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Bolsa dobra o número de investidores em 2020 e vê maior diversificação

Em plena pandemia, número de contas cadastradas na B3 foi de 1,6 milhão em 2019 para 3,17 milhões em 2020; B3 vê investidor mais resiliente e diversificado

A sede da bolsa brasileira, a B3: nova plataforma para negociação de títulos privados (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

A sede da bolsa brasileira, a B3: nova plataforma para negociação de títulos privados (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 14h01.

Última atualização em 14 de dezembro de 2020 às 19h16.

O número de pessoas que investem em renda variável, como ações e fundos de investimento imobiliário, quase dobrou em plena pandemia do coronavírus. De acordo com dados divulgados pela B3 (Brasil Bolsa Balcão), havia 3,17 milhões de contas cadastradas na bolsa em novembro de 2020, frente a 1,6 milhão em 2019. Os investidores que chegaram recentemente ao mercado não só passaram pela fase mais conturbada da bolsa dos últimos anos, como também mostraram ter mais informações para lidar com os altos e baixos das aplicações.

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"A grande dúvida era de como ficariam os investidores se tivéssemos outro soluço no mercado. Será que haveria uma saída volumosa de pessoas? Os dados mostram que não, pois aos investidores que estão chegando à bolsa estão muito mais informadas", diz Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Pessoas Físicas da B3.

Os dados mencionados fazem parte de uma nova pesquisa feita pela administradora da bolsa para entender o perfil, o comportamento e os objetivos de quem investe nas aplicações de renda fixa e variável negociadas pela B3. A pesquisa ouviu 1.300 pessoas entre abril de 2019 e abril de 2020. A conclusão obtida pelo estudo é de que o investidor aproveitou a crise causada pela pandemia do coronavírus para diversificar a carteira, e que está mais resiliente às variações típicas do mercado.

CPFs na bolsa

O valor total de 3,17 milhões de contas refere-se tanto a investidores pessoa física quanto institucionais. Quando considerados somente os números de CPFs cadastrados, a bolsa tinha 2,34 milhões de investidores em novembro de 2020. Um ano antes, esse número era de 1,22 milhão. Esse dado exclui os investidores institucionais e unifica o registro duplicado de investidores que eventualmente tenham conta em mais de uma corretora, por exemplo.

Perfil do investidor

A idade média dos novos investidores é de 32 anos. A maioria (51%) vive no Sudeste e ganha até 5.000 reais por mês (56% do total). Os homens ainda são maioria entre os que estão chegando na bolsa: eles representam 74% do total. Apesar de serem minoria, as mulheres vêm ganhando terreno no mercado. O número de investidoras saltou de 179.392 em 2018 para 809.533 em 2020, e a participação delas no todo foi de 22% para 25%. Ainda é pouco, mas isso mostra que a inclusão de mulheres na bolsa de valores está acompanhando o próprio crescimento do mercado.

Perguntados sobre os motivos que estimularam o primeiro investimento na bolsa, a principal resposta dos investidores foi o aprendizado. 38% dos entrevistados disseram que embarcaram no mercado para aprender e aplicar em outras modalidades de investimento, 33% disseram buscar produtos com maior rentabilidade, 11% citaram a baixa remuneração da poupança e a queda de juros, 9% falaram em ampliar a carteira de investimentos e 9% citaram outros motivos.

"O fato de as pessoas estarem usando os investimentos para aprender foi uma surpresa positiva. A motivação para a entrada na bolsa não é só o cenário de Selic baixa", conta Paiva, da B3.

A diversificação veio para ficar?

Mais informado, o investidor conheceu outros produtos. Em 2016, 76% dos investidores aplicavam somente em ações. Em 2020, esse número caiu para 50%, com um aumento significativo de participação de aplicações em FIIs. Os fundos eram opção de 11% dos investidores em 2016 e saltaram para 33% em 2020.

A ampliação dos horizontes resultou na diversificação das carteiras. Ainda de acordo com a B3, 74% dos pequenos investidores (aqueles que têm um patrimônio inferior a 10.000 reais) já têm aplicações em, pelo menos, dois produtos diferentes. Ainda nessa faixa de patrimônio, 30% dizem investir em cinco ou mais produtos.

A B3 atribui o avanço da diversificação ao maior volume de informações disponíveis ao investidor. A internet, as plataformas online e os influenciadores digitais são tanto os primeiros canais de contato dos brasileiros com o mercado financeiro quanto as principais fontes de informação para quem já é investidor. "A turma que está chegando é mais jovem e está vivenciando a mudança digital. É natural que as fontes que falam sobre investimentos na internet sejam o principal canal de contato", diz Paiva, da B3.

Apesar de todos os avanços, quando considerados os 9,3 milhões de investidores englobados no universo da B3, a imensa maioria ainda aplica somente em renda fixa. Dois terços do total ainda mantém dinheiro alocado exclusivamente em aplicações conservadoras, como Tesouro Direto, CDBs e outros títulos de rendimento fixo. Trazer esses investidores para o universo da renda variável tem sido o grande desafio para a B3.

De onde vem os recursos do novo investidor?

Outro aspecto da diversificação exibido pela pesquisa foi a movimentação da carteira do investidor. A maioria dos que entraram na renda variável fez isso com recursos novos: ou seja, não foi necessário resgatar outra aplicação para começar a investir na bolsa. Entre os 43% que disseram ter resgatado outro investimento, quase metade tiraram dinheiro da poupança, cujo rendimento, vale lembrar, está perdendo até mesmo para a inflação.

A B3 acredita que por estar mais informado e diversificado, o investidor não "pula fora do barco" diante do primeiro susto. "As mais de 1,3 milhão de pessoas que entraram na bolsa pela primeira vez em 2020 têm uma permanência maior do que as que ingressaram em anos anteriores", conta o diretor da B3.

Perguntados sobre o que os faria resgatar as aplicações e sair da bolsa, a maioria dos investidores (64%) nomeou a necessidade por dinheiro. A queda na rentabilidade dos ativos foi o segundo motivo elencado, com 28% das respostas. De acordo com Paiva, isso combate a ideia de que o novo investidor deve se afugentar diante de qualquer solavanco nas cotações.

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