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Banqueiro vê rali no mercado mesmo se Haddad ganhar eleições

Segundo o banqueiro, o petista é uma pessoa ponderada, mais aberto ao diálogo e um político experiente

Haddad: hoje, evidentemente, existe uma histeria contra o PT no meio empresarial e financeiro, disse Ricardo Lacerda (Rodolfo Buhrer/Reuters Brazil)

Haddad: hoje, evidentemente, existe uma histeria contra o PT no meio empresarial e financeiro, disse Ricardo Lacerda (Rodolfo Buhrer/Reuters Brazil)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 6 de outubro de 2018 às 08h01.

Última atualização em 6 de outubro de 2018 às 08h01.

(Bloomberg) -- Os mercados financeiros acabarão “abraçando" até mesmo o candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, se ele ganhar as eleições presidenciais, e a Bolsa de Valores pode ter uma alta de mais 10 porcento, segundo o banqueiro Ricardo Lacerda.

“Hoje, evidentemente, existe uma histeria contra o PT no meio empresarial e financeiro," disse Larcerda, fundador e presidente do BR Partners, uma butique de banco de investimento no país. “Mas em determinado momento você tem que viver e jogar o jogo com as cartas que estão na mesa."

Lacerda, que já dirigiu a área de banco de investimento no Brasil do Citigroup e do Goldman Sachs Group, disse que vê uma chance de 70 porcento de que Haddad e o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro cheguem ao segundo turno em 28 de outubro depois da votação inicial de domingo. Os mercados financeiros já estão mostrando otimismo desde meados do mês passado porque nem Haddad nem Bolsonaro “vão representar essa ruptura que se imaginou," apesar de não serem os preferidos do mercado, segundo Lacerda, que apóia o banqueiro João Amoêdo, o candidato do Novo Partido.

"Se você olhar para as taxas de juros, os mercados de ações ou de câmbio, esse rali de alívio já é muito claro, mesmo com algumas pesquisas mostrando Haddad como vencedor no segundo turno", disse Lacerda.

A última pesquisa de opinião do Ibope mostrou um impulso significativo do Bolsonaro, que subiu quatro pontos, para 31 porcento. Haddad ficou em segundo lugar, com 21 porcento. Amoêdo, o candidato apoiado por Lacerda, tinha 3 porcento. O Ibovespa na terça-feira teve a maior alta desde novembro de 2016 com os mercados passando a apostar que Haddad deve perder.

A moeda do Brasil poderia se fortalecer para R$ 3,80 por dólar, depois de atingir R$ 4,21 em 13 de setembro, disse Lacerda. O Ibovespa teria um potencial de alta de mais 10 porcento depois do avanço de mais de 8 porcento desde meados do mês passado.

Os mercados ainda estão apoiando Bolsonaro, Lacerda disse. Uma pesquisa informal feita pela Bloomberg no mês passado revelou que muitos banqueiros consideram a vitória de Haddad como o pior cenário para os mercados, porque seu partido apóia mais impostos para os ricos e para os bancos que não cortarem os juros cobrados nos empréstimos.

Mas Lacerda disse que, embora Haddad seja do mesmo partido que a ex-presidenta Dilma Rousseff - que sofreu impeachment em 2016 -, o candidato do PT é “uma pessoa ponderada, mais aberto ao diálogo e um político experiente”. Em São Paulo, Haddad “não fez uma má gestão" como prefeito e tomou várias medidas para limpar o orçamento da cidade, disse Lacerda. O PT, no entanto, é um partido "desgastado, responsável pelo caos econômico em que vivemos hoje no Brasil".

Como prefeito da maior cidade do país, Haddad manteve orçamentos equilibrados, adotou medidas impopulares de aumento de tarifas de ônibus e obteve o grau de investimento para São Paulo.

O PT, no entanto, representa mais intervenção do Estado na economia, disse Lacerda. “É preciso conter esse movimento estatista no Brasil e eu acho que o partido mais limpo, mais propositivo, mais objetivo que tem feito isso é o Partido Novo na figura do João Amoêdo," disse Lacerda.

