O presidente do BCE, Mario Draghi (Arne Dedert/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de março de 2015 às 10h11.
Frankfurt - O Banco Central Europeu (BCE) começa amanhã, segunda-feira, a comprar títulos da dívida pública da zona do euro no mercado secundário, programa cujo anúncio já levou a cotação do euro para menos de US$ 1,10 e pode agora depreciar a moeda europeia ainda mais.
Deste modo será mais fácil para empresas exportadoras europeias vender na América e na Ásia.
O presidente do BCE, Mario Draghi, lembrou na quinta-feira que o volume de compra de dívida pública e privada passa dos 60 bilhões de euros por mês até, pelo menos, final de setembro de 2016, mas que esse prazo pode ser prolongado se a inflação não chegar aos 2%.
Desse volume 40 bilhões de euros corresponderão a bônus soberanos, quatro bilhões a bônus de agências públicas, seis bilhões em bônus emitidos por instituições europeias e 10 bilhões de euros de bônus garantidos e bônus de títulos, segundo cálculos de Commerzbank.
O BCE poderá comprar dívida emitida por instituições como o Banco de Desenvolvimento Europeu, a Comunidade Europeia de Energia Atômica, o Fundo Europeu para a Estabilidade Financeira, o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE), o Banco Europeu de Investimentos e a União Europeia.
Além disso, o BCE comprará dívida do Instituto de Crédito Oficial (ICO) e de outras agências como a francesa Caisse d'amortissement da dette sociale (CADES) e o banco alemão Kreditanstalt fuer Wiederaufbau (KfW).
'É verdade que os bônus soberanos, em particular de países do centro (da Europa), em breve serão poucos porque os bancos nacionais e as seguradoras, assim como os bancos centrais estrangeiros, têm pouco incentivo para vender ao BCE', considerou o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer.
O BCE comprará bônus soberanos com grau de investimento e vencimento de entre dois e 30 anos.
Draghi disse em Nicósia que o BCE comprará a metade dos bônus públicos da zona do euro fora da área.
O BCE comprará bônus com uma rentabilidade negativa máxima de -0,2%, porcentagem atual das taxas de juros de depósito.
Os efeitos de escassez induzidos pela compra de bônus do BCE e a caça por rentabilidade deveria levar as rentabilidades da periferia e os diferenciais a novos mínimos pós-crise, mas a rentabilidade do Bund (bônus alemão de 10 ou 30 anos) deve apresentar inicialmente movimentos laterais, segundo Krämer.
A desvalorização do euro contribuirá para impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha em 2015, principalmente pela desvalorização do euro.
O Commerzbank e o Instituto de Pesquisa Econômica alemão (Ifo) concordaram que o canal de transmissão das compras de dívida contribuirão para impulsionar o crescimento e a desvalorização do euro.
No entanto, o banco italiano UniCredit assinalou que 'o impacto econômico acontecerá pela via das taxas de juros de empréstimo mais baixas e um maior acesso de crédito ao setor privado', como já funciona o mecanismo de transmissão da política monetária nos dois maiores países periféricos, Itália e Espanha.
'Achamos que existe uma probabilidade não desdenhável de que o BCE se veja forçado a ampliar o programa de compra de bônus', acrescentou Krämer, que revisou para cima suas previsões de crescimento para a Alemanha em 0,3, até 1,8%.
No entanto, a UniCredit disse que as previsões econômicas do BCE concebem uma volta à estabilidade de preços em 2017, por isso o cenário mais provável é que o programa de expansão quantitativo termine em setembro de 2016.
'A economia alemã, em boa forma, se beneficia mais da desvalorização do euro e da queda dos preços do petróleo que muitos outros países da zona do euro', destacou o economista-chefe do Commerzbank.
O euro continuará sofrendo por causa do programa de expansão quantitativa, mas o DAX-30 poderia se beneficiar quando o BCE começar a comprar bônus pela ausência de alternativas de investimento, e considerando que a média de rentabilidade do dividendo do índice é de 2,8 %, superior à rentabilidade dos bônus soberanos e corporativos.
O Commerzbank prevê que o DAX-30 termine o ano em 11.800 pontos, 20% a mais que no final de 2014. EFE