros.
Esse movimento, por sua vez, é reflexo da perda de credibilidade do Governo em relação à condução do fiscal. Após alterar as metas de endividamento em abril, fato que relativo o arcabouço, o Governo tentou contornar os temores que surgiram com um pacote de corte de gastos.
Entretanto, as medidas mais decepcionaram do que agradaram, principalmente sob a ótica de dois aspectos. O primeiro, foi a falta de transparência da equipe econômica, sobre como os cálculos chegaram a R$ 70 bilhões de economia – fato contestado por diversas casas que calculam uma realidade bem menor, em torno de R$ 40 a R$ 50 bilhões.
Já o segundo foi o anúncio da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000. A frustração ocorreu em relação ao momento escolhido para anunciar uma renúncia fiscal, quando o mercado esperava corte e controle de gastos para controlar a dívida pública.
“A saída de recursos em 2024 evidencia desafios estruturais e conjunturais, como a percepção de risco associado ao ambiente político e econômico no Brasil, além de movimentos globais de aversão ao risco”, pontua o fundador da Elos Ayta, Einar Rivero.
O fluxo de recursos estrangeiros é também um termômetro da atratividade do mercado brasileiro no contexto internacional e, de acordo com o especialista, momentos de saídas recordes, como as de 2024, podem refletir um cenário de incertezas que afetam a percepção de investidores externos.