Para o banqueiro, “o Estado brasileiro hoje é 40 porcento da economia, é de uma ineficiência que eu não preciso dizer aqui, todo mundo conhece, e continua crescendo, comendo toda a economia brasileira e todos aqueles que trabalham".

O banqueiro rejeita a pressão de partidários de Bolsonaro para que os eleitores do Novo Partido pratiquem o voto útil em Bolsonaro no primeiro turno para evitar um retorno do PT.

“Eu não vejo nenhuma possibilidade de votar útil e acho que esse bulling é muito deselegante e típico de quem está acostumado a posturas autoritárias," disse Lacerda.

Bolsonaro não tem “a experiência ou o equilíbrio emocional necessário a um presidente", Lacerda disse. Seu assessor econômico, Paulo Guedes, é “um economista brilhante, uma pessoa com uma visão muito lúcida, mas sem experiência nenhuma com execução."

Segundo Lacerda, Guedes “não é uma pessoa que participou de governos, ou que conduziu grandes corporações, e portanto não tem ideia dos desafios de costurar um acordo no Congresso, de implementar uma política econômica adequada." Algumas das propostas de Guedes são também “muito superficiais", segundo Lacerda.

Mas, se eleitos, nem Bolsonaro nem Haddad trariam uma ruptura institucional, disse Lacerda. “O PT governou o país por 13 anos, sofreu um processo de impeachment, e não representou nenhuma ameaça à democracia ou às suas instituições," disse ele. “Eu espero que Haddad governe com clareza, e então poderemos ter uma acomodação com o mercado," disse, acrescentando: “Espero que ele não faça as mesmas viradas de mesa como fez a Dilma."

A escolha de um ministro da Fazenda correto seria crucial para Haddad e poderia trazer alívio aos mercados, disse Lacerda, citando Marcos Lisboa, presidente da escola de economia e negócios Insper, e Henrique Meirelles, que ficou no cargo de maio de 2016 a abril último. Os dois já participaram de governos do PT.

Para Lacerda, a prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva - que chegou a ser lançado como candidato pelo PT e foi proibido de concorrer - foi justa, “não tenho dúvida de que não foi um processo de conotação política, inclusive porque muitos dos juízes que participaram da decisão foram nomeados pelo próprio PT." Ele disse, no entanto, que entende a desconfiança da população, “quando você olha que dentre todos os corruptos, só o Lula está preso."

Bolsonaro, “apesar das barbaridades que ele diz, de que vai fuzilar petistas ou que vai pagar menos para mulheres do que para homens," também não iria romper o processo democrático. “Não podemos esquecer que ele mesmo é parlamentar há quase 30 anos, é uma pessoa que vai precisar de apoio", disse Lacerda, acrescentando que “a ligação militar de Bolsonaro não representa qualquer risco de ruptura."

Lacerda, que deixou de ser filiado ao PSDB há dois anos, disse que o partido recebeu “o beijo da morte" no governo do presidente Michael Temer. “Eles jamais poderiam ter apoiado o governo Termer da forma como apoiaram, indicando pessoas que sabidamente tinham reputação muito questionável, mergulhando em um governo que já não era de saída legítimo, e que se deslegitimou ainda mais por meio da corrupção."

Geraldo Alckmin, candidato à presidência pelo PSDB, tem 8 porcento de intenção de voto, segundo o Ibope.

Apesar de seu otimismo com os mercado após as eleições, Lacerda está pessimista quanto às perspectivas de longo prazo da economia, em parte porque nem Bolsonaro nem Haddad terão o apoio necessário no Congresso para promover reformas duradouras. “Teremos mais da velha política de negociatas no Congresso," disse.

Para ele, é difícil cortar custos no Brasil e Bolsonaro ou o PT terão de acabar aumentando impostos. “A economia vai ter crescimento baixo, inflação média e juros altos."

As reformas necessárias para acabar com o déficit publico não serão feitas, ou serão reformas “muito pífias, talvez uma versão mutilada dessa reforma da Previdência que está tramitando no Congresso, incluindo pequenos aspectos como idade mínima," disse Lacerda, que aposta que o ajuste fiscal pode demorar até quinze anos para acontencer.

“Será a solução típica brasileira, de acomodação e de empurrar com a barriga."

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