Decisão pode ter sido o atestado de que o BC continuará a andar na contramão das decisões da Fazenda, afirma o economista (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 12h17.
São Paulo – A primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) comandada pelo novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não foi surpreendente. Com o amplamente esperado pelo mercado de juros futuros, o BC elevou a taxa Selic em 50 pontos-base, elevando-a para 11,25% ao ano. A preocupação vem com o aumento das expectativas para a inflação medida pelo IPC-A para 2011.
Segundo o último relatório Focus do BC, que mede as expectativas de quase uma centena de economistas, a estimativa é de que o índice de preços encerre este ano em 5,42%. O mercado tem elevado as projeções para a inflação há seis semanas consecutivas. O diretor da Moody’s Analytics para América Latina, Alredo Coutiño, não vê essa decisão como eficiente para o controle da aceleração dos preços.
“O mercado estava apostando por tal elevação sob o argumento de uma deterioração da inflação causada por problemas de fornecimento (chuva e enchentes excessivas). Entretanto, a política monetária não tem nada a ver com tal inflação em raízes monetárias. A inflação no fim irá continuar a ser influenciada por esses fatores de oferta”, ressalta o economista em relatório.
“Com esta ação, o banco parece ter respondido mais às vontades do mercado do que à uma administração monetária consistente com a natureza da inflação. Os mercados estão felizes agora, mas a credibilidade pode ter sido arriscada, pois o banco parece acomodar às pressões do mercado”, provoca Coutiño. “Com esse movimento monetário, o BC parece ter sido contaminado pela pânico inflacionário do mercado”, ressalta.
Segundo o comunicado do BC, a decisão dá “início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas”. O mesmo relatório Focus mostra que a Selic pode encerrar o ano em um patamar de 12,25%, ou seja, mais 100 pontos-base de alta estariam nos planos da equipe de Tombini.
Para Coutiño, contudo, além de a alta não responder à aceleração dos preços, também contribui para a apreciação do real. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem implementado recentemente uma série de medidas de controle de capitais para conter a queda da moeda americana. É dele também a agora mundialmente famosa expressão “guerra cambial”, que segundo ele é travada pelos países que tentam sobrevalorizar artificialmente as moedas locais.
“A recente alta irá certamente agravar o fortalecimento da moeda, um problema que a autoridade fiscal está tentando evitar. Assim, parece que o Brasil irá começar a lidar mais uma vez com o tradicional conflito de interesses gerado por uma administração sem sincronia de políticas fiscal e monetária”, finaliza o economista da Moody’s Analytics.
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