Banco Central: desde 23 de agosto, a autoridade monetária vem promovendo leilões diários de swap cambial de segunda a quinta-feira no valor de US$ 500 milhões (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2013 às 09h58.
São Paulo - Diante de uma eventual pressão sobre o câmbio no próximo ano, mais precisamente por volta de março ou abril, por causa de um possível início do tapering (redução dos estímulos à economia local por parte do Federal Reseve, o banco central norte-americano, na forma de injeção de dólares via compra de títulos públicos) nos Estados Unidos, o Banco Central (BC) brasileiro poderia retomar o programa de leilões de swaps cambiais e de linha, disse em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Carlos Braga, ex-diretor de Relações Exteriores do Banco Mundial na Europa e professor de Política Econômica Internacional do IMD (International Institute for Management Development), de Lausanne, Suíça.
Para ele, a situação atual do câmbio afasta a necessidade de o BC estender a programação de leilões para o próximo ano. "Se a situação permanecer como está, não haveria necessidade da extensão. Mas, se como se espera, lá por março ou abril, tiver o tapering e novas pressões, eu diria que um dos instrumentos que o BC deveria utilizar de novo é este", disse Braga.
"Não vai resolver o problema, mas vai acalmar o mercado. É um instrumento que outros países não têm", afirmou o professor do IMD.
Desde 23 de agosto, a autoridade monetária vem promovendo leilões diários de swap cambial de segunda a quinta-feira no valor de US$ 500 milhões e leilões de linha no valor de US$ 1 bilhão às sextas-feiras. O objetivo do BC foi dar liquidez e previsibilidade ao mercado cambial num momento em que o dólar estava se valorizando acima do desejável em relação ao real.
Recentemente, ganhou força a discussão, puxada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, também em entrevista exclusiva ao Broadcast, em torno de uma eventual necessidade de estes leilões serem estendidos para o ano que vem, além do prazo previsto para acabarem, que é 31 de dezembro.
De acordo com Braga, a decisão do BC de dar liquidez ao mercado cambial foi bem sucedida em relação ao objetivo da autoridade monetária de acalmar o mercado.
"Eu diria que adotar leilões de swaps cambiais e de linha foi uma política bem sucedida para acalmar o mercado", disse o professor. Mesmo porque, de acordo com ele, o Brasil é um país que acumulou reservas da ordem de US$ 370 bilhões, que estão acima do nível ótimo. "Quer dizer, o BC comprou um seguro acima do necessário para evitar crises da dívida externa."
Segundo Braga, se existe um risco que não pesa sobre o Brasil é o de um perigo de uma crise da dívida externa.
"O Brasil tem uma relação, vamos dizer, reservas versus importações da ordem de 20 vezes o que a gente importa por mês, quando a maioria dos economistas diria que um número de seis vezes o das importações mensais seria um nível seguro. Quer dizer, o Brasil está 'over' segurado", explicou o professor do IMD.
"Nesse sentido, eu acho que o BC tem espaço para utilizar este tipo de intervenção (de leilões cambiais) para acalmar o mercado caso a situação evolua do jeito que a gente espera, que é em algum momento de 2014 o Fed iniciar a redução de compras de títulos para estimular a economia americana. Atualmente o Fed despeja mensalmente no mercado US$ 85 bilhões na recompra de títulos do Tesouro em posse das instituições financeiras.