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Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2011 às 14h02.
O tópico do momento, na visão de muitos participantes do mercado, parece ser o medo crescente de que o rali nas bolsas em todo o mundo esteja passando do limite, o que inevitavelmente levaria à explosão da bolha das ações nos próximos meses.
Se por um lado houve uma melhora significativa nos fundamentos da economia global neste ano, principalmente com o fim do temor de quebra de grandes instituições financeiras, por outro lado muitos analistas atribuem ao excesso de liquidez nos países emergentes o atual preço das ações nos países emergentes, que estão muito além do que poderia ser justificado por uma análise fundamentalista dos resultados financeiros das empresas.
Entretanto, para os analistas do banco britânico Barclays, a preocupação, embora não possa ser totalmente descartada, ainda é prematura e há possibilidade de ganhos adicionais em países como China e Brasil.
Em relatório intitulado "Rali nos Mercados Emergentes: Tendência de Alta, e não uma Bolha", os analistas explicam que a recuperação da economia e dos mercados foi sustentada, dentre outros fatores, por uma enxurrada de liquidez no sistema financeiro, em grande parte provida pelos governos. O excesso de liquidez, combinado ao momento vivido pelo mercado atualmente poderia resultar em instabilidade, mas "ainda não estamos próximos de ultrapassar o limite", diz o relatório do Barclays.
O principal argumento é justamente o fato de que o desempenho dos mercados ainda parece razoável e os preços teriam que subir muito para que as autoridades monetárias considerassem uma intervenção. "Em suma, as coisas teriam que ficar muito melhores antes de piorarem".
A China apresentou um crescimento significativo do consumo privado em agosto. As vendas no varejo aumentaram 15,4% na comparação com os números do mesmo mês em 2008. Os destaques foram os setores automobilístico e de produtos para a casa - impulsionado pelo momento efervescente do mercado imobiliário.
O Barclays estima ainda uma retomada no crescimento das exportações do país, após uma fase de desempenho muito abaixo do esperado no primeiro semestre do ano. Para os próximos três meses, a previsão é de um aumento em torno de 16%, contra os 9% observados de maio a julho. (Continua)
"Pequenos soluços"
A perspectiva de um forte crescimento para o Brasil nos próximos meses e em 2010 tem dado ao país uma vantagem sobre os demais países latino-americanos, uma vez que ele pode se beneficiar da capacidade de conduzir sua política fiscal de forma flexível, sem que isso acarrete em futuras restrições. Os analistas estimam que o país irá desfrutar de grande credibilidade no mercado mundial, embora "não seja possível descartar pequenos 'soluços' nos anúncios sobre a área fiscal".
O crescimento econômico combinado com uma baixa taxa de juros reais dá o pano de fundo ideal para que o país mantenha uma tendência de baixa da dívida pública em relação ao PIB ao mesmo tempo em que permite ao governo aumentar as despesas. Na opinião dos analistas, enquanto houver crescimento, ele compensará os "pequenos pecados ficais" que os governos locais possam cometer.
Este cenário é de fato providencial, já que as eleições presidenciais se aproximam, aumentando a probabilidade de resultados fiscais negativos nos próximos meses.
Quanto ao orçamento para 2010, ao contrário de países como o México, cujos números foram encarados com ceticismo pelo mercado, o anúncio brasileiro (no fim de agosto) foi recebido de forma benigna. De acordo com o Barclays, o mercado não tem se preocupado com a redução do superávit primário no Brasil devido à perspectiva de retomada do crescimento nos próximos meses. O banco espera uma contração de 0,7% para o PIB brasileiro neste ano, mas uma forte expansão de 4,3% em 2010. Entretanto, permanece o ceticismo dos economistas a respeito da meta do governo em alcançar um superávit de 3,3% do PIB primário em 2010. O consenso dos analistas é de que o superávit chegará a 2,5%.
"Para complicar as coisas, as eleições nos países latino-americanos estão marcadas para o que parece ser a metade do período de recuperação", diz o relatório do Barclays. "É claramente um período durante o qual parece pouco provável que a restrição fiscal ocupe o topo das agendas para estas economias".
Para os analistas, haverá uma grande barreira fiscal a ser transposta pelos governos que serão eleitos e um forte crescimento econômico será a chave para fazer com que isso aconteça facilmente. No Brasil, uma política fiscal flexível em 2010 pode significar, para o próximo presidente, a necessidade de, ao tomar posse, ajustar imediatamente suas contas se o crescimento econômico começar a cair.